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De acordo com Noveli (2010), muitos pesquisadores estão adaptando técnicas e métodos de pesquisa tradicionais para ambientes eletrônicos, sendo um desses métodos a etnografia. Segundo Hine (2000, apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008) a etnografia é a metodologia utilizada nos estudos da antropologia, que consiste em uma investigação onde há uma inserção em alguma comunidade e, conforme técnicas de observação, compreende-se as relações estabelecidas naquele contexto específico. Kozinets (2002) considera que a etnografia consiste no estudo dos significados, práticas e artefatos de determinados grupos sociais. Ambos concordam que, considerando a nova forma de se relacionar por meio da rede, também pode-se afirmar a existência e a possibilidade desse mesmo estudo nos grupos sociais da internet e que, sendo a etnografia uma prática aberta que necessita da reflexão do pesquisador, cabe a ele fazer as adaptações necessárias. Fragoso, Recuero e Amaral (2013) apontam que uma dessas adaptações passíveis de crítica é o fato da inexistência de um espaço físico na internet.

A pesquisadora e cientista inglesa Hine, criou o termo etnografia virtual, e defende a etnografia para estudos na internet e comunicação digital devido a abundância em conteúdos e informações (HINE, 2000 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2013). Kozinets (1997) no entanto, apresentou o termo netnografia, que consiste em uma etnografia direcionada aos ambientes virtuais, pois para ele, haveriam diferenças na fase da coleta de dados e na ética em pesquisa, já que é um método que não conta com a presença física de pessoas (KOZINETS, 2007, apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2013). Segundo Amaral, Natal e Viana (2008), a netnografia como uma vertente metodológica, começou a ser usada no final dos anos 80 com o surgimento de comunidades virtuais, porém, ainda são poucos os estudos que utilizam essa metodologia. Todavia, tem sido o método mais utilizado nesse campo de pesquisa (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008; BARTH; BRAGA, 2009; ABELHA et al. 2012; VICENTE, 2015). Para Noveli (2010), a netnografia se aproxima da etnografia por ter como foco o estudo de grupos e culturas on-line. Apesar da ligação entre os dois termos, é importante considerar que o termo netnografia não consiste em uma mera transposição da etnografia para o ambiente virtual. Isto porque a relação pesquisador-objeto e a noção de espaço são diferentes da etnografia (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008).

Para Kozinets (2002, 2006), a netnografia consiste na aplicação da etnografia, para culturas e comunidades que estão surgindo online, porém é mais rápida, simples, precisa e barata que a etnografia tradicional. Além disso, é mais discreta, já que permite ao pesquisador se inserir em um contexto para observar as interações regulares de uma comunidade, que não é nem criado nem dirigido pelo pesquisador, e que pode ser observado sem qualquer invasão de privacidade ou interferência. Segundo Kozinets (2006) a netnografia é composta pelas seguintes etapas: (1) investigar campo on-line e fazer uma entrada cultural, (2) coletar e analisar dados, (3) interpretação dos dados, (4) cuidados éticos, e (5) fornecer feedback. O autor ressalta que nas comunidades virtuais também existem regras e costumes, sendo assim, é muito importante a habilidade interpretativa do pesquisador e descrição detalhada das etapas e procedimentos realizados, já que cada pesquisa é única (KOZINETS, 2002, 2006).

De acordo com Kozinets (2002), a netnografia pode ser considerada como uma pesquisa de metodologia qualitativa, que objetiva não a generalização, mas um entendimento particularizado. Sendo assim, Kozinets (1997) defende que os dados netnográficos estão sujeitos às mesmas preocupações de validade que outros tipos de dados qualitativos. A netnografia possibilita uma profundidade imersiva sem a intenção de quantificar ou

generalizar resultados, buscando apenas uma maior compreensão do fenômeno. Além disso, da mesma forma que cada etnografia é única, a netnografia também segue essa regra, já que não é possível conduzir duas pesquisas exatamente da mesma maneira. (KOZINETS, 1998, 2002, 2006).

Barth e Braga (2009) ressaltam que, dentre as vantagens de se usar a netnografia, está a facilidade de busca e coleta de dados e a amplitude da coleta e do armazenamento. Zdradek e Beck (2017) defendem que existem lugares na rede virtual que permite que as pessoas narrem e compartilhem suas vivências, mantendo assim as mesmas premissas da etnografia de considerar a interação social, mas com novas percepções de tempo, espaço e ética. Silva (2015) afirma que, apesar de ter poucas regras definidas, a netnografia permite ao pesquisador mergulhar no ambiente virtual da mesma maneira que ocorre a imersão preconizada na etnografia nos ambientes físicos. Com relação a ausência de um espaço físico Sperotto e Margarites (2010) ressaltam que o virtual, nesse contexto, não significa antagônico ao real, pois faz parte da realidade e é um espaço de significado simbólico que representa uma nova forma de comunicação. Novelli (2010) também corrobora com essa afirmação, ao reiterar que o virtual e o on-line são de fato um novo tipo de espaço.

Fragoso, Recuero e Amaral (2013) defendem que a netnografia permite certa padronização dos procedimentos, porém, segundo Sperotto e Margarites (2010) a internet e o meio digital se encontram em constante desenvolvimento e transformação, e com isso é necessário que haja flexibilidade do método para se adequar a novas situações. É importante considerar as características temporais da internet que podem não ser estáveis para a realização de pesquisas, além da volatilidade de informações e como os dados podem ser deletados ou alterados. Uma possibilidade para lidar com essa questão é a adequação metodológica de realizar o download dos arquivos (HINE, 1994; SILVA, 2016).

Além disso, é importante considerar, como proposto por Fragoso, Recuero e Amaral (2013), que a internet, ao ser usada em várias disciplinas, passa a ser um campo em desenvolvimento, que exige, então, uma abordagem interdisciplinar. Minayo (2010) também afirma que o estudo das ciências sociais envolve diferentes áreas do conhecimento. E Marteleto (2001) que não existe uma única teoria de rede social, sendo que uma mesma teoria pode ser aplicada em vários contextos diferentes.

Os vídeos das Tentantes no Youtube indicam um movimento de expressão virtual e, por isso, serão necessárias técnicas de pesquisa específicas para esse contexto. No que se refere a pesquisas realizadas no Youtube, Silva (2016) ressalta tratar de um interessante

objeto de estudo, pois o número de usuários e a quantidade de conteúdo cresce diariamente, gerando questões, ainda não totalmente exploradas. Assim, a netnografia pode contribuir com o objeto de estudo que se ocupa essa pesquisa, ponderando-se que para alcançar o objetivo se faz necessária a utilização de várias teorias de diversas áreas, já que o problema de estudo se mostra como interdisciplinar.