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4.4 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

4.4.3 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é um importante elemento da responsabilidade civil, já que é tido como norte para indicar se há relação entre a conduta do agente e o resultado produzido. É através do nexo causal que se pode afirmar quem foi o responsável pelo efeito danoso, ou melhor, é por meio dele que se identifica de maneira incontroversa se há relação entre o dano e seu agente.

Posiciona-se no mesmo sentido do da jurisprudência, a qual indica que:

A imputação de responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva, supõe a presença de dois elementos de fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico-normativo, o nexo causal (que é lógico , porque consiste num elo referencial, numa relação de pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo , porque tem contornos e limites impostos pelo sistema de direito)280.

278 GOMES, Orlando. Op. cit., p.53.

279 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. cit., p.109.

280 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 719.738/RS. Relator: Ministro Teori

Albino Zavascki. Primeira Turma. Data da publicação: DJe 22 de setembro de 2008. Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/810165/recurso-especial-resp-719738-rs-2005-0012176- 7/inteiro-teor-12779223?ref=juris-tabs. Acesso em: 16 de julho de 2018.

Sucede que o nexo de causalidade pode ser analisado sob a vista de três distintas teorias: a teoria da equivalência de condições; teoria da causalidade adequada e teoria direta ou imediata.

A teoria da equivalência de condições, também conhecida como teoria da

conditio sine qua non, é adotada pelo Código Penal Brasileiro281, por força do que dispõe o seu artigo 13, e considera que qualquer acontecimento que tenha contribuído para a produção do prejuízo é sua causa determinante. As causas possuem o mesmo valor, razão pela qual se avalia se a inexistência de qualquer uma delas retiraria a existência do dano. Ocorre que se a exclusão de determinada situação faz desaparecer o dano, essa será apontada como a causa do prejuízo. Entretanto, se os prejuízos se mantêm, o indivíduo não deverá ser responsabilizado pelo resultado danoso, razão pela qual não precisará indenizar a vítima.

Concorda-se que esta teoria não é tão segura e que apresenta inconvenientes, haja vista que considera como causa todo e qualquer acontecimento anterior ao dano, fato que pode tornar a busca pelo nexo causa infinita e ilimitada. Por conta disto, o Direito Civil não abraçou esta teoria282.

A teoria da causalidade adequada, por sua vez, entende como causa o antecedente que não só é necessário, mas também adequado para produção do dano. A causa adequada, então, é aquela que se mostra mais conveniente a gerar o

281 Relação de causalidade (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Art. 13 - O resultado, de

que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Relevância da omissão (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). In: BRASIL. Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm. Acesso em 27 de junho de 2018.

prejuízo283, ou seja, é aquela que, abstratamente, e segundo uma determinada probabilidade, teria aptidão para efetivar o resultado danoso284.

A teoria acima mencionada possui como inconveniente o fato de que haveria uma elevada discricionariedade, haja vista a necessidade do julgador realizar um juízo de probabilidade, ou seja, de analisar o fato concreto e decidir se determinado acontecimento é ou não causa do resultado danoso285. O magistrado, portanto, analisa qual a ação que contribuiu de fato para a produção do dano.

A teoria da causalidade direta ou imediata, por fim, determina como causa apenas o fato antecedente que impusesse ao resultado danoso uma consequência direta e imediata, ou seja, que tivesse um vínculo necessário ao prejuízo. O agente, então, responde apenas pelos danos que resultarem direta imediatamente de sua conduta.

Sergio Cavelieri Filho entende que a teoria adotada pelo atual Código Civil de 2002, apesar das críticas, foi a teoria da causalidade adequada286. Pablo Gagliano Stolze e Rodolfo Pamplona Filho, por sua vez, entendem que a teoria que foi recepcionada foi a da causalidade direta e imediata287. A jurisprudência também não é unânime no que diz respeito à adoção de uma das teorias, haja vista que todas são utilizadas como justificativa para a reparação do dano sofrido pela vítima.

Discorda-se do posicionamento adotado por Sergio Cavalieri Filho. Acredita-se que deixar a cargo do magistrado analisar qual a causa mais adequada para produzir o resultado, possibilita que, devido à discricionariedade, arbitrariedades possam ser cometidas.

Alguns fatores podem romper com o nexo de causalidade e excluir a responsabilidade civil, tais como: a legítima defesa, o estado de necessidade, a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro e o caso fortuito ou força maior, os quais serão em breve analisados.

283 CARVALIERI FILHO, Sergio. Op. cit., p. 69.

284 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. cit., p.149. 285 Ibidem, p.150.

286 CARVALIERI FILHO, Sergio. Op. cit., p.70.

Cumpre agora ponderar sobre o elemento que está somente presente na responsabilidade civil subjetiva: a culpa.