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Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou

de mudar de religião ou de crenças.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções. (grifos nossos)

O Brasil comprometeu-se, portanto, a combater a intolerância religiosa, patrocinar o respeito ao exercício da liberdade religiosa, agasalhando materialmente todos os credos que estão sob a sua égide, especialmente as religiões minoritárias, tais como os cultos afro-brasileiros.

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Assim dispõe o art. 4º da Constituição Federal, in verbis: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:I - independência nacional; II - Prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos;IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino- americana de nações. (grifos nossos).

E na mesma linha intelectiva, o art. 5º, § 2º: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

1.3.2 A Vinculação dos Estados aos Tratados

Os Estados quando ratificam tratados96 relativos aos direitos humanos97

contraem obrigações convencionais e obrigações gerais de assegurar o respeito aos direitos nele consignados, o que implica medidas positivas provenientes dos Estados, de adequar o ordenamento jurídico interno às normas internacionais de tutela aos direitos humanos, seja mediante a harmonização entre legislação internacional e interna seja por meio da adoção de normas que possam tornar a legislação internacional efetiva.

A ratificação de um tratado de direitos humanos pelo Estado Ele o faz soberanamente contraindo as obrigações advindas de boa-fé. Obrigações de caráter não apenas executivo, adotando medidas que impeçam sua violação e se ocorrer punir os culpados e reparar as vitimas, como legislativo, adequação do arcabouço legislativo

96 A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969, estatui, em seu artigo 1º, que um tratado

significa “um acordo internacional celebrado entre Estados em forma escrita e regida pelo direito internacional, que conste, ou de um instrumento único ou de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação especifica.” Posteriormente, a Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados Entre Estados e Organizações Internacionais ou Entre Organizações Internacionais, de 1986, em seu artigo 2º., delineou o conceito de tratado como: “ um acordo internacional, regido pelo Direito Internacional e celebrado por escrito entre um ou mais Estados e uma ou mais organizações internacionais; ou entre organizações internacionais, quer este acordo conste de um único instrumento ou de dois ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja sua denominação especifica.”

97 A Constituição, em seu artigo 5º. Parágrafo 2º. Consagra a aplicação imediata das normas sobre direitos

e garantias fundamentais. Assim, uma vez ratificados devem ser reconhecidos e aplicados no plano interno. Neste mister, surge uma discussão acerca da prioridade das normas internacionais de proteção aos direitos humanos (supraconstitucional, constitucional ou infraconstitucional), e neste caso, legal, supralegal ou infralegal. Indo além, surge o debate acerca da prevalência da norma mais favorável em caso de conflito entre a legislação interna e internacional. As normas internacionais sobre direitos humanos, neste sentido, seriam um complemento ao próprio artigo 5º. Destarte, possuiriam a mesma hierarquia das normas constitucionais. Para o autor deve “ inexistir prevalência das normas convencionais relativas à direitos individuais sobre as normas constitucionais anteriores e mesmo legais posteriores, como já decidiu o Supremo Tribunal federal, inclusive em face dos tratados em geral, ao apreciar o RE n. 80.8004-SE.” (BAHIA, Saulo Casali. Tratados Internacionais no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 114).

O artigo 5º, par 3º, da Constituição Federal foi adicionado com a reforma constitucional n. 45 de 2004. A sugestão de incorporar por emenda constitucional o tratado internacional: “Em face dos demais dispositivos, desde que observado, para os tratados, o processo da emenda constitucional ou obtida a maioria absoluta de cada Casa do Congresso Nacional (no caso dos tratados descritos no sugerido § 3º), o

tratamento é paritário, garantindo-se a aplicação interna de suas disposições, que podem ter a aplicação afastada por emenda constitucional posterior.” (BAHIA, Saulo Casali. Tratados Internacionais no Direito

interno aos tratados internacionais, e judicial, efetivando os direitos no seio de um devido processo legal, em tempo razoável. 98

As obrigações vinculam os Estados-Partes, não apenas os seus governos, o que significa que a responsabilidade internacional de zelar pelos direitos humanos se transfere a governos sucessivos. Cabe a cada um dos Poderes executar na sua esfera de competência as disposições convencionais. O Poder Executivo deve tomar medidas administrativas e outras para fielmente cumprir essas obrigações. Ao Poder Legislativo incumbe a função de regulamentar os tratados de direitos humanos com vistas a conceder-lhes eficácia no plano interno. A aplicação efetiva das normas de tais tratados no plano interno e o seu respeito caberia ao Poder Judiciário.

1.3.3 A cláusula de não-discriminação.

A Declaração de Direitos Humanos e os diversos Tratados de Direitos Humanos contêm como basilar o princípio da igualdade, e a Declaração Universal dos Direitos do Homem integra uma cláusula de não discriminação fundada em opções religiosas. Revela-se importante transcrever referido dispositivo (art. 2º da DUDH), porque traduz verdadeira proibição de discriminação tendo como base critérios de natureza religiosa:

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que

98 LOUREIRO. Silvia Maria. Tratados internacionais sobre direitos humanos na Constituição. Belo

pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. (grifos nossos)

Conclui-se que a liberdade religiosa representa direito irretorquível num Estado Democrático de Direito, garantindo aos praticantes de quaisquer credos religiosos a manutenção do direito de exercerem proselitismo, organizarem-se institucionalmente, e, em última instância, reivindicarem proteção jurídica diante de ameaças a este direito singular.

2. INTOLERÂNCIA FRENTE ÀS RELIGIÕES DE