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Noção de intencionalidade (“consciência de”)

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1.1. Contribuições da fenomenologia

1.1.3. Noção de intencionalidade (“consciência de”)

Para Betti (2007) o princípio da intencionalidade corresponde a um movimento de exteriorização da consciência aos objetos, sendo a consciência uma consciência inserida no mundo da percepção, não algo independente do mundo, dos objetos e dos outros. Terra (2009) argumenta que existe uma conexão dependente entre a consciência e o mundo, pelo qual toda a consciência intencional é consciência aberta ao mundo, sempre consciência de alguma coisa, como, do mundo..., do ser..., da natureza.

Conforme Pires (2012), Husserl tinha um questionamento relativo à intencionalidade da consciência, contribuindo para uma reflexão na fenomenologia sobre a fundamentação do conhecimento. Segundo o autor, o objetivo da fenomenologia está sempre em contribuir com a análise das

experiências intencionais da consciência através da percepção e como esta atribui sentidos aos fenômenos. Husserl, portanto, apresentou a intencionalidade, como algo que contribui para a produção do conhecimento, relatando que a intencionalidade é a essência do conhecimento.

Portanto, para Husserl o conhecimento é gerado através de uma consciência intencional, que corresponde à consciência de algo, do objeto. Desse modo, entre a consciência e o objeto existe um movimento intencional entre os mesmos. "A palavra intencionalidade não significa outra coisa senão essa característica geral da consciência de ser consciência de alguma coisa, de implicar, na sua qualidade de cogito, o seu cogitatum em si mesmo" (HUSSERL, 1966. apud COELHO JUNIOR, 2002, p. 98-99).

Segundo Josgrilberg (2006), Husserl designou na fenomenologia dois tipos de intencionalidade. A primeira seria a intencionalidade de ato, correspondendo à vontade própria do ser em tomar sua decisão de forma voluntária, o que constitui uma compreensão do saber do objeto e o saber deste saber sobre o objeto. A segunda é a intencionalidade operante, correspondendo ao olhar sobre o objeto irrefletido, que nos é apresentado através dos nossos desejos.

Para Husserl um ponto importante que devemos salientar é que a consciência tem um halo que é inerente à essência da percepção do Ser, que, através da sua maneira de se voltar ao objeto, é o que corresponde à própria essência desse halo. É essa essência que tem a intenção de modificar o modo de olhar as coisas. Não estamos falando de uma mudança no olhar físico, mas no olhar do espírito (COELHO JUNIOR, 2002).

Ao falar dessa mudança de olhar, Husserl estaria relacionando a uma redução fenomenológica ou epoché (suspensão do juízo), que tem como finalidade colocar em suspensão todo o conhecimento que o Ser tem sobre os fenômenos que sejam postos em evidência pelo mesmo, sobre as coisas e o mundo.

Para Merleau-Ponty (1999), a noção de intencionalidade proporcionada pela fenomenologia contribuiu para uma fenomenologia do sentido, pois não tem nem palavras, nem gestos, mesmo involuntário, que, não sejam carregados de um sentido próprio, ou seja, de uma significação, já que esses significados são concretizados pela relação que o ser humano estabelece com

o mundo, através de suas experiências, que são construídas por meio da percepção, sensação e ação.

Com isso, o filósofo Merleau-Ponty, aprofundou as concepções husserlianas da consciência intencional e seus estudos acrescentaram a noção de uma consciência aberta ao mundo, que chamará de uma consciência perceptiva. Como podemos ver no trecho a seguir:

Na filosofia de Merleau-Ponty a consciência já não pode mais mesmo ser entendida como soberana ou constituinte, nem como uma consciência que pudesse ser "externa" ou "estrangeira" ao mundo vivido. Não é mais, portanto, uma consciência que a partir de representações, legisla sobre o mundo e a experiência sem mais levá-los em conta (COELHO JUNIOR, 2002, p.99).

Merleau-Ponty mostra que ao ficarmos apenas na compreensão da consciência intencional de Husserl, podemos cair no engano de pensar o mundo como uma simples representação, como na filosofia idealista4. Para ele, a consciência vai ser sempre uma consciência perceptiva, uma consciência que através da relação do corpo e o mundo, mantém-se ligada pela percepção, na forma com que esse corpo está inserido como ser-no-mundo, como existência, como exposto a seguir:

Merleau-Ponty procura mostrar, metodicamente, que a relação do homem com o mundo se dá sempre, inicialmente, pela percepção, por uma relação direta corpo-mundo. Não toco uma mão-ideia, uma pedra-ideia, um mundo-ideia, toco com meu corpo o mundo. Se posso me pensar como sujeito (e essa é ainda uma concessão de Merleau-Ponty a uma filosofia da consciência), só posso fazê-lo como corpo vivido, como corpo no mundo (COELHO JUNIOR, 2002, p.100).

O corpo, portanto, é nosso meio de comunicação com o mundo, sendo percebido por meio da consciência, como fenômeno, através dos órgãos dos sentidos, como, por exemplo, pelos receptores táteis, visuais, olfativos e

4

O idealismo é uma corrente filosófica que teve início na Grécia Antiga com Platão, chamado de idealismo transcendente, que reduz o conhecimento a uma mera representação ideal da realidade, ou seja, esse idealismo atribui que as ideias representam a realidade verdadeira, parecendo muito com o realismo defendido por Descartes. Essa filosofia tem duas orientações idealistas: a primeira é um idealismo psicológico, na qual o ser não apenas conhece as imagens, do modo que são representadas pela consciência as coisas, tendo como pensadores dessa vertente Hume, Locke e Berkeley; e a segunda é uma orientação idealista lógica, em que o ser apenas conhece as coisas por meio do pensamento (SILVEIRA, 2002).

auditivos. A esses fenômenos vivenciados pelo Ser são atribuídos sentidos pela consciência. Essa compreensão fenomenológica do mundo, em que os sentidos são estabelecidos pela percepção, pode possibilitar boas experiências nas pesquisas sobre percepção ambiental, em particular, de um grupo de pessoas de uma instituição escolar que tem por objetivo transformar o ambiente escolar em um lugar que reflita o meio ambiente e a sua participação como cidadão consciente, pois, como somos homens e mulheres encarnados no mundo, o ambiente é algo que desempenha um papel de importância na vida dos seres humanos. O ambiente da COM-VIDA, assim como fenômeno, torna-se um objeto que vai se revelando à consciência à medida que seus integrantes vão atribuindo sentidos.

1.1.4. MERLEAU-PONTY E A FENOMENOLOGIA DO

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