• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 Benefícios fiscais em Portugal

2.1. Noção e tipos de benefícios

O Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF) que foi aprovado originalmente pelo Decreto-Lei

n.o 215/89 de 1 de Julho, (1989)1, define benefícios fiscais como “medidas com caráter

excecional instituídas para tutela de interesses públicos extrafiscais relevantes que sejam superiores aos da própria tributação que impedem” (Estatuto dos Benefícios Fiscais, 2016, artigo º2). Considera-se que o interesse na introdução deste tipo de medidas enquadra-se mais numa política extrafiscal, isto é, na concretização dos objetivos económicos e sociais pela via fiscal (Nabais, 2005).

Outros autores portugueses complementam o conceito explícito na lei. De um ponto de vista económico Gomes (1991) define benefícios fiscais como o uso de medidas fiscais que resultam numa tributação menor, ou seja, num desagravamento fiscal.

No entanto, os desagravamentos fiscais por definição constituem-se como medidas com caráter mais duradouro, enquanto que os benefícios fiscais apresentam-se como medidas conjunturais, ou seja, com caráter temporário (Nabais, 2003). O legislador nacional conforme disposto no artigo 4º do EBF, apresenta essa distinção, na medida em que não serão benefícios fiscais as situações de não sujeição tributária, ou seja, as “medidas fiscais estruturais de caráter normativo que estabeleça, delimitações negativas expressas da incidência”.

Já em termos jurídicos Gomes (1991) define benefícios fiscais como:

“factos complexos, impeditivos do nascimento da obrigação tributária com o seu conteúdo normal, que caibam na tributação – regra, com natureza excepcional e fundamento extrafiscal, traduzido na tutela de interesses públicos constitucionalmente relevantes superiores ao da própria tributação” (p.77).

CAPÍTULO 2 – BENEFÍCIOS FISCAIS EM PORTUGAL

Como uma exceção às regras gerais de tributação, um benefício fiscal, para Freitas Pereira, obedecerá aos seguintes requisitos “ser uma derrogação às regras gerais de tributação; constituir vantagem para os contribuintes e ter um objetivo económico ou social relevante”2 (citado por Santos, 2003).

No que respeita ainda ao conceito de benefícios acontece uma outra distinção relativa a incentivos, derivado das noções de estáticos e dinâmicos. O conceito de estáticos considera os benefícios fiscais como vantagens fiscais atribuídas a situações já consumadas, enquanto que, os dinâmicos traduzem os incentivos fiscais como vantagens fiscais com vista a estimular um comportamento futuro, funcionando numa ótica de causa efeito (Gomes, 1991). Neste trabalho serão usados os termos benefícios e incentivos com o mesmo sentido, ou seja, a atribuição de uma vantagem fiscal.

Os benefícios caracterizam-se por serem automáticos quando resultam diretamente da lei ou dependentes quando pressupõem um ou mais atos posteriores de reconhecimento (5ºnº1 EBF). Ainda de acordo com o EBF estes podem ser atribuídos sob a forma de isenções, reduções de taxas, deduções da matéria coletável e deduções à coleta (crédito de imposto). As isenções podem ser totais ou parciais e assumem-se como uma exceção à incidência pessoal ou real (Nabais, 2003). Ainda para o mesmo autor a modalidade a ser assumida para os benefícios fiscais devem ser as deduções à coleta, sendo que para medidas estruturais reservam-se as deduções à matéria coletável.

Quando existem alterações das normas referentes aos benefícios fiscais, o artigo 11º esclarece para quem já usufrui do benefício, quer sejam convencionais, condicionados ou temporários, a alteração não é aplicável em tudo que o prejudique, exceto se a lei o previr. Esse reconhecimento pode ser através de um ato administrativo ou por acordo entre a Administração e os interessados, com efeito apenas declarativo (5ºnº2 EBF).

O artigo 75º-A do CIRC (Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas, 2016) vem ainda acrescentar que os benefícios fiscais das sociedades fundidas serão transferidos para a sociedade beneficiária, verificando-se o que conta do artigo 74º.

2 Definição utilizada a propósito do Relatório do Grupo de Trabalho constituído pelo Despacho nº 130/97-

XIII do Ministro das Finanças e presidido por M. H. F. Pereira, intitulado Reavaliação dos Benefícios Fiscais.

CAPÍTULO 2 – BENEFÍCIOS FISCAIS EM PORTUGAL

A LGT (Lei Geral Tributária, 2016)3 ressalta no seu artigo 14º as obrigações gerais por parte do beneficiário. Os beneficiados estão obrigados a revelar ou autorizar à AT (Autoridade Tributária e Aduaneira) os pressupostos da concessão do benefício em causa ou cumprir outras obrigações previstas4 (14ºnº2), é ainda necessária a definição dos objetivos e a quantificação prévia da despesa fiscal para a concessão do benefício (14ºnº3). Os benefícios fiscais não deverão ser concedidos sem nenhuma base e sem controlo rigoroso tanto para despesas, como para receitas fiscais a atribuir (Teixeira, 2010). Um controlo que advém da política de auxílios de Estado e que a nível nacional reflete-se na CRP (Constituição da República Portuguesa - VII Revisão Constitucional, 2005) ao abrigo do artigo 106º. Este artigo estipula que os benefícios fiscais sendo por natureza despesas fiscais têm de ser quantificados aquando da apresentação do Orçamento de Estado. O EBF vem ainda reforçar o que consta do regime dos auxílios tributários, ressalvando que os benefícios devem obedecer ao princípio da igualdade, de modo a não falsear ou ameaçar a concorrência (6ºnº2).

Com a introdução de benefícios fiscais o legislador pretende, entre outros pontos, aumentar o investimento no país (European Commission, 2014b). De um ponto de vista económico- financeiro, importa para a sustentação dos benefícios fiscais, a sua eficácia, ou seja, é necessário determinar os gastos ou despesas fiscais inerentes a esses benefícios que são mais adequados para fazer cumprir os objetivos e, portanto, fomentar a atividade (Gomes, 1991), garantindo o bom uso deste mecanismo.

Documentos relacionados