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Capítulo 5 Concorrência fiscal

5.3. Receitas de imposto

Se por um lado os países são influenciados pela forte concorrência, esta mesma concorrência pode levar a uma perda de receitas, traduzindo-se num ciclo vicioso que no limite pode ser perigoso.

Em termos globais o nível de fiscalidade na média dos 28 EM é elevado em comparação com outras economias, nomeadamente em comparação com os EUA. O nível de impostos em relação ao PIB verificou um decréscimo entre 2000 e 2004. Tendo sofrido um aumento até 2007 e uma descida até 2010. A descida de 2010 coincide com o período da crise económica (European Commission, 2014a). O gráfico 3 ilustra a evolução das receitas fiscais na Comunidade Europeia, desde 1996 a 2014. Ou seja, desde os primeiros estudos sobre a problemática da concorrência fiscal pela Comissão Europeia até à atualidade.

Gráfico 2 - Receitas fiscais em função do PIB Fonte: Eurostat

As receitas fiscais não apresentam uma tendência, tiveram o seu pico em 1999 e a partir daí verificou-se uma descida, tendo alguns aumentos em certos períodos. Nos últimos anos

CAPÍTULO 5 – CONCORRÊNCIA FISCAL

que é o mais relevante para o estudo tem-se registado um aumento das receitas fiscais, depois da descida aquando da crise económica de 2008. Pode-se especular que este aumento deriva da introdução de medidas para aumentar as receitas dos países, nomeadamente a introdução de novos impostos e aumentos da base tributária.

De entre as várias razões para a variação das receitas fiscais estão alterações de atividade económica, a legislação tributária (taxas de imposto, base fiscal, isenções, etc.), bem como mudanças no nível do PIB. As alterações a nível fiscal podem não se refletir de imediato no nível das receitas fiscais (European Commission, 2014a).

A taxa de imposto tem grande influência na arrecadação de receitas tributárias para os diversos países. O facto de se terem taxas mais baixas não torna obrigatório que as receitas sejam inferiores, existem outros fatores que condicionam o nível de receitas, no entanto não se pode ignorar que com taxas mais baixas a receita pode de facto diminuir.

É unânime na literatura que a principal razão, no que se refere às descidas nas taxas de imposto empresarial é a atração de investimento. E nos últimos anos tem-se registado um decréscimo geral destas, provocada por uma maior concorrência entre países.

O gráfico 2 mostra essa mesma situação, é notória uma diminuição das taxas de imposto sobre o rendimento das empresas. Embora não se tenha um decréscimo tão acentuado, nos últimos anos, que resulta das sobretaxas introduzidas pelos vários países devido à crise económica.

Gráfico 3 – Taxas de impostos sobre os rendimentos das empresas (inclui sobretaxas) Fonte: OCDE

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A taxa de imposto não traduz a carga fiscal de um país, mas é um importante indicador das decisões de deslocação do lucro tributável (Andrade, 2002).

Voltando às receitas fiscais ora veja-se, portanto o que se passa ao nível das receitas sobre o imposto das sociedades. O gráfico 4 mostra a evolução das receitas do imposto sobre o lucro das sociedades. Quando se analisa estas receitas, apesar dos elevados níveis de concorrência, também se verifica, à semelhança da situação anterior, um aumento das receitas nos últimos anos. Apesar deste aumento ser muito pouco acentuado. Os resultados não demonstram essa tendência de diminuição das receitas. Portanto, a razão para isso pode estar mesmo nas alterações das bases tributáveis, ou melhor no seu alargamento, não levando necessariamente a uma redução da taxa efetiva de tributação. Dado que se verificou na análise no capítulo 3 que diversos países têm feito reformas nos seus sistemas fiscais o que potencia a questão da concorrência fiscal. Podendo também dever-se a um aumento dos lucros das sociedades.

Gráfico 4 – Receitas do imposto sobre o lucro das sociedades Fonte: DG Taxation and Customs Union e Eurostat

O facto de em termos globais não se apresentar uma perda de receitas fiscais, não significa que isso não aconteça e que os argumentos contra a concorrência fiscal sejam inválidos. Apenas, não se pode auferir apenas por estas estatísticas essa situação.

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Veja-se agora o caso das receitas ao nível do imposto sobre as sociedades por país. O gráfico 5 apresenta a evolução desde 2000 até 2014 do peso das receitas no PIB de cada país.

Gráfico 5 - Peso das receitas fiscais, em função do PIB, por país Fonte: OCDE

É de referir que a Alemanha tem os valores mais baixos tendo ao longo dos anos sofrido alguns aumentos. De recordar que os germânicos possuem um dos regimes mais pobres em benefícios ficais ao investimento. Ao contrário do Luxemburgo que tem um sistema mais vantajoso e neste caso as receitas fiscais têm um peso superior no PIB, que tem vindo a diminuir apesar de tudo. Apesar desta diminuição as receitas neste imposto têm um peso consideravelmente superior aos outros países analisados.

A Irlanda, um caso já analisado anteriormente, situa-se dentro da média dos outros países, tendo sofrido em 2006 uma grande diminuição e vindo a recuperar nos últimos anos. É curioso que o aumento de 2010 acompanha os aumentos de investimento direto estrangeiro, o que vem de certa forma contrariar o argumento contra a concorrência fiscal que assenta na perda de receitas.

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No caso Português tem-se verificado uma oscilação grande com diminuições seguidas de aumentos. É difícil fazer qualquer relação com a questão da concorrência uma vez que a forte carga tributária a que Portugal foi sujeito nos últimos anos torna imprecisa a informação.

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