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10 POLICIAMENTO DE TRÂNSITO RODOVIÁRIO

10.9 Noções sobre transporte de produtos perigosos

O policial militar rodoviário deve saber identificar veículos que transportem produtos perigosos, ter ciência das regras às quais esse transporte está submetido, bem como ter noções de procedimentos e cuidados especiais para a fiscalização e atendimento de acidentes envolvendo esses produtos. Produtos perigosos são aqueles que, potencialmente, oferecem risco maior à saúde das pessoas, à segurança pública ou ao meio ambiente, e necessitam de certos cuidados quando das operações de carga e descarga, transbordo, manuseio, transporte e acondicionamento da carga. São todos aqueles produtos relacionados pela Resolução nº. 420/2004 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e seu transporte é estabelecido pelo Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos (RTRPP).

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10.9.1 Condições para o transporte

O produto perigoso transportado deverá estar acondicionado de forma a suportar os riscos de carregamento e descarregamento, transporte e manuseio. Deverá ser observado que é proibido seu transporte juntamente com animais, alimentos ou medicamentos destinados ao consumo humano ou outro tipo de carga, salvo se houver compatibilidade entre os diferentes tipos de produtos transportados. Os produtos explosivos e as substâncias radioativas devem também atender a normas específicas, respectivamente do Exército Brasileiro e da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Segundo o RTRPP (1988), o condutor que estiver conduzindo veículo transportando produto perigoso deverá evitar o uso de vias em áreas densamente povoadas: o itinerário deverá ser programado de forma a evitar vias de intenso fluxo de veículos e horários de maior volume de tráfego. Seu estacionamento só poderá ocorrer, para descanso ou pernoite, em áreas previamente determinadas pelas autoridades competentes, e o estacionamento em acostamentos se dará somente em caso de emergência.

10.9.2 Identificação do transporte

Para operações de carga e descarga, transporte, transbordo, limpeza e descontaminação, os veículos e equipamentos utilizados no transporte de produtos perigosos deverão portar rótulos de risco e painéis de segurança específicos.

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, o rótulo de risco é um quadrado apoiado sobre um de seus vértices – forma de um losango/ diamante –, que apresenta símbolos, figuras ou expressões emolduradas, referentes à classe e subclasse do produto perigoso (Figura 40). Os produtos perigosos são relacionados, conforme a Resolução nº. 420 da ANTT, em nove classes:

a) classe 1 – explosivos;

b) classe 2 – gases;

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115 d) classe 4 – sólidos inflamáveis;

e) classe 5 – substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos;

f ) classe 6 – substâncias tóxicas e substâncias infectantes;

g) classe 7 – materiais radioativos;

h) classe 8 – substâncias corrosivas;

i) classe 9 – substâncias e artigos perigosos diversos.

O painel de segurança é um retângulo padronizado, de cor alaranjada, indicativo de transporte terrestre de produto perigoso, que geralmente contém, na parte inferior, o número de classificação junto à Organização das Nações Unidas (ONU), composto por quatro caracteres, que identificam o produto perigoso e, na parte superior, o número de risco referente ao produto. Aquele painel que não contém numeração – totalmente alaranjado, somente com bordas pretas – indica que o veículo transporta mais de um tipo de produto perigoso, como se verifica na Figura 40, que traz exemplos dessas identificações:

Figura 40 – Painel de segurança e rótulo de risco.

FONTE: POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Comando de Policiamento Rodoviário. Gabinete de Treinamento. Curso de Especialização de Oficiais – Policiamento de Trânsito Rodoviário. 2008. Aula Legislação e Fiscalização do Transporte de Produtos Perigosos. Novembro de 2008. Apresentação de Slides.

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A (Figura 40) mostra um exemplo de rótulo de risco da classe 3 – líquido inflamável –, que, nessa classe, é representado pela cor vermelha. Observa-se que o rótulo possui pictograma referente à classe, texto indicativo da natureza do risco – que é opcional, exceto para os produtos da classe de materiais radioativos, onde o texto é obrigatório – e número da classe de risco.

Conforme a Portaria nº 349 do Ministério dos Transportes, o agente de fiscalização deve observar, no veículo, a existência dos elementos identificadores de risco, rótulos de risco e painéis de segurança. Deve verificar se a identificação é aplicável aos produtos transportados, se a identificação está visível à distância e em boas condições, de forma a permitir a identificação rápida dos riscos.

10.9.3 Fiscalização do transporte

Segundo o CTB, o condutor do veículo que transporta produto perigoso deverá receber treinamento específico para tal transporte (BRASIL, 1997), além dos documentos de porte obrigatório e comprovação de que frequentou o treinamento específico. São também exigidos, segundo o RTRPP (1988):

a) Certificado de Capacitação para o Transporte de Produtos Perigosos a Granel do veículo e dos equipamentos, expedido pelo INMETRO ou entidade por ele credenciada;

b) Documento Fiscal do produto transportado, contendo as seguintes informações:

– número e nome apropriado para embarque,

– classe e, quando for o caso, subclasse à qual o produto pertence,

– declaração assinada pelo expedidor de que o produto está adequadamente acondicionado para suportar os riscos normais de carregamento, descarregamento e transporte, conforme a regulamentação em vigor.

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117 c) Ficha de Emergência e Envelope para o Transporte, emitidos pelo expedidor, preenchidos conforme instruções fornecidas pelo fabricante ou importador do produto transportado, contendo:

– orientação do fabricante do produto quanto ao que deve ser feito e como fazer em caso de emergência, acidente ou avaria; e,

– telefone de emergência da corporação de bombeiros e dos órgãos de policiamento do trânsito, da defesa civil e do meio ambiente ao longo do itinerário.

Durante a fiscalização, o policial militar deve escolher um local seguro para a abordagem do veículo que transporta produto perigoso, evitando local com grande fluxo de veículos e próximo a lugares densamente povoados. O policial militar rodoviário deve, ainda:

a) evitar situações de risco na área onde ocorre a fiscalização;

b) nunca entrar em uma carroçaria fechada contendo produtos perigosos sem se assegurar de que não há riscos de desprendimento de gases ou vapores nocivos;

c) não utilizar aparelhos e equipamentos capazes de produzir ignição dos produtos ou de seus gases e vapores, em especial aparelhos de iluminação a chama;

d) nunca fumar próximo a embalagens ou a veículos que contenham produtos perigosos;

e) aproximar-se de qualquer veículo com cautela, pois esse veículo pode conter produtos perigosos e não portar a sinalização exigida ou pode estar carregado com quantidades que não requeiram tal sinalização (quantidade isenta);

f ) se detectado qualquer problema com produtos perigosos, evitar qualquer tipo de contato com a carga.

Ao ter conhecimento de veículo trafegando em desacordo com o que preceitua o RTRPP, o policial militar deverá retê-lo imediatamente, liberando o veículo somente depois de sanada a infração.

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10.9.4 Procedimentos no atendimento de acidentes

Em caso de acidente envolvendo veículos que transportem produtos perigosos, o policial militar rodoviário deve identificar, à distância, por meio dos painéis de segurança e rótulos de risco, o produto que está sendo transportado e verificar os riscos iminentes, aproximando-se do local somente quando tiver certeza de que pode fazê-lo com segurança (Figura 41).

Figura 41 – Identificação de painéis de segurança e rótulos de risco.

Além da avaliação da situação, o policial militar deve impedir que outras pessoas se aproximem do local de abordagem ou intervenção, se necessário, interditando o trânsito para melhor ser feito o estudo da situação. Devem ser adotadas, ainda, as seguintes medidas:

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119 a) sinalizar o local do acidente;

b) aproximar-se do local sempre com vento pelas costas;

c) evitar a inalação de gases, fumaça ou vapores, mesmo que não haja sinalização de produtos perigosos;

d) não pisar ou tocar em qualquer material derramado ou que esteja em embalagens ou partes do veículo que possam estar contaminadas;

e) considerar sempre que, mesmo quando inodoros (sem cheiro), os gases ou vapores podem ser nocivos;

f ) evitar a produção de qualquer tipo de centelha, inclusive por acionamento e funcionamento do motor do veículo;

g) examinar, se possível, as informações contidas nas instruções escritas na ficha de emergência e envelope, obedecendo-as com a máxima urgência;

h) contatar as autoridades que possam contribuir na solução do problema, solicitando o comparecimento de pessoal especializado disponível (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, órgãos do meio ambiente), informando: o número ONU ou o nome do produto, a extensão e o local da ocorrência, o nome do expedidor e o nome do fabricante do produto;

i) providenciar, se não houver riscos, a remoção do veículo para local seguro e não contraindicado nas instruções.

Na impossibilidade de acesso a qualquer informação sobre o produto, por meio das instruções escritas, o policial militar rodoviário deve isolar a área em todas as direções. Dispondo de pessoal especializado, o responsável pela fiscalização do material transportado ou do veículo não deve tentar solucionar a ocorrência sozinho.

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