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“No início tivemos um grande envolvimento mas de repente ”

Caixa I: “Assim começou o trabalho”

Caixa 3 “No início tivemos um grande envolvimento mas de repente ”

GRUPO B

- Dali, na década de 80, chegaram as freiras da Divina Providência. Elas moravam ali na casa paroquial. Daí eu fui assim me envolvendo com o movimento de Igreja e elas tinham um movimento bonito, popular. Elas eram bem inseridas na população... Em seguida eu trabalhei com grupo de mulheres, eu criei um grupo de mulher ... Daí começou a vir aquela coisa que eu já tinha antigamente, aquele desejo de mexer com mais, com coisas mais amplas na saúde, mas com qualidade de ajudar na doença.. teve também envolvimento com Dr. C. que ajudou

muito. Deixaram porque eles agora estão mais em outros tipos de movimento, não estão mais assim nas periferias... a gente no início teve um grande envolvimento com outros grupos. A gente sempre estava ligado com o Centro Nordestino. O Centro Nordestino excluiu a gente de certa maneira. Quando a gente fala, eles diz que não, que a gente se afastou. Mas de repente foi esfriando, se afastando, o incentivo que a gente tinha de fora deixou... A saída das freiras também houve desincentivo. As pessoas que ficaram na comunidade não incentivava muito... por outro lado o povo ainda não foram preparados e nem vai ser, vai demorar muito a fazer a troca da farmácia-natureza. Isto também contribuiu muito pra queda do trabalho popular... No início, como eu falei, quando as freiras estavam aqui, um trabalho que eu considero saúde é este, arrumar a rua, arrumar água, arrumar luz, eu acho que isto é saúde. No início a gente trabalhou, mexeu com isto... Depois com o movimento de saúde, a gente não fez muito coisa lá fora, não que tenha abandonado, né. Quando a gente percebe que tem uma necessidade, ajudar numa coisa a gente, tendo condições de ajudar, a gente ajuda, mas não tem envolvimento fixo nisso não. É mais aqui dentro ... (Entrevista B1).

- Ai tinha esta equipe daqui, que conhece este trabalho também, aí eu fui conhecendo este movimento nestes encontros ... Aí eu fiquei ... Aí eu estou neste movimento e como aparecia alguma coisa pra diagnosticar, um remédio, alguma coisa, eu estou sempre fazendo o meu trabalho... A minha parte, como contei, a Pastoral da Saúde já existia, não posso dizer quando começou, o ano, porque quando eu comecei já tinha esta pastoral na comunidade e agora do tempo que eu entrei pra cá, as coisas vai, uma hora melhora, outra hora vai fraquejando, a quantidade na equip e, umas tem mais e aí uns sai e pronto.... Agora alguns procuram tratamento pra problema de coluna, pra dar um tratamento, pessoas da comunidade e as vezes também pessoas de fora também procuram; problema de pressão, problema de coluna, tratamento de rins, esses negócio assim.... Esse grupo não é uma entidade. Tem pessoas que

(vem) de outras comunidades, pessoas da mesma comunidade, tem outras comunidades aí tem

reunião assim pra longe, aí tem essas reuniões ... Aí também a gente vai, porque o objetivo da gente é passando o que a gente sabe e receber o que a gente não sabe ... (Entrevista B2)

- Comecei a convite de (Entrevistada B1). Ela me convidou para participar num grupo na casa dela. Depois comecei a participar do movimento com mais intensidade. Aí tem a questão do

barro, colocar barro nas pessoas, questão de fazer medicamento, ajudando nos primeiros socorros, comecei por aí, por um convite dela. ... Quando eu comecei tinha bastante gente, então ficava assim, a gente dividiu, cada pessoa ficava numa área, a gente tinha que visitar as pessoas que estavam doentes, já era as vezes medir a pressão, ou alguma doisa que eles estivessem precisando e a gente dividida por área, cada pessoa ficava com aquela área ... a gente aprende muito. Então é como se fosse você estar inconsciente e de repente abre-se uma porta e você passa a ter vários conhecimentos, porque ali não vê só saúde, a gente conversava muito e sempre vinha vários assuntos, várias coisas que a gente não sabia... Mas devido o tempo muito pequeno ficou muito pequeno pra continuar participando.(Entrevista B6)

- Como eu disse, no início havia muita gente, pelo menos foi o que me contaram. O pessoal foi desanimando. Primeiro, a própria equipe também desacreditou um pouco e em segundo lugar houve pessoas que começaram a trabalhar... pelo menos no que eu estou a par, a gente não tem nenhum envolvimento com nenhuma entidade a nível político, de outra organização não governamental. Não tem. Apenas é uma coisa da comunidade, que a comunidade ligada à Paróquia, mas a coisa particularmente é uma coisa nossa. Nós não temos nenhum projeto e nem envolvimento com nenhuma força. (Entrevista B5).

Os relatos revelam a importância da presença externa, particularmente das irmãs, que não tiveram apenas um papel de iniciar o grupo, mas também mediar propostas e relações com outros grupos. Assim como sua chegada marca um início, sua saída marca uma interrupção com outros grupos e um insulamento ao local. Revela-se um lugar vago, vez que com a saída “houve desincentivo, as pessoas que ficaram na comunidade não

incentivava muito”. Conforme afirma, ainda, a entrevistada,

“então o grupo cresceu bastante, quando tinha aquela influência grande das

pessoas... o povo acreditava mais, o povo gostava mais. Eu acho o crescimento do grupo muito mais por conta do povo de fora, as experiências que trazem pra nós, a ajuda que a gente recebe dos voluntários, que recebe a gente, transmite pra gente, que passa o que estudam, tem mais conhecimento” (Entrevistas B1).

São destacados, nesta fala, os elos que atores de fora estabelecem, mediando informações, experiências e conhecimento. Esta relação com o “mundo externo” é salientada também por outros entrevistados, a exemplo da afirmativa do entrevistado B2, ao referir-se à relação com outros grupos, de que “o objetivo da gente é passando o que a

gente sabe e receber o que a gente não sabe”.

Diante destas afirmações, colocamos a pergunta, que a nosso ver antecede a presença e o acesso ao conhecimento, ou seja o que é mediado e como isto permite a articulação de um conhecimento. Retomamos, assim, a indagação de como se forma uma vontade coletiva, o que põe a questão de um “programa”, conforme discutimos (pp.84s), que organiza e orienta a ação, sem que deixe de envolver um elemento de fé que supre uma “ausência” de argumento. Neste sentido, a saída do mediador desarticula o grupo e o desvincula de uma “vontade coletiva” para além do próprio grupo. Isto, no entanto, não significou que o grupo deixasse de existir, mas sua cristalização, onde são mantidas atividades comunitárias e como afirma um dos entrevistados

“não tem envolvimento com nenhuma entidade a nível político, de outra

organização não governamental. Apenas é uma coisa da comunidade, que a comunidade, ligada à Paróquia, mas a coisa particularmente é uma coisa nossa. Nós não temos nenhum projeto e nem envolvimento com nenhuma força”

(Entrevista B5).

Há uma suspensão, assim, daquele processo presente no início, expresso pela entrevistada B6 ao referir-se ao aprendizado:

“então é como se fosse você estar inconsciente e de repente abre-se uma porta e

você passa a ter vários conhecimentos, porque ali não via só saúde, a gente conversava muito e sempre vinha vários assuntos, várias coisas que a gente não sabia. Não tinha conhecimento, não sabia nem que existia e através daquele movimento a gente tomou conhecimento, passou a perceber, tomar conhecimento disto...”.

Este lugar vago é assumido por uma liderança carismática, sem aquelas referências, onde as atividades se articulam em torno dela, mas que não tem uma continuidade. Isto pode ser constatado na alta rotatividade dos participantes, quando todos os atuais participantes têm menos de três anos de presença no grupo, com exceção da liderança. Esta flutuação é expressa pela afirmação de que “uma hora melhora, outra hora vai

fraquejando a quantidade da equipe, (outra) tem mais e aí uns sai e pronto” (Entrevista

B2).

Os aspectos aqui analisados e as considerações feitas em relação ao Grupo B evidenciam-se de outra forma em relação ao Grupo D. Este grupo, à semelhança do anterior, foi marcado pelas chegadas e saídas, acrescido de um retorno. Como podemos observar nos relatos abaixo, encontramos uma trajetória semelhante, marcada por um início com a chegada de agentes, no caso seminaristas e padres, e existência de uma rede de relações, tendo como referência a Paróquia e o Movimento Encontro de Irmãos, cujas atividades se caracterizam pelo uso de plantas medicinais, pelas visita aos doentes, reuniões com outros grupos e outras áreas, mutirões etc. Há uma quebra nesta trajetória com a saída daqueles agentes e da ONG, mas há uma reanimação do trabalho com a volta de Pe. I.83.

83 Quando realizamos as entrevistas, haviam transcorrido três anos após a volta do Pe. I. Cabe esclarecer,

aqui, que no período anterior haviam vários grupos nesta área e que se desestruturaram. O Grupo D foi constituído a partir de pessoas que participaram de grupos em diferentes bairros. Daí a afirmação: “com a

chegada do nosso Pe. I, aí os outros grupos que estavam morrendo estão se levantando de novo. Nós nos encontramos mensalmente, todos os grupos” (Entrevistada D7).