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3 CINEMA E MODA

3.5 NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA

O longa-metragem estadunidense Noivo neurótico, noiva nervosa, traduzido do inglês Annie Hall, foi lançado no ano de 1977. Produzida por Charles H. Joffe e dirigida pelo cineasta Woody Allen, que também fez parte do elenco da trama, a comédia dramática foi muito bem recebida pelo público e crítica.

A película narra a história de Alvy Singer, interpretado por Woody Allen, um humorista judeu e divorciado, que faz análise há quinze anos. Singer acaba se apaixonando por Annie Hall, feita por Diane Keaton, uma cantora em início de carreira com opiniões e ideias um tanto complexas. Rapidamente, os personagens começam a morar juntos, contudo, após certo tempo, os dois percebem desavenças e crises que estremecem a relação.

Annie e Alvy em uma das cenas da produção.

Disponível em: https://www.harpersbazaar.com/culture/film-tv/news/a9899/best-romantic-comedies-netflix/. (Acesso: 05/10/20).

Em relação à bilheteria, a produção arrecadou 38,3 milhões USD, tendo vencido quatro categorias do Oscar de 1978: Oscar de Melhor Filme, à Charles H. Joffe; Oscar de Melhor Roteiro Original, à Woody Allen e Marshall Brickman; Oscar de Melhor Diretor, também à Allen; e finalmente Oscar de Melhor Atriz, à Diane Keaton. O roteiro do filme ainda foi eleito “o mais divertido de todos os tempos” pelo sindicato dos roteiristas norte-americanos, o WGA. O humor da trama adotou um

estilo mais escrachado e visual, inspirado em outras comédias contemporâneas. É notável que o roteiro equilibrava piadas leves com temáticas mais profundas, como discussões sobre a morte, a alma, o conceito de Deus, a criação artística e o inconsciente, brincando principalmente com as descobertas da psicanálise de Freud.

Tendo em vista o alcance e sucesso atingido, o figurino da produção influenciou as vestimentas de muitas mulheres em 1977, que desejavam se vestir como a protagonista Annie Hall, de Diane Keaton. O alvoroço ao redor da figura de Annie uniu as mais variadas tribos femininas, gerando discussões especialmente ao redor da identidade de gênero e divisão de roupas com relação ao sexo.

É certo que o longa reproduziu a moda da década de 70, que já estava em circulação nas ruas, inspirada no período pós-guerra que sofreu influências dos anos 40, trazendo peças do guarda-roupa masculino ao universo feminino. “Em 1975, ao comercializar a versão final dos terninhos “Yves Saint-Laurent faz o masculino-feminino, nem tanto ao inventar o gênero, mas principalmente ao banalizá-lo nos guarda-roupas, nos quais o terninho se torna um curinga.” (LELIÈVRE, 2011, p.156).” (MAZZARINO, 2014, p. 3). A masculinização da roupa feminina foi necessária na época para que mulheres pudessem ganhar maior notoriedade para assumir cargos de chefia, que antes eram considerados exclusivos à homens.

Nas imagens, é possível notar algumas tendências dos anos 70. A moda feminina passou a aderir as peças de alfaiataria e camisas sociais coloridas.

Disponível em: https://bit.ly/3d7LoKg. (Acesso: 05/10/20).

Em destaque, as calças flare de alfaiataria que eram tendência na época. Além disso, é possível perceber que o estilo era baseado em camisas sociais e blusas polos,

anteriormente consideradas peças masculinas.

Disponível em: https://bit.ly/33uX1Yf. (Acesso: 05/10/20).

O figurino de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, foi assinado pelo estilista Ralph Lauren que passou a produzir peças para o público feminino a partir de 1971. Entretanto, muitas peças vieram diretamente do guarda-roupa pessoal da atriz Diane Keaton que costumava se vestir exatamente como sua personagem. Nas redes sociais, a atriz declarou: "Este foi o início de tudo, foi quando eu comecei a usar só roupas que eu realmente gostava. Eu fiquei feliz quando Woody [Allen, diretor do longa] disse: 'Sim, você pode se vestir como se veste na realidade”. De acordo com o editor da Vogue, André Leon Talley: “Ela representava o que havia de novo no estilo americano. Diane era, naquela época, o que Sarah Jessica Parker é para as mulheres hoje.”.

Disponível em: https://bit.ly/3jB20MW. (Acesso: 05/10/20).

A atriz aparece diversas vezes de camisa, calça social, colete e gravata.

A imagem mostra como a personagem utiliza de itens masculinos, nesse caso o colete social e a gravata borboleta, para compor seus looks.

Disponível em: https://images.app.goo.gl/NnNnnnU68v7fA71ZA. (Acesso: 05/10/20).

Os visuais andrógenos de Annie Hall, colaboravam para a construção de identidade da personagem, que buscava espaço no meio profissional e amoroso, na relação com Ally. Nas palavras da jornalista e estilista Paula Martins, “no caso de Annie, a vestimenta serve como uma arma de distanciamento entre o visual e o comportamento tipicamente feminino. A personagem é carismática e beira o estranho – no bom sentido – e as produções carregadas na atmosfera masculina acabam por corroborar sua personalidade única. Mais uma vez um caso de reafirmação da essência através da figura.”.

Simbolicamente, as composições utilizavam de sobreposições oversized, calças de alfaiataria masculina, camisas, chapéus de feltro, blazers, coletes, ombreiras e até mesmo gravatas. A utilização de elementos atrelados ao armário masculino pode ser interpretado como uma adaptação ao universo feminino, “o trabalho progressivo, incontestável, de diminuição dos extremos não tem pôr termo a unificação das aparências, mas a diferenciação sutil, algo como a menor oposição distintiva dos sexos” (LIPOVETSKY, 1989, p. 131).

Disponível em: https://images.app.goo.gl/coukJ95ynfdbWjKg7. (Acesso: 05/10/20).

É certo que Diane Keaton firmou-se nos anos 70 como ícone para a indústria de moda, sendo responsável pela constante criação de novas tendências. As vestimentas unissex continuam sendo marca da atriz, juntamente de peças criativas como luvas, óculos coloridos e meias com sandália. De acordo com a matéria da Vogue Portugal, “Diane Keaton manteve o estilo one of the boys que tem vindo a definir a sua carreira como atriz há mais de quarenta anos, esbatendo as barreiras do convencional para criar um guarda-roupa verdadeiramente pessoal, único e inconfundível - um guarda-roupa onde os power suits caminham lado a lado com os colares de pérolas, os cortes mais femininos convivem em harmonia com as gravatas largas e as camisas brancas, e os vestidos compridos ganham uma nova vida quando conjugados com meias brancas e sapatos oxford.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/20195898317278296/. (Acesso: 05/10/20). Diane vestindo peças “punk” pelas ruas da Califórnia, com destaque para a jaqueta de

PVC.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/351914158382544223/. (Acesso: 05/10/20). A própria atriz explica sua originalidade quando em relação ao estilo: "Mesmo quando eu era bem nova, era obcecada por moda. Eu e minha mãe ficávamos escolhendo estampas nas lojas de tecido, e eu dizia para ela o que queria fazer com cada um — e ela fazia tudo o que eu pedia!", contou. "Moda sempre foi tudo para mim. Com o tempo, eu comecei a recortar imagens de revistas como inspiração, e faço isso até hoje”.

Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/217791331960202107/. (Acesso: 05/10/20). Visual de Diane na década de 70, no qual ela combina uma camisa floral abotoada com o

blazer social sopreposto.

Disponível em: https://www.whowhatwear.com/collar-button-down-shirt/slide3. (Acesso: 05/10/20).

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