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Norma secundária: descumprimento da norma de imunidade

CAPÍTULO V – SISTEMA JURÍDICO E A TEORIA DA NORMA JURÍDICA REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E A NORMA DE

5.5 Norma de imunidade tributária

5.5.5 Norma secundária: descumprimento da norma de imunidade

Já expressamos que toda norma jurídica para ser completa deve prever uma sanção. Não há norma jurídica sem sanção. Kelsen denomina a norma

sancionatória de norma secundária. Uma vez descumprida a norma jurídica primária, incorreremos na norma secundária que corresponde à aplicação de uma sanção.

O sistema jurídico permite aplicação de uma sanção pelo descumprimento de um mandamento legal. Não há norma jurídica sem sanção, e este ato coativo consiste justamente no emprego da força, se necessário, para fazer valer a norma primária.

Como vimos, a norma primária de imunidade tributária estabelece o dever jurídico aos entes federativos consistente na proibição de estabelecer mediante lei a incidência de tributos sobre as pessoas imunes. Esta proibição de obrigação, em contrapartida, gera direito subjetivo às pessoas imunes de não serem obrigadas ao pagamento de tributos sobre os fatos e bens prescritos na norma de imunidade tributária.

Com ocorrência do ato ilícito consistente no descumprimento da norma primária de imunidade tributária deve haver a constituição de uma relação jurídica sancionatória (norma jurídica secundária), cujo objeto é a expulsão dessa norma jurídica que está a obrigar as pessoas imunes ao pagamento de tributos sobre os fatos e bens prescritos na norma de imunidade tributária do sistema jurídico. Estamos aqui diante do descumprimento de uma norma constitucional. Temos, então, que o sistema jurídico prevê como consequência sancionatória do descumprimento da norma primária de imunidade tributária a invalidade do produto legislado.

Por óbvio que essa expulsão do sistema jurídico deve ser realizada por quem detém a competência para produzir linguagem suficientemente apta. Logo, sempre que falarmos em invalidade como sanção, devemos entender a possibilidade de retirada da norma jurídica pela autoridade competente. Convém destacar que o produto legislado que venha violar a norma de imunidade tributária está, em realidade, a violar norma constitucional.

O descumprimento da norma primária de imunidade tributária somente pode ocorrer através de outra norma jurídica, produzida pelos entes políticos detentores de competência tributária, que venham estabelecer a incidência de tributos sobre pessoas imunes. Violada a norma primária de imunidade tributária caberá ao Poder Judiciário reconhecer que o produto legislado pelos entes federados transgrediu

a norma de imunidade e aplicar a norma de secundária sancionatória. A norma sancionatória terá o condão de expulsar do sistema a norma jurídica que afrontou a regra jurídica de imunidade tributária. Podemos esquematizar a norma secundária da seguinte forma:

Hipótese: dado o fato violação da proibição imposta às pessoas políticas internas de direito constitucional de não criarem obrigações tributárias sobre pessoas imunes.

Consequente: deve ser a declaração de inconstitucionalidade pelo Poder Judiciário e por conseguinte a expulsão do sistema jurídico do produto legislado que estabeleceu a incidência de tributos sobre as pessoas imunes. Somente mediante linguagem competente é possível expulsar do sistema jurídico a norma jurídica violadora do preceito imunitório. Sem a linguagem suficiente capaz de invalidar a norma jurídica violadora da regra de imunidade, esta continua válida e eficaz.

No caso o Poder Judiciário deverá expedir norma jurídica que terá o condão de determinar a invalidação da norma inconstitucional. Através de outra regra normativa, construída pelo Órgão Jurisdicional, será declarada a violação da norma primária de imunidade tributária e será aplicada a sanção consistente na expulsão da norma violadora do sistema jurídico. A partir dessa linguagem expedida por sujeito competente, a norma violadora da regra de imunidade será expulsa do sistema (sanção).

Destarte podemos apresentar a norma secundária de imunidade tributária nos seguintes termos: D[-(S’RS’’)→(S’’’RS’)]. Temos que ‘-(S’RS’’)’ representa a conduta violadora da prescrição de norma primária que consiste na proibição de os entes federados estabelecerem legislação que obrigue as pessoas imunes ao pagamento de tributos. ‘→’ representa o conectivo lógico cuja função é fazer a relação de implicação entre o antecedente e o consequente normativo. Por fim, temos a relação jurídica ‘(S’’’RS’)’ estabelecida entre o Estado-juiz (S’’’) e a pessoa política de direito constitucional interno (S’) que criou a lei obrigando as pessoas imunes ao pagamento de tributos. O objeto dessa relação jurídica é expedição de linguagem suficientemente capaz de determinar a expulsão do sistema jurídico de norma jurídica, produzida por S’, violadora da regra de imunidade.

5.6 Sinopse do capítulo

Sistema normativo é o conjunto unitário e ordenado de normas, em função de uns tantos princípios fundamentais, reciprocamente harmônicos, coordenados em torno de um fundamento comum. Dentro de um sistema normativo são reconhecíveis diversos sistemas parciais, a partir de perspectivas materiais diversas, e assim temos o sistema tributário, que compõe o sistema global.

O sistema normativo comporta dois corpos distintos de linguagem: sistema de direito positivo e sistema da ciência do direito. O sistema da ciência do direito se desenvolve através de uma linguagem descritiva, cujo objeto é o sistema de direito positivo, regido pelas regras da lógica apofântica. Já o sistema de direito positivo é eminentemente prescritivo sob a perspectiva da lógica deôntica.

O sistema de direito positivo possui natureza piramidal, em que uma norma busca fundamento de validade em norma hierarquicamente superior, até se atingir a norma última denominada norma fundamental. Ela é o ponto de partida do processo de criação do direito positivo.

A ordem jurídica é uma construção escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas. A sua unidade é produto da relação de dependência que resulta do fato de a validade de uma norma, que foi produzida de acordo com outra norma, até chegar à norma fundamental pressuposta – fundamento último.

As normas jurídicas atribuem direitos e deveres, prescrevendo condutas ou modo de agir ideal dos sujeitos de direito. Toda norma jurídica possui uma hipótese e um consequente, regidos pelo princípio da imputação ou implicação. Designa-se como imputação a ligação de pressuposto e consequência expressa na proposição jurídica com a palavra “dever-ser”.

A norma jurídica para ser completa é composta da norma primária que estatui o mandamento, da ordem de conduta e pela norma secundária, que estabelece na sua hipótese o descumprimento do consequente da norma primária e prescreve a respectiva sanção.

A imunidade é norma de estrutura expressa apta a prescrever regras de incompetência tributária das pessoas de direito público interno. É regra negativa, na medida em que atribui a certos sujeitos imunes o direito subjetivo de não se onerado pelo tributo. Como norma de estrutura estabelece determinados limites materiais às pessoas políticas de direito constitucional interno, contribuindo na constituição da competência tributária de cada uma.

A norma de imunidade tributária tem em seu modal deôntico a proibição de obrigar. As pessoas políticas estão proibidas de exercer o poder de instituir tributos sobre as pessoas imunes. Trata-se de uma proibição da edição de comandos normativos que tributem pessoas, bens ou situações imunes.