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CAPÍTULO V – SISTEMA JURÍDICO E A TEORIA DA NORMA JURÍDICA REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E A NORMA DE

5.1 Sistema jurídico

O termo sistema vem do grego systema, derivado syn-istemi, que significa o composto, o construído. Para Juan Manoel Terán “sistema es un conjunto

ordenado de elementos según um punto de vista unitario”59.

Geraldo Ataliba explica que o caráter orgânico das realidades componentes do mundo que nos cerca e o caráter lógico do pensamento humano conduzem o homem a abordar as realidades que prende estudar, sob critérios unitários de alta utilidade científica e conveniência pedagógica, em tentativa do reconhecimento coerente e harmônico da composição de diversos elementos em um todo unitário, integrado em uma realidade maior. Esta composição de elementos, sob perspectiva unitária, se denomina sistema60.

Já Norberto Bobbio entende por “sistema” uma totalidade ordenada, um conjunto de entes entre os quais existe certa ordem. Para que se possa falar de uma ordem, é necessário que os entes que a constituem não estejam somente em

relacionamento com o todo, mas também num relacionamento de coerência entre si61.

Para Paulo de Barros Carvalho sistema aparece como o objeto formado de porções que se vinculam debaixo de um princípio unitário ou como a composição de partes orientadas por um vetor comum. Onde houver um conjunto de elementos relacionados entre si e aglutinados perante referência determinada, teremos a noção fundamental de sistema62.

Já nos ensinava Geraldo Ataliba que o conjunto de normas constitucionais de cada país se designa Constituição, sendo certo que as Constituições

59 Filosofia del derecho, p. 146.

60 Sistema constitucional tributário brasileiro, p. 4. 61 Teoria do ordenamento jurídico, p. 71.

formam os sistemas. Por sistema entendemos o conjunto unitário e ordenado de

elementos em função de princípios coerentes e harmônicos63.

Hans Kelsen trata o sistema de normas como uma ordem na qual uma norma retira seu fundamento de validade de outra norma, e assim sucessivamente, até encontrar-se a norma fundamental, que funciona como vínculo e origem comum de todas as normas integrantes do sistema64.

Sistema normativo é o conjunto unitário e ordenado de normas, em função de uns tantos princípios fundamentais, reciprocamente harmônicos, coordenados em torno de um fundamento comum. Se pudermos reunir os textos do direito positivo em vigor no Brasil, desde a Constituição Federal até os mais singelos atos infralegais, teremos diante de nós um conjunto integrado por elementos que se inter-relacionam formando um sistema. As unidades desse sistema são as normas jurídicas que se despregam dos textos e se interligam mediante vínculos horizontais

(relações de coordenação) e liames verticais (relações de subordinação-hierarquia)65.

As normas jurídicas existem num universo de discurso que é o sistema de direito posto. As entidades mínimas dotadas de sentido deôntico completo. O direito posto há de ter um mínimo de racionalidade para ser recepcionado pelos sujeitos destinatários, circunstância que lhe garante desde logo a condição de sistema.

Surpreendido em seu significado de base, o sistema aparece como o objeto formado de porções que se vinculam debaixo de um princípio unitário ou como a composição de partes orientadas por um vetor comum. Onde houver um conjunto de elementos relacionados entre si e aglutinados perante uma referência determinada, teremos a noção fundamental de sistema.

Dentro de um sistema normativo são reconhecíveis diversos sistemas parciais, a partir de perspectivas materiais diversas. As normas constitucionais que versam sobre a matéria tributária formam o sistema (parcial) constitucional tributário. Este sistema compõe o sistema global, não pela sua soma, mas por sua conjugação recíproca, de maneira harmônica e orgânica.

63 Sistema constitucional tributário brasileiro, p. 3. 64 Teoria pura do direito, passim.

5.1.1 Sistema de direito positivo e sistema da ciência do direito

O termo sistema contempla dois distintos corpos de linguagem, quais sejam: sistema de direito positivo e sistema da ciência do direito. São ambos distintos corpos de linguagem respectivamente com características próprias.

O sistema da ciência do direito se desenvolve sobre o discurso prescritivo (linguagem do direito positivo). Diferentemente do discurso prescrito regido pela lei da lógica deôntica, a linguagem do cientista do direito é eminentemente descritiva na qual se aplica a regra da lógica apofântica.

Nessa linha de raciocínio, adverte Paulo de Barros Carvalho que o exame concreto dos vários sistemas de direito positivo chama a atenção para a existência de lacunas e contradições entre as unidades do conjunto. É bem verdade que os sistemas costumam trazer a estipulação de critérios com o fim de eliminar tais deficiências, no instante da aplicação da norma jurídica. Todavia, em face dos dois preceitos contraditórios, ainda que o aplicador escolha uma das alternativas com base na primazia hierárquica (norma constitucional e infraconstitucional) ou na preferência cronológica (a lei posterior revoga a anterior), remanesce a contradição, que somente cessará de haver, quando uma das duas regras tiver sua validade cortada por outra norma editada por fonte legítima do ordenamento. Agora, se isso de fato ocorre nos diversos sistemas de direito positivo, não acontece no quadro sistemático da Ciência do Direito. Todavia, ciência requer a observância estrita da lei lógica da não- contradição, de modo que a permanência de dois enunciados contraditórios – A é B e A é não-B – destrói a consistência interior do conjunto, esfacelando o sistema. Logo, no plano científico, não devemos encontrar contradição entre as múltiplas proposições descritivas, a despeito de tais enunciados relatarem normas jurídicas algumas vezes antagônicas. O sistema da Ciência do Direito é isento de contradições. Por seu turno, o sistema de direito positivo abriga antinomias entre as unidades normativas, as quais

somente desaparecem com a expedição de outras regras66.

Percebemos que a linguagem científica do direito ocupa a posição de

metalinguagem ou linguagem de sobrenível do direito positivo. Está, portanto, a linguagem científica do direito positivo acima da linguagem do direito positivo, uma vez que sobre ela discorre.

A linguagem do direito positivo, por sua vez, é precisamente prescritiva, voltada a regular as condutas intersubjetivas no seio da sociedade, prescrevendo comportamentos, ao passo que a ciência do direito é eminentemente descritiva, relatando e ordenando o plexo de normas jurídicas válidas em nosso sistema de direito positivo. À ciência do direito aplicam-se as valências de verdade e falsidade (lógica alética ou apofântica). Ao direito positivo, válido ou não-válido (lógica deôntica).

Nesse passo, entendemos o sistema de ciência do direito como um corpo de linguagem de cunho descrito que tem por objeto o direito positivo, descrevendo-o, ordenando-o, declarando a sua hierarquia e fornecendo o seu conteúdo de significação. Por sua vez, o sistema de direito positivo é o conjunto de normas jurídica válidas em um determinado tempo e espaço, objetivando regular as conjuntas intersubjetivas no seio de uma sociedade para realização de valores coletivos idealizados por uma determinada sociedade.