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Normas Comuns aos Administradores

Como já mencionado em tópicos anteriores, diretores e conselheiros devem ser, necessariamente, pessoas naturais para ocupar os cargos. Porém, o projeto de lei que deu azo a atual lei societária previa a possibilidade de ser eleita pessoa jurídica para gerir uma sociedade.

Essa orientação foi objeto de críticas de alguns setores nacionalistas do Congresso Nacional, que viam uma ameaça às empresas nacionais, que poderiam ser desnacionalizadas através da administração de sociedades estrangeiras, posição esta bem narrada por Rubens Requião. 46

De fato, a exclusão da pessoa jurídica como membro do conselho de administração das companhias é regra oposta a que o Brasil vinha adotando, vez que a própria sociedade limitada já previa essa possibilidade, a qual se confirmou com o novo Código Civil, desde que designada pessoa natural para representá-la em tal missão47.

Porém, preferiu o legislador impedir o ingresso de administrador de sociedades anônimas pessoa jurídica. Assim, desde que pessoas naturais, poderão ser

46 A exclusão de pessoas jurídicas da participação da administração da sociedade é considerado uma involução

do Direito por este doutrinador. Curso de Direito Comercial, 2o. Volume, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 202. 47 O artigo 1060 do Código Civil estabelece que a sociedade será administrada por uma ou mais pessoas

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eleitos os administradores entre acionistas e não acionistas para integrar os órgãos da diretoria ou do conselho.

São inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial, ou condenadas por crime falimentar de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a propriedade ou a pena criminal que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos. Trata-se de uma pena acessória o impedimento a tal cargo.

Também não podem ser eleitos para companhia aberta os que forem declarados inabilitados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como já alertado anteriormente. Este órgão tem atribuições de fiscalização e ordenamento de mercado de capitais, podendo impedir no seu âmbito a atividade de pessoas sem qualificação moral ou sem preparo técnico suficiente e inexperiência em administração de empresas.

Conselheiros e diretores devem ter reputação ilibada e não podem ser eleitos aqueles que ocuparem cargos em sociedades que podem ser consideradas concorrentes ou os candidatos que tiverem interesses conflitantes com os da companhia, salvo se de conhecimento e dispensa da assembléia geral. A comprovação da inexistência dos impedimentos se dará por meio de declaração firmada pelos administradores, sob pena de cometimento de crime de declaração falsa e de serem responsabilizados civilmente.

É facultativa a exigência de caução aos administradores para o exercício do cargo. Trata-se de uma forma de garantia da gestão praticada, diante das responsabilidades assumidas. Cabe ao estatuto estabelecer tal exigência, a ser assegurado pelo titular ou por terceiro, mediante penhor de ações da companhia ou outra garantia. Uma vez exigido no estatuto, é essencial para a posse do administrador no cargo para o qual foi eleito e somente será levantada após aprovação das últimas contas, quando estiver encerrando a gestão.

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Conselheiros e diretores eleitos tomam posse do cargo mediante assinatura de termo de posse no livro de “Atas do Conselho de Administração” ou no livro de “Atas da Diretoria”, conforme o cargo.

Referido termo deverá indicar um domicílio para serem efetuadas as citações ou intimações em processos administrativos e judiciais relativos a atos de gestão do conselheiro ou diretor, presumindo-se o conhecimento daqueles se entregues no domicílio indicado. Percebe-se que, em tais casos, a citação deixa de ser pessoal, fugindo à regra da segurança geral do processo civil.48

A remuneração dos administradores sempre foi tema de preocupação das minorias, diante dos abusos cometidos por diretores que, detendo o controle da sociedade, impunha a fixação de exagerados honorários em seu favor, reduzindo significativamente a conta de lucros a distribuir aos acionistas.

A regra atual determina que à Assembléia Geral cabe fixar o montante da remuneração dos administradores e outros benefícios, considerando-se as responsabilidades, o tempo dedicado à companhia, a competência, a reputação profissional e os níveis de mercado.

A remuneração pode ser composta de uma parcela fixa e outra variável. A primeira é de competência da Assembléia Geral. Já a segunda pode ter previsão no estatuto, que pode dispor que, distribuindo a sociedade dividendos obrigatórios de 25% ou mais do lucro líquido, pode atribuir aos administradores participação nos lucros. Essa participação é calculada sobre os lucros líquidos da companhia, depois de deduzidos os prejuízos acumulados e a provisão para o imposto sobre a renda. Se houver indicação estatutária de participação dos empregados nos lucros, esta também é deduzida.49

48 Comentário ao artigo 149, §2º. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial, vol. 2, São Paulo: Saraiva,

2003, p. 204.

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Nota-se, desta feita, que a lei delimitou a possibilidade da má utilização da companhia em favor dos administradores quanto à eventual ganância e diante da abusividade comumente vistas no passado, em detrimento dos interesses financeiros dos acionistas.

O prazo de gestão dos administradores se estende até a investidura dos novos administradores leitos. Ou seja, ainda que decorrido o prazo de investidura para o qual foram eleitos, permanecerão esses até a investidura dos novos administradores, cabendo reeleição ao cargo.

Cessa também a função administrativa pela destituição pelo conselho de administração ou pela assembléia geral; pela morte do administrador ou pela sua renúncia. Esta última terá eficácia, em relação à companhia, desde o momento da entrega por escrito da comunicação, e, em relação a terceiros, somente após o arquivamento no Registro Público de Empresas Mercantis, e eventual publicação, que poderão ser promovidos pelo próprio administrador renunciante.