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Sigilo e controle da informação

4.6. Dever de informar

4.6.1. Sigilo e controle da informação

Sobre a guarda de sigilo, trata-se de comportamento do administrador que o inibe de fornecer informações reservadas a pessoas que não estejam direta e especificamente envolvidas nos fatos e negócios jurídicos relevantes da companhia.

Pertence ao dever de lealdade o sigilo que o administrador deve manter sobre os negócios sociais, não usando em proveito próprio informações que possua em virtude de seu cargo. O dever de sigilo também tem função de manter idênticas oportunidades aos acionistas de obter bons resultados com os negócios sociais.

O sigilo supõe, necessariamente, informação que não tenha sido divulgada, pelo que fica o administrador proibido de fazer qualquer negociação para

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obter vantagem na base de informação que o mercado desconhece. A natureza confidencial dos fatos ligados à vida da sociedade, ainda que se trate de fatos ocorridos em área de informação devida ao sócio é o limite ao direito de informação dos investidores.

Cabe aos administradores zelarem para que o escapamento de informações não se faça através de empregados ou de terceiros de confiança, caso contrário arcarão com as indenizações dos prejuízos sofridos.

A instrução normativa CVM no. 358, em consonância com o estabelecido no § 5º do artigo 157 da lei das S/A prevê a possibilidade de excepcionalmente os atos ou fatos relevantes não serem divulgados na hipótese de sua revelação por em risco interesse legítimo da companhia, podendo, todavia, a Comissão de Valores Mobiliários exigir que tal ato ou fato seja publicado.144

Essa situação dá ensejo a questionamento no que diz respeito a extensão exigível da informação a ser levada aos acionistas. Trata-se da informação relativa à gestão e aos negócios sociais, às relações entre os órgãos sociais dirigentes e a sociedade e à informação relativa às relações dos acionistas em si.145

Sobre a primeira, pode se dizer que essa informação visa a prestação de contas respeitantes à gestão da sociedade e ao andamento dos negócios sociais.

Se concretiza, habitualmente, na apresentação do balanço, a maioria das vezes associado ao inventário do patrimônio, na demonstração analítica dos resultados do exercício e no relatório da administração sobre a gestão exercida, muitas vezes acompanhados da proposta de aplicação dos lucros. Trata-se de informações prestadas pelo órgão encarregado da administração da sociedade,

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anualmente, sobre as quais se pronuncia a assembléia geral e, eventualmente, quando houver informação relevante a ser transmitida ao público.

Tratar da questão da informação quanto a gestão e aos negócios sociais, inevitavelmente faz verificar-se que há uma tendência do órgão da administração se tornar, paulatinamente, o centro absoluto da sociedade, diante da reunião de cada vez mais largas competências e poderes sob seu comando. Por um lado, essa situação dilui as atribuições da assembléia e, de outro, causa confusão freqüente entre os interesses da sociedade e os interesses pessoais dos titulares da administração. Desse modo, a fim de garantir o dever de informar a eles imposto, é condição essencial a transparência no processo eleitoral de designação dos administradores, para garantir confiabilidade aos membros da companhia, bem como a informação sobre as remunerações e benefícios recebidos pelos administradores e diretores, como forma de certificar a transparência da gestão empregada.

Quanto ao dever de informação sobre as relações dos acionistas ente si, não é possível imaginar a possibilidade dos acionistas exercerem, de forma completa e esclarecida, os seus poderes na sociedade, se não lhes for assegurada a possibilidade de, em qualquer momento, consultar os demais acionistas, trocar opiniões ou ceder o direito submeter propostas à assembléia geral ou votar sobre os principais problemas da sociedade. Para isso, a publicidade da relação dos acionistas previamente à realização de cada assembléia geral é imprescindível para a democracia das sociedades, e as ações nominativas dão grande contribuição para tanto.

Essa filosofia da divulgação foi se impondo no direito societário porque o sócio acionista foi perdendo sua posição ativa, de participante na vida social, para tornar-se, cada vez mais, um mero investidor. Em toda companhia aberta pode-se afirmar que existem dois tipos de sócios: os controladores e uma grande massa de ausentes, simples tomadores de títulos. Como bem acentua Garrides, a marcha dos

145 TORRES, Carlos Maria Pinheiro. O Direito à informação nas sociedades comerciais. Coimbra: Livraria

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negócios da sociedade não interessa apenas aos acionistas, mas ao público em geral, que podem querer ser acionistas e que, por isso, tem o direito de serem informados do que ocorre na sociedade. “O direito individual converteu-se em dever público.”146

Um aspecto do direito à informação na sociedade anônima, essencial para o seu exercício, é quanto aos sistemas de controle estabelecidos para a verificação da veracidade dos elementos de informação fornecidos. Este controle é realizado pela fiscalização, confiada ao Conselho Fiscal ou a técnicos ou peritos, além da CVM.

A própria bolsa de valores mobiliários, quando centraliza as emissões desses valores e a sua distribuição pelos investidores, recebe ordens de compra e de venda e efetua formas de controlar a atividade e as informações concedidas pelas sociedades.

No sistema norte-americano, a fiscalização das sociedades é exercida por peritos contabilistas, denominados certified public accountants. No entanto, é prática corrente a das sociedades norte-americanas se auto-analisarem, de forma permanente e rigorosa, visando salvaguardar interesses dos acionistas e dar solidez às expectativas junto ao público, potencial investidor.147

A informação cumpre na sociedade anônima o seu papel essencial quando é possível assegurar o controle da sua extensão, ou seja, é prestada a informação mínima exigida, de forma clara e suficiente. Na ausência de disposições especificamente aplicáveis ao controle da informação deve entender-se que as normas gerais permitem o recurso a tribunais judiciais, com vista ao direito do acionista de requerer a tutela judicial dos seus direitos, dentre os quais está o direito à informação.

146 Citado em LAMY Filho, Alfredo e PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A., Rio de Janeiro: Renovar,

1992, p. 381.

147 TORRES, Carlos Maria Pinheiro. O Direito à informação nas sociedades comerciais. Livraria Almedina.

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É pacífico que qualquer ato e omissão da gestão social pode ser objeto de pedido de informação do sócio, desde que praticado em conexão com a vida da sociedade. Porém, o direito de informação de um sócio não pode ser mais lato que de outro.

O limite à informação tem o objetivo de evitar o alastramento da intromissão abusiva na vida da sociedade. Apenas razões imperiosas fundadas num interesse suficientemente forte e bem definido poderão levar o tribunal a ultrapassar os limites da informação irrecusável. O interessado deve estabelecer, com segurança, a sua necessidade de informação excepcional para o exercício de seus direitos.148

O direito à informação é limitado se de natureza confidencial dos fatos ligados à vida da sociedade. Caso estes venham a configurar privilégio ao solicitante, em atendimento ao dever de sigilo dos administradores, deixar de informar é dever do administrador da companhia.

148 TORRES, Carlos Maria Pinheiro. O Direito à informação nas sociedades comerciais. Livraria Almedina.

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Capítulo V

5. Responsabilidade dos administradores