• Nenhum resultado encontrado

Responsabilidade civil subjetiva

5.1. Responsabilidade Civil

5.1.1. Responsabilidade civil subjetiva

O artigo 158, caput da lei das S/A determina que o administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão, qual seja, aquele praticado nos limites das atribuições dos administradores, sem violação da lei ou do estatuto. Porém, toda manifestação da atividade humana traz em si o problema de responsabilidade.

109

Para alguns juristas, como Serpa Lopes, o vocábulo responsabilidade provém de respondere, que quer dizer, aproximadamente, ter alguém se constituído garantidor de algo. Então, responsabilidade significa garantia ou segurança de restituição ou compensação151.

Interessante se mostra a definição de Sourdat inserida na mesma obra de Serpa Lopes (p. 187) para a responsabilidade: "é a obrigação de reparar o dano resultante de um ato de que se é autor direto ou indireto". Ainda mais profundamente conceitua Pierson e De Villé: "é a obrigação imposta pela lei às pessoas no sentido de responder pelos seus atos, isto é, suportar, em certas condições, as conseqüências prejudiciais destes".

A responsabilidade civil deve ser encarada como fato humano, ou seja, a necessidade de se proporcionar a devida reparação em virtude de ato causador de dano. Cumpre transcrever, por oportuno, o escólio de Cáio Mário da Silva Pereira152:

"Como sentimento humano, além de social, à mesma ordem jurídica repugna que o agente reste incólume em face do prejuízo individual. O lesado não se contenta com a punição social do ofensor. Nasce daí a idéia de reparação, com estrutura de princípios de favorecimento à vítima e de instrumentos montados para ressarcir o mal sofrido. Na responsabilidade civil está presente uma finalidade punitiva ao infrator aliada a uma necessidade que eu designo de pedagógica, a que não é estranha a idéia de garantia para a vítima, e de solidariedade que a sociedade humana deve-lhe prestar."

Assim, pode-se afirmar que a responsabilidade civil consiste na obrigação do agente causador do dano em reparar o prejuízo causado a outrem, por ato

151

LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil. Vol. 5. 2. Rio de Janeiro: Ed. Freitas Bastos S. A., 1962, p. 187.

110

próprio ou de alguém que dele dependa. Desse modo, a responsabilidade civil pode ser conceituada pela obrigação de fazer ou não–fazer ou ainda pelo pagamento de condenação em dinheiro.

O direito moderno segue, preponderantemente, o conceito de responsabilidade civil calcada na noção de culpa. Nestes termos dispõe o Código Civil Italiano, que no seu artigo 2.043, diz que todo o fato delituoso ou culposo, que ocasione a outrem um prejuízo injusto, obriga ao que o perpetrou a ressarcir o dano. As únicas exceções são a legítima defesa e o estado de necessidade, que mesmo assim concede ao Juiz o poder de fixar indenização equânime para o prejuízo sofrido.

O Código Civil Grego também se fixa na culpa como fundamento da responsabilidade civil e em casos especiais, admite a responsabilidade objetiva.

No Direito Germânico, o princípio fundamental é o da culpa, elemento integrante da responsabilidade civil e em alguns casos ainda se exige o dolo, não sendo a culpa suficiente.

Igualmente, o Direito Francês adota o princípio da culpa. Desde os artigos 1382 e 1383 do Código Napoleônico (1804), a responsabilidade abrange todo ato do homem que representa uma culpa. Apesar disso, foi no Direito Francês que surgiram as primeiras idéias da teoria objetiva da responsabilidade.

O regime da responsabilidade no Brasil é atualmente definido nos artigos 186, 187 e 927 do código Civil de 2002 e, como bem analisado por Clóvis Bevilaqua, a obrigação de indenizar é mais ampla que a de ato ilícito, o qual está calcado na culpa. São suas palavras:

“Há casos, em que ela se impõe, não obstante ser lícito o ato, de que resulta o dano (...). A idéia de dano ressarsível é, portanto, mais lata do que a de ato ilícito. Todo ato ilícito é danoso e cria para o agente a obrigação de reparar o

111

dano causado. Mas nem toda obrigação de ressarcir o dano provém do ato ilícito, de ato praticado sem direito.”153

Mas a responsabilidade civil no direito brasileiro pauta-se, em regra, na necessidade de demonstração de três requisitos principais154: o ato ilícito, o

dano e o nexo causal. A adoção da teoria clássica da responsabilidade, também chamada de teoria da culpa ou subjetiva, pressupõe a culpa como fundamento da responsabilidade civil, para que haja a obrigação de reparar o prejuízo experimentado. Em não havendo culpa pelo ato ilícito praticado não há responsabilidade. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro dessa concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa.

A culpa, por sua vez, é pautada na imprudência, negligência ou imperícia do agente. Caracteriza-se como imprudência o comportamento descuidado e positivo (condutor que dirige com excesso de velocidade, por exemplo). A negligência, por sua vez, vem retratada por um comportamento omissivo (acidente causado por falta de conservação do veículo). Por último, a imperícia vem se caracterizar pela falta de habilidade técnica.

Em vista deste tipo de responsabilidade, a vítima que busca a reparação do dano deve provar a conduta culposa do agente, a existência e extensão do prejuízo e o liame de causalidade entre a conduta do demandado e o dano. Corresponde a regra geral do direito brasileiro quanto ao ônus da prova da pretensão assistida.

153 BEVILAQUA. Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. 5ª. Edição. Rio de Janeiro:

Francisco Alves. 1943, v 5, p. 291.

154 Código Civil Brasileiro, art. 927: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo. Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

112