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3. OS TRÊS PRINCIPAIS PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL NA

3.1.2 Normatização e Institucionalidade

A CAN é uma organização muito antiga, tendo sofrido diversas modificações ao longo do tempo. É relevante analisar apenas sua estrutura normativa mais recente, responsável por conferir-lhe a configuração que possui hoje. Assim, são importantes documentos da normativa andina os protocolos modificativos e adicionais ao Acordo de Cartagena, Protocolo de Trujillo de 1996, responsável por introduzir sua atual estrutura institucional, Protocolo de Sucre de 1997, mais recente protocolo modificativo e Protocolo

98 RESEÑA histórica. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em:

<http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=195&tipo=QU&title=resena-historica>. Acesso em: 15 set 2014.

99 BOTELHO, João Carlos Amoroso. La creación y la CASA/UNASUR. 2010. 304 f.. Tese (Doutorado em Processos Políticos Contemporâneos) - Faculdade de Direito, Universidade de Salamanca, Salamanca, 2010. P. 57.

100 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H.. Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006. P. 21.

101

Id. Ibidem, p. 36.

102 Chile, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai são hoje membros associados da CAN, de acordo com seu site oficial. Disponível em: < http://www.comunidadandina.org/index.aspx>. Acesso em: 15 set 2014.

41 Adicional ao Acordo de Cartagena sobre o Compromisso com a Democracia, de 1998. Além dos Tratados Constitutivos do Tribunal de Justiça e do Parlamento Andino. Há ainda o Protocolo de Cochabamba de 1996, modificativo do Tratado Constitutivo do Tribunal de Justiça da CAN.103

O Protocolo de Trujillo consagrou o caráter supranacional da CAN e instituiu o SAI como sistema articulador de seus órgãos e instituições.104

Devido a esse caráter supranacional, a CAN possui um ordenamento jurídico autônomo, independente das vontades soberanas dos Estados-partes, e que tem prevalência sobre as normas internas de qualquer um deles, nos temas que lhe competem. Desse modo, cria-se um sistema de igualdade normativa para todos os seus membros.105

São consideradas normas de direito primário na CAN os tratados constitutivos e seus respectivos protocolos modificativos ou adicionais. São eles que conferem esse caráter supranacional à Comunidade, estabelecem suas competências e sofrem o controle direto dos Estados, pois precisam ser ratificados e internalizados. As decisões provenientes das instâncias normativas da Comunidade, por sua vez, são consideradas normas de direito secundário. Estas têm aplicação direta, obrigando os países desde o momento de sua promulgação, não carecendo de internalização, pois recai sobre elas uma presunção de legalidade amparada pelo Tratado Constitutivo da CAN, que funciona como uma Constituição. Em caso de controvérsias, o Tribunal tem competência para decidir sobre a matéria. A aplicação direta só não ocorre se houver previsão expressa na própria norma. Mesmo nesses casos, o direito comunitário deve prevalecer sobre a normativa interna em caso de conflito.106

O mesmo vale para a atuação do Tribunal de Justiça da CAN. Como entidade supranacional, suas sentenças não precisam ser homologadas nem carecem de exequatur, tendo aplicação imediata. Os países da Comunidade Andina também se comprometeram a não aceitar a jurisdição de qualquer outro tribunal ou sistema de solução de controvérsias em questões relacionadas ao direito comunitário.107

103 Todos os Tratados e protocolos mencionados estão disponíveis no site oficial da CAN. NORMATIVA andina. Tratados y Protocolos. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Normativa.aspx?link=TP>. Acesso em: 20 set 2014.

104

CAN. Protocolo de Trujillo. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Normativa.aspx?link=TP>. Acesso em: 23 out 2014.

105 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H.. Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006. p. 27.

106 Id. Ibidem, p. 27-32. 107 Id. Ibidem, p. 29-32.

42 Cabe destacar, todavia, que essa prevalência do direito comunitário se restringe às matérias que são de competência da CAN, as quais são bem delimitadas em seus tratados constitutivos.108

O SAI tem por finalidade a coordenação de todas as instâncias da Comunidade, o que faz com que esta funcione quase como um Estado, desenvolvendo funções normativas, executivas, judiciais, de direcionamento político, social, financeiro e educativo.109

O órgão máximo do sistema, segundo o Protocolo de Trujillo, é o Conselho Presidencial Andino, formado pelos presidentes dos quatro países da Comunidade. É o órgão responsável por orientar e impulsionar a integração, estabelecendo as diretrizes segundo as quais suas instituições devem se orientar. Também é responsável por rever e avaliar as ações tomadas por eles. Suas reuniões devem ocorrer pelo menos uma vez ao ano, onde serão definidas as políticas de integração a serem adotadas para o processo.110

Abaixo do Conselho Presidencial está o Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores, órgão legislativo do sistema. É formado pelos Ministros das Relações Exteriores dos quatro países e responsável por formular e executar a política exterior dos países-membros em assuntos relacionados com a integração ou que sejam de interesse da CAN. Também coordena a conduta externa dos órgãos e instituições do SAI e, quando necessário, as ações e posições conjuntas dos países-membros em foros e negociações internacionais.111

O terceiro órgão normativo da CAN é a Comissão da Comunidade Andina, formada por um representante plenipotenciário de cada país. A comissão é mais voltada para questões relacionadas com comércio e investimentos. Cabe a ela o cumprimento das metas econômicas do Acordo de Cartagena, sendo capaz de formular e executar ações integrativas, assim como avaliar o que já foi conquistado. Também é de sua responsabilidade a coordenação da posição conjunta em matérias internacionais relacionadas a questões

108 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H.. Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006, p. 31.

109 SISTEMA andino de integración. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=4&tipo=SA&title=sistema-andino-de-integracion-sai>. Acesso em: 20 set 2014.

110 CONSEJO presidencial andino. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=9&tipo=SA&title=consejo-presidencial-andino>. Acesso em: 20 set 2014.

111 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H..Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006. p. 24; CONSEJO andino de ministros de rr.ee..

Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em:

<http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=18&tipo=SA&title=consejo-andino-de-ministros-de-rree>. Acesso em: 25 set 2014.

43 econômicas. Suas decisões têm caráter vinculante, assim como as dos demais órgãos normativos.112

O Protocolo de Trujillo estabeleceu ainda uma Secretaria Geral para CAN, que é seu órgão executivo e técnico. Com aparato burocrático e sede em Lima, no Peru, a Secretaria tem, em seu aspecto executivo, a função de cuidar do cumprimento do Acordo e das normas emanadas pela Comunidade, coordenando e administrando o processo integrativo, de acordo com o que é estabelecido pelas instâncias normativas. Já na parte técnica é responsável pela promoção de estudos em suas áreas de interesse, para recomendar iniciativas e submeter propostas de decisão aos órgãos competentes.113

Como já mencionado, a CAN desenvolveu uma preocupação social bastante sólida, consolidada em uma série de políticas envolvendo uma vasta gama de assuntos, como moradia, saúde, educação, emprego e meio ambiente. Fazem ainda parte do SAI outros organismos, voltados para o desenvolvimento social. As instâncias consultivas da sociedade civil são responsáveis por promover o diálogo entre os diversos segmentos sociais e o mecanismo de integração. Seus três Conselhos Consultivos sociais, o Laboral, o Empresarial e o dos Povos Indígenas, porém, carecem de efetividade, pois a sociedade civil ainda não é tão atuante em seu âmbito. A Universidade Andina Simón Bolívar é sua entidade educativa, possuindo diversas sedes em toda a região. A Mesa Andina para a Defesa dos Direitos do Consumidor auxilia a sociedade e emite estudos e proposições relacionadas ao tema. Por fim, o Organismo Andino de Saúde cuida dessa temática na região.114

Embora tenham sido criados muito antes, também passaram a compor o SAI a partir do Protocolo em análise as duas importantes instituições financeiras da CAN – Corporação Andina de Fomento (CAF) e o Fundo Latino-Americano de Reservas. A CAF é o Banco da Comunidade, voltada para o desenvolvimento da sub-região, sendo atualmente a principal fonte de financiamento de projetos de desenvolvimento para seus países. Enquanto isso, o Fundo tem como principal função dar suporte aos membros em casos de déficit em sua balança de pagamentos.115

112 BULMER-THOMAS, Victor. Regional integration in Latin America and the Caribbean: the political economy of open regionalism. Londres: Institute of Latin America Studies, 2001. p. 155.

113Id. Ibidem. p. 155-156; SECRETARÍA general de la comunidad andina. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=26&tipo=SA&title=secretaria-general-de- la-comunidad-andina>. Acesso em: 25 set 2014.

114

SISTEMA andino de integración. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=4&tipo=SA&title=sistema-andino-de-integracion-sai>. Acesso em: 25 set 2014.

115

CAF, banco de desarrollo de américa latina. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=50&tipo=SA&title=caf-banco-de-desarrollo-de-america- latina>. Acesso em: 25 set 2014; FONDO latinoamericano de reservas. Site Oficial da Comunidade Andina.

44 A estrutura institucional da CAN conta ainda com um Tribunal de Justiça e um Parlamento, cada um deles previsto em seu próprio Tratado Constitutivo e ambos também submetidos ao SAI.

O Tribunal de Justiça do Acordo de Cartagena foi criado em 1979, tendo iniciado suas funções em janeiro de 1984. Sua conformação atual foi conferida em 1996 pelo Protocolo de Cochabamba, modificativo de seu Tratado Constitutivo. A partir daí, passou a chamar-se Tribunal de Justiça da Comunidade Andina, integrando o SAI, quando a Comunidade foi instituída. É o órgão jurisdicional da CAN, de caráter permanente, supranacional e comunitário. Tem sua sede na cidade de Quito, Equador, e é formado por um magistrado indicado por cada país-membro. Tem a função de resguardar o direito comunitário, assegurando sua interpretação e aplicação uniforme por todos os Estados da CAN, bem como controlar a legalidade de todos os atos emanados dos órgãos e instituições andinos. É sua responsabilidade dirimir as controvérsias que possam surgir em relação ao direito comunitário e ainda unificar as jurisprudências dos quatro países, funcionando como uma Suprema Corte. 116

O Tribunal andino é bastante ativo, sendo atualmente a terceira Corte internacional mais ativa do mundo, atrás da Corte Europeia de Direitos Humanos e do Tribunal de Justiça da União Europeia. Isso faz com que o direito comunitário da CAN possua vasta jurisprudência, que serve como fonte e cria segurança jurídica para seus membros. É importante destacar ainda que os cidadãos andinos têm acesso direto à jurisdição do Tribunal sempre que precisem reivindicar direitos derivados do ordenamento jurídico comunitário.117

O Parlamento Andino (PARLANDINO) é o órgão representativo dos povos da Comunidade, representando os interesses das populações, e não dos Estados. Nele se delibera sobre a integração da sub-região e se propõem ações normativas para fortalecê-la. É composto por 20 parlamentares, 5de cada país, tendo, portanto representação igualitária. Seus membros deveriam ser eleitos por sufrágio direto e universal dentro de cada país, entretanto, a Bolívia ainda não realizou tais eleições, tendo-as previstas para o ano de 2015. Por ora, os parlamentares bolivianos são designados por sua Assembleia Legislativa.

Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=51&tipo=SA&title=fondo-latinoamericano- de-reservas>. Acesso em: 25 set 2014.

116 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H.. Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006. P. 25

117

TRIBUNAL de justicia de la comunidad andina. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=29&tipo=SA&title=tribunal-de-justicia-de-la-comunidad- andina>. Acesso em: 25 set 2014.

45 O funcionamento do PARLANDINO é complexo, contando com uma Oficina Central de caráter permanente, que funciona em Bogotá, na Colômbia, e quatro Oficinas de Representação Parlamentaria Nacionais, em cada um dos países-membros. Estes servem como organismo de coordenação entre a Secretaria Geral, as Comissões, a Mesa Diretora, os Parlamentos Nacionais, os demais órgãos do sistema e os membros do Parlamento Andino. O Parlamento tem como principais atribuições: a) promover e orientar o processo integrativo; b) exercer o controle político quanto aos rumos do processo, buscando o cumprimento de seus objetivos; c) promover a harmonização entre as legislações de seus membros; d) propor a incorporação de normas relacionadas ao cumprimento dos objetivos programáticos do processo; e e) promover a cooperação entre todos os órgãos e instituições do Sistema e os países-membros, bem como entre estes e os agentes externos à CAN. 118

Quanto ao Protocolo Adicional ao Acordo de Cartagena sobre o Compromisso com a Democracia, vai ao encontro do movimento de consolidação das democracias latino- americanas, consagrado em diversos tratados sub-regionais a partir da década de 1990, com a redemocratização pós-regimes militares na região. É um protocolo simples, que prevê as ações a serem tomadas pela CAN em caso de ruptura democrática em um de seus países membros, o que inclui sanções e mesmo a suspensão do membro até que a ordem democrática se reinstale.119

Para finalizar a estrutura normativa recente da CAN, cabe mencionar o Protocolo de Sucre de 1997. É um Protocolo importante por ter sido o último a modificar diretamente o Acordo de Cartagena. Suas disposições não trazem, porém, modificações às instâncias institucionais já consagradas pelo Protocolo de Trujillo, tendo um conteúdo muito mais programático, modificando algumas competências e definindo linhas de ações mais claras principalmente para a Comissão e para o Conselho de Ministros. Sua principal contribuição, destaque-se, foi a regulamentação do comércio intrasub-regional de serviços, passo imprescindível na configuração de um mercado comum.120

118 CAMINTI, Franz K.; CARRASCO, Salvador H.. Estrategias para la agenda económico-social de la

Comunidad Andina. Lima: Comisión Andina de Juristas, 2006. P. 25; PARLAMENTO andino. Site Oficial da

Comunidade Andina. Disponível em:

<http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=34&tipo=SA&title=parlamento-andino>. Acesso em: 25 set 2014; PERGUNTAS frequentes. Parlamento Andino. Site Oficial da Comunidade Andina. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Seccion.aspx?id=36&tipo=SA&title=preguntas-frecuentes>. Acesso em: 25 set 2014.

119 CAN. Protocolo Adicional al Acuerdo de Cartagena "Compromiso de la Comunidad Andina por la Democracia". Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Normativa.aspx?link=TP>. Acesso em: 20 out 2014.

120 CAN. Protocolo de Sucre. Disponível em: <http://www.comunidadandina.org/Normativa.aspx?link=TP>. Acesso em: 20 out 2014.

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