• Nenhum resultado encontrado

Em vez das antigas categorias filosóficas, como o ser-no-mundo, devemos fazer emergir a ideia de acção e de responsabilidade.638

631

SERRES, Michel (2007), Rameaux, pp. 194-195: “les organisations internationales s’occupent de nos relations comme si nous n’habitions ni ne changions la Terre.”

632

SERRES, Michel (2008), Le Mal propre. Polluer pour s’approprier?, p. 87: “Le premier qui, ayant enclos un jardin, s'avisa de dire: «Ceci me suffit», et demeure égonome sans baver sur plus d'espace, fit la paix avec ses voisins et garda le droit tranquille de dormir, de se chauffer, plus le droit divin d'aimer.”

633

SERRES, Michel (1990), Le contrat naturel, p. 67: “Le droit de maîtrise et de propriété se réduit au parasitisme. Au, contraire, le droit de symbiose se définit par réciprocité: autant la nature donne à l’homme, autant celui-ci doit rendre à celle-là, devenue sujet de droit.

634

SERRES, Michel (2003), L’Incandescent, p. 338: “Polluant les mers, rejetant des effluents dans l’atmosphère, nos techniques globales interviennent peu ou prou, sur l’environnement, de sorte que le climat, don’t les événements ne dépendaient pas de nous et passaient auprès de nos parents pour l’image même du hasard ou du destin, commence à en dépendre et que, par un choc en retour, nous dépendons de ce qui commence à dépendre de nous.”

635 Id., ibidem, p. 27. 636

Id., ibidem, p. 341.

637

SERRES, Michel (2011), La Guerre mondiale, p. 132: “nous voici dépendents des choses qui, justement dépendent, aujourd'hui de nous. Exemple: assujettis, premièrement, aux lieux, pour ne pouvoir les traverser avec aise, attachés, fixés à la glèbe, nous brûlames, dans un deuxième temps, beaucoup d'énergie pour asservir l'espace, avant que les blessures infligées par ce feu au onde nos amènent, enfin, à négocier avec la nature, ces actes: il nous faut aujourd'hui maîtriser la maîtrise.”

“Quem vencerá? No fim de contas, um e outro, ou seja, nem um nem outro. Pela adição do mesmo e do seu semelhante, o balanço final da concorrência violenta equivale ao equilíbrio igual da permuta”639

. Temos que fazer uma aposta na nossa responsabilidade: “Se considerarmos as nossas acções inocentes e ganharmos, não ganharemos nada, a história avançará como sempre; mas se perdermos, perdemos tudo, sem estarmos preparados para qualquer possível catástrofe. Mas se, ao invés, escolhermos a nossa responsabilidade: se perdermos, não perderemos nada, mas se ganharmos, ganharemos tudo, continuando agentes da história. Nada ou perda de um lado, ganho ou nada do outro: isso elimina toda a dúvida.”640

A experiência da responsabilidade é tanto mais importante na sociedade actual, que mergulhada no devir tecnocientífico, enleia a dimensão humana com a dimensão tecnológica, ao ponto de Michel Serres afiançar que “a técnica é a origem do homem”641

. Estamos já longe de um mundo onde apenas nos sentíamos ligados de forma local e circunscrita, sem responsabilidade nenhuma para além das nossas fronteiras, mas, actualmente, a força global da nossa acção e dos novos instrumentos obriga a Terra a ser nossa parceira.642

Sentimo-nos responsáveis pelos perigos que corremos que advém da nossa conduta. Na verdade poderemos perguntar: só lutamos contra nós próprios? “Por detrás dos adversários, aqueles que os combatem vêem desenhar-se os seus próprios rostos. Será que não mataremos mais ninguém? Encontrámos um novo Outro: já não nós próprios noutro lado, fora das fronteiras, mas nós próprios, juntos, projectados amanhã”.643

639

SERRES, Michel (1996), Atlas, p. 35: “Qui gagnera? En fin de compte, l’un et l’autre, donc ni l’un ni l’autre, en somme. Par l’addition du meme et de son semblablel le bilan terminal de la concurrence violente revient à l’égale balance de l’échange”.

640

SERRES, Michel (1990), Le contrat naturel, p. 19: “Si nous jugeons nos actions innocents et que nous gagnions rien, l’histoire va comme avant; mais si nous perdons, noius perdons tout, sans préparation pour quelque catastrophe possible. Qu’à l’inverse nous choisissions notre responsabilité: si nous perdons, nous ne perdons rien; mais si nous gagnons, nous gagnons tout, en restant les acteurs de l’histoire. Rien ou perte d’un côté, gain ou rien d’autre part: cela ôte tout le doute.”

641

SERRES, Michel (1972), Hermès II. L’interférence, p. 172: “La technique est l’origine de l’homme; sa perpétuation et sa répétition.”

642 SERRES, Michel (1990), Le contrat naturel, p. 170: “Je me souviens, pour y avoir vu le jour et assimilé

une culture, de cet ancient monde sans monde, où nous n’étions que localement lies, sans responsabilité aucune au-delá de nos étroites frontières. (…) La puissance globale de nos nouveaux outils nous donnes aujourd’hui la Terre comme partenaire”.

643

SERRES, Michel (2009), Récits d’Humanisme, p. 151: “Derrière les adversaires, ceux-là mêmes qui les combattent voient se profiler leur visage. Ne tuerons-nous plus personne? Nous avons trouvé un nouvel Autre: non plus nous-mêmes ailleurs, en dehors des frontières, mais nous-mêmes, ensemble, projetés demain.”

Ao invés de um receber tudo sem dar nada e o outro dar tudo sem receber, a simbiose permite benefícios mútuos, fruto de um contrato tácito que permite parcerias ou trocas equilibradas.644 A morte ou a simbiose? Eis a bifurcação da história.645 “Escolher: o império ou a Terra? Mas esta sempre ganhou até hoje.”646

De facto, as consequências negativas do domínio sobre a Natureza, leva à imposição da responsabilidade como critério principal na execução das nossas acções. O homem admite finalmente a sua culpa. Serres fala-nos de um homo populator, que toma consciência de si mesmo e dos seus actos e de uma nova relação com os seres vivos que tende para um horizonte de integração universal, porquanto procura controlar o controlo que tem em relação ao planeta.647 Na verdade, tudo depende do homem. Por isso, “por novos e inesperados laços, acabamos nós mesmos por depender de coisas que dependem globalmente de nós. Nesse ponto, riscos e oportunidades cruzam-se tão depressa como a nossa omnipotência.”648

Daí, que homem veja crescer a responsabilidade em relação a si próprio e ao mundo.649 O nosso destino comum depende da nossa omni- responsabilidade.650

Doravante, também e, de forma mais especial, os cientistas têm novas responsabilidades, o seu trabalho não é meramente técnico, mas também ético. “A verdade cede lugar à responsabilidade em relação a um possível realizável ou imposto. Sem sair do próprio campo da ciência, pelo virtual da simulação, estamos em vias de passar do epistemológico ou do cognitivo à ética da acção”. Assim, a par da questão: “dizemos a verdade?”, devemos também colocar a interrogação: “fazemos bem?”. O problema epistemológico é também um problema ético.651

644

SERRES, Michel (2002), En Amour, sommes-nous des bêtes?, pp. 41-42.

645 SERRES, Michel (1990), Le contrat naturel, p. 61: “Voici la bifurcation de l’histoire: ou la mort ou la

symbiose.”

646

SERRES, Michel (1991), Le tiers-instruit, p. 143: “Choisir: l’empire ou la Terre? Celle-ci a gagné jusqu’à aujour’hui.”

647

SERRES, Michel (2003), L’Incandescent, p. 361.

648

SERRES, Michel (2001), Hominescence, p. 13: “Tout depend de nous. Et par des boucles nouvelles et inattendues, nous finissons nous-mêmes par dépendre des choses qui dépend globalment de nous. Là, risques et chances croissent aussi vite que notre omnipotence.”

649

Id., ibidem, p. 34.

650 Id., ibidem, p. 164. 651

SERRES, Michel (1996), Atlas, p. 244: “la verité laisse la place à la responsabilité par rapport à un possible réalisable ou imposé. Sans sortir du champ même de la science, par le virtuel de la simulation, nous sommes en train de passer de l’épistémologique ou du cognitif à l’éthique de l’action (…) La question: disons-nous vrai? Converge la question: faisons-nous bien?”