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A preservação da arquitetura em Cataguases, tanto dos edifícios isolados como da imagem urbana, deve ser encarada como apenas uma parte da preservação da memória da cidade. Nos últimos anos, a preservação da arquitetura industrial e moderna e da arte moderna cataguasense tem sido o carro chefe desse movimento, indicando a clara criação de um patrimônio, eleito entre as possibilidades históricas e estéticas.

A reboque do discurso de preservação da arquitetura e da arte modernista é que está se moldando todo o vocabulário e repertório de preservação dos outros referenciais culturais da cidade, em direção à construção de uma política abrangente de patrimônio, que crie referências próprias para a população local. Os exemplares remanescentes da arquitetura eclética e tradicional, o traçado do núcleo primitivo e do caminho de ferro, a Estação de trem construída para o embarque do café, o Rio Pomba etc., mostram-se tão importantes quanto as manifestações de arte moderna na literatura e no cinema e têm sido colocados em segundo plano em relação ao propagado patrimônio modernista, sem dúvida, importantíssimo. Porém, a

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leitura desse material moderno se faz mais clara com a sua contextualização histórica e paisagística, ou seja, a preservação do contexto urbano em que se inserem as obras modernistas.

As demolições sem dúvida significam a perda irreversível de exemplares que contribuíram, em certo momento, com qualidades que não poderão nunca ser recuperadas em novos edifícios, e são o preço a ser pago por uma cidade onde a tradição, inclusive aquela eleita como sua memória mais importante, é feita de inovação, através de substituições e reconstruções. Se o orgulho de Cataguases é o ato inovador que a arquitetura moderna impingiu durante uma época definida, a proposta de preservação deve permitir – e até incentivar – a recriação de formas construtivas, a liberdade de proposição de novos esquemas espaciais. Não deve ser negada a inserção de novos esquemas compositivos, materiais, sistemas construtivos e as consequentes novas cargas simbólicas da arquitetura. Esta só será valorizada se for interpretada por seus moradores como evolução, e não como repetição do passado.

A delimitação do Centro Histórico de Cataguases, ou da área de preservação da imagem urbana, iniciada com o tombamento e ampliada pela Zona de Proteção Cultural, concorre para a delimitação de uma área cada vez maior, tornando mais coerente a noção de entorno e de conjunto urbano protegido. Apesar de englobar áreas com características diversificadas (residenciais, industriais, comerciais, mistas), o fato que as une é serem tratadas como pertencentes a um conjunto de importância simbólica e, consequentemente, ter a sua evolução formal analisada sob este aspecto, utilizando todos os mecanismos de gestão atuais, municipal, estadual, federal, associações de moradores, ONGs etc., concorrendo para a valorização da imagem urbana como um bem a ser preservado.

Considerando a dinâmica urbana passada e a perspectiva de contínua evolução, fica clara a tendência que todas as cidades têm em abrigar o antigo e o moderno como participantes de um processo de convivência. A sociedade de Cataguases também se mostra dinâmica, demonstrando novas relações de poder, com prospectiva de surgimento de outras referências merecedoras de preservação (ALMEIDA, 2004). Esta tendência implica na atribuição de valor qualitativo não só ao centro histórico, mas a toda a mancha urbana.

Este trabalho identificou convergências nas propostas de preservação da imagem urbana de Cataguases, elaboradas pelos diversos entes que estão

participando da gestão urbana, e identificou dificuldades na descrição desta imagem urbana para que seja claramente estabelecida como elemento fundador de um projeto de cidade.

Identificou também dificuldades na implantação das propostas e na gestão cotidiana do ambiente construído.

A partir desta investigação, alguns conceitos se tornaram mais claros (a questão da altimetria predominante, a face de quadra, a convivência estilística) e outros surgiram como necessidade de definição de mecanismos de controle (a unidade formal). A herança que o modernismo legou a Cataguases é que o processo de formação da sociedade é dinâmico, assim como que a construção do patrimônio cultural desta sociedade e suas manifestações culturais têm lugar na urbanidade, nela se refletem e dela se alimentam. A cidade de Cataguases se mostra como um grande laboratório potencial para outros estudos e para o aprofundamento da investigação da imagem urbana, da estética arquitetônica, da criatividade humana e da arte de se construir cidades.

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