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2.1 Patrimônio cultural urbano

3.1.2 Os projetos de pesquisa

Em outubro de 1987, a então Secretária Municipal de Cultura, Esportes e Turismo de Cataguases, Sra. Maria de Lourdes Paixão de Rezende, encaminha correspondência ao SPHAN/FNPM solicitando a presença da servidora Maria das Dores Freire, com a qual já havia estabelecido contato anterior, para acompanhamento e orientação a um levantamento de dados, “visando resgatar a

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cultura e memória cataguasense, enfatizando principalmente a fase do movimento modernista”.9

A partir daí iniciou-se, oficialmente, uma parceria para levar a cabo o Projeto Memória e Patrimônio Cultural de Cataguases, cujo objetivo, de acordo com o diretor Regional do SPHAN, era “o resgate da história social e identificação do patrimônio, focalizando especificamente a base industrial do início do século XX e o movimento modernista”.10

Coordenados por técnicos do SPHAN/FNPM, o projeto se dividiu em equipes, contando com a parceria de professores e aluno da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cataguases (FAFIC): equipe de História Documental, equipe de Evolução Urbana e Bens Imóveis, equipe de Bens Móveis e Integrados, equipe de História Oral e equipe de Memória Visual. O projeto resultou na publicação de três livros, em 1988, 1990 e 1996, reunindo textos, fichas de inventário, mapas, transcrição de entrevistas e reprodução de fotografias antigas. Na publicação de 1988 revela-se a expectativa que se tinha do material a ser trabalhado e o que significou esta pesquisa: “Cada pedra do “gigante adormecido” da Zona da Mata em Cataguases está sendo remexida, nestes últimos seis meses, pelas equipes do Projeto Memória e Patrimônio Cultural de Cataguases” (PREFEITURA MUNICIPAL DE CATAGUASES, 1988).

Este é um material que reúne informações das mais diversificadas fontes e que atendeu diretamente à solicitação de elaborar o levantamento de dados para resgatar a memória e a cultura cataguasense.

Após o Projeto Memória e Patrimônio Cultural, que elaborou um levantamento de dados abrangente para resgatar a memória e valorizar as artes modernistas, outros atores entraram em cena com objetivos mais específicos. Na década de 1990, o departamento estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) propôs um projeto de pesquisa denominado Cataguases: um olhar sobre a

modernidade brasileira. Este projeto foi apoiado pela Secretaria de Cultura do

Estado e pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG). O projeto surgiu direcionado apenas ao movimento modernista, incluindo todas as suas manifestações. No início de 1994, Cataguases sediou um

9 Correspondência da Prefeitura Municipal de Cataguases e da SPHAN/FNPM (INSTITUTO DO

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 1994).

10 Correspondência da Prefeitura Municipal de Cataguases e da SPHAN/FNPM (INSTITUTO DO

evento com a publicação de Cataguases: um olhar sobre a modernidade (MIRANDA

et al., 1994), contendo pesquisa sobre Arquitetura, Artes Plásticas, Mobiliário,

Cinema e Literatura produzidos em Cataguases, trabalho de pesquisa que reuniu dados sobre as primeiras publicações literárias das décadas de 1910 e de 1920, da profícua produção artística e arquitetônica entre as décadas de 1920 e 1950, até as últimas obras arquitetônicas consideradas modernas, no fim da década de 1960.

Nessa publicação foi veiculada a ideia de utilizar o instrumento do tombamento para proteção desse acervo:

A presente obra foi motivada pelo empenho de um levantamento descritivo e analítico do patrimônio artístico modernista acumulado na cidade de Cataguases, desde as primeiras décadas do século XX. Com aliança de diversos setores da iniciativa privada e serviços públicos foi contratada uma equipe rica em valores intelectual, técnico e científico para a realização de tombamento do extraordinário acervo. A qualidade do trabalho final da equipe levou as instituições envolvidas no projeto à iniciativa de edição de um catálogo em formato tabloide com 34 páginas ilustradas, intitulado Cataguases: um olhar sobre a modernidade. (MOURA, 1994)

Esses textos compõem excelente fonte de pesquisa e apresentam análises detalhadas nas áreas listadas, como a pesquisa de arquitetura assinada por Selma Miranda e a de Artes Plásticas assinada por Cristina Ávila e, conforme observa Alonso (2010), foram muito utilizados para o embasamento técnico do Dossiê de Tombamento que seria feito naquele mesmo ano, 1994.

3.1.2.1 Os projetos de pesquisa e a imagem urbana de Cataguases

Os trabalhos de pesquisa não mencionam especificamente o que consideramos como imagem urbana de Cataguases, mas incluem relatos que ajudam a reconstruir muito de partes da cidade que não possuem outros registros, além de incluir impressões pessoais, como a última fala da entrevista da professora Ecilia Lobo: “Cataguases foi sempre uma cidade muito interessante, muito animada, muito alegre e muito viva. E fina. Foi sempre muito considerada!”, e sua fala específica sobre a Praça da Estação: “João Duarte... [...] ele tinha um grande engenho de café e um grande engenho de arroz. Ali naquele correr todo, que é desde o Hotel Villas até a fábrica (Irmãos Peixoto). Ali era dele...” (PREFEITURA MUNICIPAL DE CATAGUASES, 1988).

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O pintor, escritor, historiador, professor e produtor de arte Aníbal Mattos, que foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, publicou na revista A Matta, ainda no fim da década de 1920:

Cataguases, depois de Juiz de Fora, é na Matta, a cidade que mais surpreende pelo seu progresso. [...] Onde a construção moderna está esplendidamente representada é em Cataguases. Várias são as casas particulares em nada inferiores às boas residências do Rio e de São Paulo. Basta citar as dos Drs. Gabriel Junqueira, Sandoval Azevedo, Lobo Junior, Manoel Peixoto e Pedro Dutra. As duas últimas, situadas admiravelmente na avenida principal, elegantemente cortada por um ribeirão canalizado, são habitações moderníssimas, feitas com rigoroso cuidado e um tal requinte de elegância e contato que, chego a duvidar, possa haver construções melhores em nosso paiz. Cataguases é a cidade que anseia ser uma verdadeira cidade moderna. (MATTOS apud ÁVILA, 1994)

Outros relatos de personagens fazem descrições de trechos urbanos alterados (relato do comerciante Carlos Carvalho):

Ali na avenida (Astolfo Dutra) plantava arroz ali. Naquele tempo tudo era brejo.

A casa que eu morei foi do José Schettini, que também era dono do Hotel Avenida, onde é a Caixa Econômica (hoje). Ele era dono daquilo ali e daquele correr todo que vai até na casa Felipe. (PREFEITURA MUNICIPAL DE CATAGUASES, 1988)

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