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Em La noticia como discurso (1996, p .13), proposta de Van Dijk é analisar as

notícias, em primeiro lugar, como um tipo de discurso periodístico8. O autor assinala ainda que sua análise recai também sobre a descrição das especificidades estruturais do discurso periodístico na comparação com outros discursos. Segundo van Dijk (1996), a sua investigação tem por finalidade estabelecer um novo marco teórico para o estudo da notícia na imprensa.

No intuito de alcançar o seu objetivo, o autor discorre brevemente sobre diferentes usos do termo notícia. Em língua inglesa, por exemplo, a expressão news story refere um tipo especial de narrativa que, para van Dijk (1996) difere de narrativas presentes em conversações, romances e livros infantis. O termo notícia, portanto, é utilizado para designar diferentes gêneros textuais de diferentes domínios discursivos. Daí o autor julgar necessário especificar as diferenças entre os relatos acima discriminados e os relatos periodísticos – as notícias.

É importante destacar que, por sua vez, a expressão notícias da imprensa também refere um conjunto variado de textos veiculados em diferentes meios – rádio, TV, jornais etc –, mas semelhantes entre si, dentre os quais são incluídos, segundo van Dijk (1996), os editoriais e anúncios. A partir das observações do autor, é plausível considerar a notícia não como um gênero específico, no sentido de Bakhtin (2000) lhe confere, com um formato relativamente estável. Talvez seja interessante compreender a notícia como uma área discursiva inserida no domínio jornalístico, ou como uma ação – a de noticiar – que se realiza em diversos gêneros textuais.

Além da preocupação em categorizar os diferentes tipos de notícia, Van Dijk (1996, p. 14) assinala seu interesse em compreender

as complexas relações entre o texto da notícia e o contexto: de que maneira as restrições cognitiva e social determinam as estruturas da notícia [...],

8 La principal característica de nuestro enfoque es analizar las noticias, en primer lugar, como un

como também saber por que a notícia tem sua estrutura específica e que papel desempenham as ditas estruturas na comunicação de massa.

Assim, Van Dijk (1996) explicita seu interesse pelo processamento cognitivo das estruturas da notícia referente à produção e à compreensão. Em outros termos, a preocupação do autor é explicar os processos cognitivos implícitos de compreensão, reconstrução e recuperação dos fatos periodísticos, considerando os caminhos percorridos pelo produtor, na representação dos fatos, e pelo leitor na reconstrução dos fatos e atualização de suas crenças, o que proporciona uma explicitação do papel das ideologias na produção e compreensão da notícia.

Para compreender esses processos cognitivos, Van Dijk (1996) considera importante apresentar seu conceito de notícia, ou melhor, explicitar as intuições cotidianas sobre o que é notícia, pois segundo o autor nenhuma definição será suficientemente satisfatória; a teoria como um todo é que delineará mais apropriadamente o objeto. Isto porque a noção de notícia é ambígua, tem um uso bastante extenso e não se refere apenas ao domínio do discurso jornalístico. Como lembra Van Dijk (1996, p. 16), o conceito geral de notícia como “informação nova” aparece em falas cotidianas, como: Tenho más notícias para você ou Quais são as últimas notícias de seu filho?; e esta noção difere do conceito de notícia relacionado à mídia, que se verifica em:

Você viu as notícias à noite? Esta última noção, por sua vez, também apresenta

ambigüidade, pois pode aludir a um novo artigo ou às novas informações veiculadas em algum programa de TV. Diante dessas questões, Van Dijk (1996) assinala que a notícia relacionada à mídia pode apresentar os seguintes conceitos:

1. Nova informação sobre fatos, objetos e pessoas.

2. Um programa tipo (de televisão ou de rádio) no qual se apresentam itens jornalísticos.

3. Um item ou informe jornalístico, como por exemplo um texto ou discurso no rádio, na televisão ou no jornal, no qual se oferece uma nova informação sobre fatos recentes. (VAN, DIJK, 1996, p. 17).

Feita a exposição dos diferentes conceitos, o autor esclarece que sua opção é pelo conceito de notícia apresentado no item 3, pois seu trabalho diz respeito à analise de

textos responsáveis pela divulgação de notícias no domínio discursivo jornalístico, como TV, rádio e mídia impressa. Ainda assim, Van Dijk (1996) assinala que este conceito também apresenta ambigüidades porque pode referir-se a um artigo de jornal, abarcando todo o discurso incluindo o aspecto físico, ou a um item específico, por exemplo. Esta última noção aproxima-se do primeiro conceito de notícia – nova

informação sobre fatos, objetos e pessoas. Como podemos observar, não é uma

tarefa das mais fáceis precisar o conceito de notícia. Ao que parece, a proposta de Van Dijk (1996) de delinear o objeto ao longo de toda a teoria é bastante pertinente.

Por outro lado, diante do fato de todos os conceitos apresentarem ambigüidade e apontarem para um objeto extremamente amplo, o autor assinala a necessidade de restringir seu objeto de análise. Desse modo, Van Dijk (1996) desconsidera em sua análise as notícias veiculadas no rádio e na TV, concentrando-se na investigação do discurso jornalístico impresso, ou seja, nas notícias veiculadas nos jornais de circulação diária.

Sobre a seleção do objeto, o autor esclarece que, embora tenha razões de ordem pessoal para essa restrição, há outros motivos que devem ser considerados: a) primeiramente, o fato de que, nas últimas décadas, muito se tem investigado a respeito das notícias televisivas, em função de seu alcance social; b) as investigações sobre a mídia impressa de vários países têm feito observações específicas sobre as estruturas da notícia; c) por último, Van Dijk destaca que a noção de notícia não está satisfatoriamente esclarecida. Em muitos casos, inclusive, não são muito claros os limites de sentido no uso dos termos notícia e publicidade.

Assinala ainda Van Dijk (1996) que também há informações novas em informes meteorológicos, em tirinhas, editoriais, comentários de livros, seções de arte etc. Entretanto, seu interesse é analisar os artigos jornalísticos no sentido estrito, ou seja,

o discurso jornalístico sobre os fatos políticos, sociais ou culturais que tenham acontecido. (VAN DIJK, 1996, p. 18). A exclusão dos editoriais de seu material de

análise é justificada pela distinção, feita pelo autor, entre discurso informativo e discurso avaliativo. Mesmo reconhecendo a fragilidade dessa dicotomia, devido ao fato de o aspecto opinativo se encontrar inscrito em todos os discursos, o autor opta pelo primeiro tipo de discurso por razões metodológicas, e exclui, a partir disso, os

editoriais, que são constitutivos do discurso avaliativo predominantemente, embora reconheça que este gênero possa também conter informação.

4.1. As estruturas da notícia na visão de Van Dijk