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Principais figuras de um sistema político, a obtenção de dados sobre as carreiras e características dos líderes de governo europeus não se revelou, no entanto, fácil. Esta era, no entanto, uma tarefa fundamental para perceber até que ponto estas podiam ser influenciadas pelas diferenças institucionais e partidárias identificadas nos capítulos anteriores.

Apesar das dificuldades, foi possível obter um conjunto substancial de informações. Ao todo, reunimos 14 indicadores sócio-demográficos e políticos, resultantes de informações que cruzámos através de múltiplas fontes consultadas e cruzadas, de forma a evitar ao máximo os erros inevitáveis num assunto que levanta dúvidas: o percurso dos chefes de governo. Veja-se, por exemplo, os casos recentes dos primeiros-ministros português e irlandês38 (José Sócrates e Bertie Ahern), quando se colocou em causa a fiabilidade das respectivas biografias oficiais, para perceber como o passado revelado por um político levanta, por vezes, alguns pontos de interrogação.

Dúvidas que na nossa análise foram esquecidas, por simples impossibilidade de conferir a veracidade das notas biográficas publicadas pelas entidades oficiais (e, supõe-se, fornecidas pelos próprios), e que foram uma das principais bases de trabalho. No entanto, outras fontes também foram utilizadas. Em primeiro lugar, destaque para uma série de bases de dados, como o The International Who´s Who – Europa Biographical Reference39, o serviço on-line de Biografias de Líderes Políticos da Fundação CIDOB40, ou as reconhecidas enciclopédias Britannica ou Encarta. Foi ainda possível que algumas entidades oficiais (governos) de alguns países indicassem algumas fontes a consultar. Depois, foram feitas múltiplas pesquisas na Internet com o intuito de encontrar os dados pretendidos, nomeadamente através dos sítios oficiais dos governos, que

38

Ver http://dossiers.publico.pt/dossier.aspx?idCanal=2123 para o caso de José Sócrates e http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/3623149.stm para o de Bertie Ahern.

39

http://www.worldwhoswho.com 40

muitas vezes apresentam pequenas biografias dos seus antigos líderes (Bélgica, Espanha, França, Holanda, Irlanda, Reino Unido, Luxemburgo), mas também a centenas de notícias em meios de comunicação social ou outros sítios não oficialmente ligados aos executivos. Finalmente, e numa opção que admitimos não ser consensual, usámos como mais uma fonte a enciclopédia on-line Wikipédia41, numa decisão que tem por base, sobretudo, um recente estudo da revista Nature42 que comparou o seu rigor científico com o da enciclopédia Britannica, concluindo que este era muito semelhante. Ideia a que, numa base não científica, mas relacionada com a prática da recolha de dados, também chegámos, no caso das biografias de primeiros-ministros europeus, com os múltiplos cruzamentos que fomos fazendo ao longo da recolha de dados e que nos foram dando cada vez mais fiabilidade a esta fonte.

O cruzamento máximo de dados foi, aliás, a principal forma que usámos para desfazer dúvidas que naturalmente foram surgindo quando se consultam várias fontes de informação, não apenas pelos dados que por vezes surgiam incompletos, como por outros que não coincidiam nas várias biografias consultadas. Nestes casos, a solução adoptada recaiu em usar aqueles que nos pareciam mais fidedignos (e mais oficiais) ou aqueles que apareciam mais vezes nas várias fontes consultadas43.

Admitindo desde já erros marginais, naturais numa base de dados deste género, acreditamos que este cruzamento de informação foi o método que nos permitiu obter uma informação mais fidedigna44. Além disso, não temos razão para pressupor que informações eventualmente incorrectas estejam distribuídas de

41

www.wikipedia.org. Apesar de polémica, a Wikipedia é citada em artigos de revistas

internacionais de Ciência Política com um objecto de estudo semelhante ao nosso – ver as fontes do recente trabalho de Anil Hira (2007), «Should Economists Rule the World? Trends and Implications of Leadership Patterns in the Developing World, 1960-2005», na International

Political Science Review, vol. 28, nº 3, pp. 325-360. 42

Revista Nature, vol. 438, 15 de Dezembro de 2005, pp. 900-901, com conclusões depois contestadas pela Britannica (http://corporate.britannica.com/britannica_nature_response.pdf). 43

Não raras vezes, a fonte Wikipédia, aparentemente menos fiável, apresentava dados diferentes de outras bases de dados que depois, quando confrontadas com outras fontes oficiais, se revelavam certeiras. O mesmo aconteceu também, no entanto, em sentido contrário. Além disso, os principais casos conhecidos de biografias erradamente alteradas (de propósito) na Wikipédia referem-se quase sempre a líderes políticos contemporâneos, para os quais as fontes disponíveis são bem mais vastas (permitindo mais cruzamentos) do que para os de décadas anteriores, em que essas

informações são mais limitadas. 44

Todos as informações usadas para caracterizar cada um dos primeiros-ministros europeus neste trabalho estão disponíveis nos anexos.

forma desproporcional pela amostra, pelo que se estas ocorrerem não estaremos sistematicamente a avaliar incorrectamente algum dos países em causa.

Finalmente, é necessário explicitar algumas das opções tomadas antes de iniciarmos a análise dos dados. Nomeadamente, sobre a categorização das áreas de estudos superiores e profissões dos líderes de governo. Por muito estranho que possa parecer, a definição clara e categorização destas características não é, em vários casos, simples. Sobretudo, para a análise estatística.

No percurso educacional, é frequente encontrar num mesmo governante mais do que uma área de formação académica superior. Além disso, nalguns países existem licenciaturas que não se enquadram facilmente numa área específica – alguns cursos do Institut d’Etudes Politiques e Ecole National d’Administration, muito frequentes na elite francesa da V República; ou o bacharelato em Philosophy, Politics, and Economics, formação de três primeiros- ministros ingleses.

Nas profissões, a análise é ainda mais difícil. Sobretudo, porque a carreira profissional de um líder de governo não se resume, muitas vezes, a um único cargo ligado a uma profissão específica.

Em ambos os casos, a solução adoptada foi comparar nos quadros de análise aquela que é a área de estudos e profissão mais comum entre a elite europeia, a todas as outras. Ou seja, no caso da vida académica, distinguir os licenciados em Direito (mesmo que com estudos noutra área) dos restantes. Opção igual foi tomada nas profissões, mas desta vez o grupo de referência são os advogados.

Finalmente, nas variáveis políticas, as classificações mais complicadas foram a carreira parlamentar e liderança de um partido. No primeiro caso, a dúvida estava em contar como tempo no parlamento aquele que em alguns países é passado com acumulação de cargos no governo. A opção foi não contar esse tempo, por acharmos que em caso de sobreposição há uma posição que sem dúvida é mais importante do que a outra. Esse tempo é assim contado apenas como anos passados no executivo (como secretários de Estado ou ministros) e não na legislatura.

Quanto à liderança de um partido aquando da tomada de posse, o problema surgiu nos casos holandês, onde o líder governamental é escolhido entre os líderes parlamentares, e belga, onde o primeiro-ministro tem, mal toma posse, de

abandonar a liderança do seu partido. As soluções adoptadas foram não incluir a Holanda nesta análise específica, enquanto que na Bélgica a liderança é contada se ocorrer até à chegada ao cargo.

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