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Explicado o poder dos diferentes líderes de governo europeus e a forma como este índice foi elaborado por Anthony King, e porque os governos de coligação são menos vezes chefiados por líderes partidários, será de esperar que:

• Os primeiros-ministros de países onde este tem mais poder são mais vezes líderes de um partido e resistem mais tempo no cargo.

2.5. O número de partidos no parlamento, governo e o sistema eleitoral

O «número médio efectivo de partidos no parlamento» é outro indicador que apresentamos e tentamos ver se está relacionado com as características do primeiro-ministro.

De entre as várias respostas à pergunta sobre “como se devem contar partidos?”, a fórmula apresentada por Laakso e Taagepera será a melhor e mais utilizada (ver Lijphart, 1999; Park, 2004; e Amorim Neto e Strom, 2004). O seu objectivo passa essencialmente por explicitar a real força dos partidos eleitos para o parlamento pelo número de lugares que elegeram. Se as forças políticas tiverem força igual (50% uma e 50% outra), o número efectivo será igual a esse número de partidos (neste caso, 2). Se a sua força não é igual (por exemplo, 70% e 30% de deputados), o resultado será inferior (ou seja, 1,7) ao número de partidos que na realidade se contam na legislatura.

O número médio efectivo de partidos no parlamento para cada país presente no quadro 2.5. e usado no resto do trabalho resulta da média dos valores presentes no livro Comparative European Party Systems, de Alan Siaroff (2000), no qual o autor apresenta dados para os países em estudo para todas as eleições realizadas de 1945 a 1999. Os valores mostram de novo grandes diferenças entre os países europeus27, com sete casos a ficarem entre os 2 a 3 partidos (Alemanha, Áustria, Espanha, Grécia, Irlanda, Portugal e Reino Unido) e seis a aproximarem- se ou ultrapassarem os 5 (Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França IV e Holanda).

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Os resultados são muito semelhantes em praticamente todos os países aos de Lijphart (1999, pp. 64-69), que faz as mesmas contas para um período que vai de 1945 a 1999.

Quadro 2.5. Número médio efectivo de partidos no parlamento, sistema eleitoral e coligações na União Europeia

País Número médio efectivo de partidos no parlamento Sistema eleitoral Percentagem de governos de coligação

Reino Unido 2,1 Maioritário 0%

Grécia 2,2 Proporcional 22,2% Áustria 2,5 Proporcional 88,9% Alemanha 2,7 Misto 100% Espanha 2,7 Proporcional 0% Irlanda 2,8 Proporcional 50% Portugal 2,9 Proporcional 41,6% Suécia 3,4 Proporcional 36,4% França V 3,5 Maioritário 100% Luxemburgo 3,5 Proporcional 100% Itália 4,2 Proporcional (até 93) e Misto (depois 93) 67,6% Dinamarca 4,5 Proporcional 26,7% Holanda 4,6 Proporcional 100% França IV 4,9 Proporcional 100% Finlândia 5,1 Proporcional 67,6% Bélgica 5,4 Proporcional 81,0%

Fontes: NEPP: média dos valores presentes sobretudo em Siaroff, A.(2000) para o primeiro governo de um determinado primeiro-ministro analisado. Coligações: dados sobre formação de governos presentes sobretudo em Siaroff, A.(2000) para o primeiro governo de um determinado primeiro-ministro analisado; Sistema eleitoral: Reynolds, A., et al.. (2005),

Electoral System Design: The New International IDEA Handbook, International Institute for Democracy and Electoral

Assistance, disponível em /www.idea.int; e Siaroff, 2000, para caso italiano

Correlacionado com o número efectivo de partidos no parlamento, que depois gera o sistema partidário que por sua vez influência os tipos de governo, surge, muitas vezes, o sistema eleitoral (Lijphart, 1999, pp. 62-64 e 112-113). É essa variável que apresentamos na coluna seguinte, distinguindo entre três tipos: proporcional, misto e maioritário.

Na maioria das democracias, o voto é o acto de participação política mais frequente e, muitas vezes, o único de muitos cidadãos (Pasquino, 2002, p. 117). Os sistemas eleitorais são uma das diferenças institucionais mais estudadas e debatidas na Política Comparada e vistos como uma espécie de “roda pedaleira” que permite o girar da democracia (Norris, 1999, pp. 218-221; e 2004, pp. 249- 264). As eleições são um momento central em todas as democracias representativas e a forma como os votos são traduzidos em mandatos tem

consequências nos sistemas políticos (Sartori, 1994, p. 15; e Farrel, 2001, pp. 1-4 e 153).

Na delegação de poderes dos eleitores, os sistemas eleitorais são vistos como uma das variáveis mais importantes na explicação de vários fenómenos políticos. Influenciam os resultados eleitorais, a representação e a proporcionalidade; os sistemas de partidos; a formação de governos e a política de coligações; mas também podem ajudar a explicar as opções políticas ao dispor dos cidadãos e o seu voto; ou a vida e coesão dentro dos partidos. Deles podem depender, por exemplo, a maior ou menor facilidade de um cidadão em obter representação numa legislatura, as ligações entre eleitor e eleito e a criação de coligações ou governos de partido único (Lijphart, 1990; Farrel, 2001, pp. 1-4; e Farrel e Scully, 2002; Norris, 2004, pp. 230-246; Gallagher e Mitchell, 2005, p. 4; e Golder, 2005).

Para Sartori (1994, pp. 46-55), os sistemas eleitorais têm sobretudo dois efeitos: sobre o votante e no número de partidos. Outros autores vão mais longe e salientam as consequências das diferentes opções sobre o recrutamento de mulheres e minorias (Norris, 2004, pp. 179-229; e Ballington e Karam, 2005), a selecção de candidatos (Lundell, 2004), a satisfação dos cidadãos com o seu sistema político (Norris, 1999) ou, até, sobre os gastos públicos e política fiscal (Persson et al, 2003).

Os dados apresentados neste quadro mostram que os sistemas proporcionais são, de longe, os mais presentes nos países europeus analisados, com 13 casos. Tal como os sistemas mistos (que tentam reunir de formas muito diferentes as características das duas soluções puras [Pasquino, 2002, pp. 146-148; e Blais e Massicote, 2003, pp. 54-56]), presentes na Alemanha e Itália, os maioritários apenas surgem em dois países – Reino Unido e V república francesa –, que pertencem, curiosamente, a dois regimes muito diferentes – parlamentar e semi-presidencial.

Finalmente, os últimos dados do quadro 2.5. estão relacionados com a percentagem de primeiros-ministros que no seu primeiro mandato chefiaram governos de coligação, e cujas implicações no seu recrutamento político já vimos no capítulo 1, com menos líderes partidários. Os números são muito variáveis e mostram que há países onde esta foi uma realidade em todos os governos estudados (Alemanha, França, Luxemburgo e Holanda), enquanto que noutros os

executivos de mais do que um partido são não apenas pouco comuns (Grécia e Dinamarca), como inexistentes (Espanha e Reino Unido).

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