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2 A GEOGRAFIA EM BUSCA DE SUA UNIDADE

2.1 A NOVA GEOGRAFIA

Em meados do século XX, principalmente na Alemanha, aprofundou-se a linha positivista, desenvolvendo-se uma nova corrente do pensamento geográfico designada de “Nova Geografia”.

Essa corrente da geografia também pode ser chamada de Geografia Teorética, Geografia Quantitativa, Geografia Pragmática ou, mais apropriadamente, Geografia Neopositivista. Muitos críticos dessa corrente também a denominavam de “Geografia Tradicional”, pois não se diferenciou significativamente da geografia tradicional preponderante até o início do século XX

Em seu início, essa corrente geográfica apoiou-se em diversas teorias, em especial nas teorias das ciências econômicas, a exemplo da “Teoria das Localidades Industriais” 11, de 1908, e a “Teoria dos Lugares Centrais” 12, de 1933.

Na década de 1950 surgem indícios de uma estrutura teórica própria dessa corrente do pensamento geográfico com a Teoria do Equilíbrio Dinâmico, de John T. Hack (1960), e a obra de Leopold e Langbein (1962), a qual abordava as perspectivas da Teoria Probabilística da Evolução do Modelado Terrestre. Estas teorias permitiram propor explicações diferentes aos mesmos conjuntos de fatos, substituindo as explicações davisianas, a exemplo do perfil longitudinal dos cursos de água e dos problemas relacionados com as capturas fluviais e oscilações do nível de base (CHRISTOFOLETTI, 1985).

Ferreira et al (1986) destacam que nos Estados Unidos e Grã-Bretanha, essa corrente de pensamento, já nas décadas de 1940 e 1950, apresentava as seguintes características:

− Todo o conhecimento se assenta na experiência; o neopositivismo é profundamente anti-idealista e exclui todos os problemas metafísicos;

− Deve existir uma linguagem comum a todas as ciências;

− A investigação científica e os resultados devem ser expressos de uma forma clara, o que exige o uso da linguagem matemática e da lógica;

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Alfred Weber

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− Recusa um idealismo científico entre as ciências naturais e as ciências sociais.

Alguns temas dessa geografia obrigam a recorrer à lógica e à matemática; à adoção de métodos científicos e desenvolvimento de um corpo teorético que permita explicar os fenômenos espaciais; à utilização de modelos espaciais resultantes da atividade do homem, às escalas locais, regionais, nacionais ou globais, e aos processos que levam à existência desses modelos como objeto da Geografia; e à necessidade de modelos estatísticos e de uma grande quantidade de dados (FERREIRA et al., 1986).

Essa geografia se instrumentaliza por meio da matemática e da estatística, e passa a ser uma geografia aplicada e descritiva, abordando os diversos temas da geografia de forma compartimentada, funcionalista.

Para Pontuschka (1994), o embasamento filosófico centrado no positivismo clássico e no historicismo passou a ser violentamente questionado pelos geógrafos teoréticos, observando-se que os métodos estatísticos e os modelos matemáticos foram incorporados à análise geográfica, substituindo, assim, a observação direta por um empirismo mais abstrato, cujos dados eram analisados por métodos matemáticos, tal como o estatístico, ou a teoria sistêmica. Deste modo, utilizavam-se modelos matemáticos para o tratamento de temas geográficos, apresentando um discurso de conteúdo mais abstrato do que as propostas da chamada Geografia Tradicional clássica, com uma vertente conservadora.

De acordo com Moraes (1981), a Nova Geografia efetuava uma crítica apenas à insuficiência da análise tradicional, não indo aos seus fundamentos e à sua base social. Essa nova geografia argumentava que a geografia tradicional falava do passado, de coisas já superadas e, portanto, não fazia previsões e era inoperante como instrumento de intervenção na realidade e de planejamento.

Segundo o mesmo autor, essa geografia não tocava nos compromissos sociais do pensamento tradicional, sendo que esses compromissos são mantidos e permanecem a serviço do estado, das classes dominantes, razão pela qual muitos autores denominam essa corrente de neopositivista.

Na geografia neopositivista firma-se uma tipologia de padrões espaciais. A linguagem matemática e os padrões dominam a análise geográfica. Podem-se destacar as divisões em regiões, as compartimentações, os padrões espaciais, a estatística.

Neste contexto, observa-se que o espaço utilizado por essa geografia é o espaço da localização, no qual se situam os fenômenos. Do que resulta a importância da cartografia, de um sistema de referências, dos meridianos e paralelos, das escalas, das distâncias absolutas e relativas (FERREIRA et al., 1986).

A neutralidade científica é outra característica dessa corrente, pois os dados são reais, apolíticos, sem intenção de que o cientista os examine criticamente ou de fazer uma análise que vá além da descrição dos padrões apresentados.

Moraes (1981) observa que na corrente neopositivista, ao se estudar uma determinada região, a análise deveria começar pela contagem dos elementos presentes (total de população, extensão, número e tamanho das vilas e cidades, etc.); ao final, surgiriam resultados numéricos, cuja interpretação daria a explicação da região estudada.

No Brasil, a corrente neopositivista se destacou nos trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituição que atuava principalmente na análise das diversas regiões brasileiras, e nas obras de Antonio Christofoletti, estudioso que dedicou atenção especial à discussão do movimento de renovação metodológica, expondo as características dessa geografia pragmática13. Christofoletti se destacou, também, por uma variedade de trabalho no campo da Geomorfologia.

Na década de 1960, na Europa, surgem as primeiras críticas à Nova Geografia. Ferreira et al (1986) destacam que os modelos em que a geografia neopositivista se apoiava eram insuficientes para explicar a realidade e estavam distantes da conduta real do homem; preocupavam-se apenas com certos pressupostos da racionalidade econômica. A visão dessa geografia não tinha qualquer preocupação com a resolução dos problemas sociais.

Já Christofoletti (1985) observa que usar técnicas estatísticas, por mais sofisticadas que sejam, não é fazer Geografia. Se o geógrafo coleta inúmeros dados e informações e os analisa sem ter noção clara do problema a pesquisar, e se não dispuser de arsenal teórico e conceitual que lhe permita interpretar adequadamente os resultados obtidos, estará apenas fazendo um mero trabalho de mecanização, mas nunca um trabalho geográfico. O autor afirma que, infelizmente, muitos trabalhos podem ser mencionados como exemplo do mau uso das técnicas ou da sua escolha inadequada; no entanto, não se deve, por isso, confundir a deficiência do geógrafo com a incapacidade da Nova Geografia.

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