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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Novas Abordagens do Desenvolvimento Rural

Segundo Caporal e Costabeber (2007), o intenso processo modernizador da agricultura brasileira acarretou impactos ambientais e transformações sociais em magnitudes tão amplas que por si só, justificam a revisão de todo o modelo de desenvolvimento imposto ao setor agrícola. Desenvolvimento este que:

[...] em sua formulação mais ampla, significa a realização de potencialidades sociais, culturais e econômicas de uma sociedade, em perfeita sintonia com o seu entorno ambiental e com seus valores políticos e éticos. (CAPORAL e COSTABEBER, 2007, p. 149).

Frente ao contexto, vários autores passaram a discutir o termo desenvolvimento e seu real ou protótipo sentido.

Sen (2000), em seu livro “Desenvolvimento como Liberdade”, defende a tese de que o desenvolvimento deve estar relacionado, sobretudo com a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos. O autor adota uma visão de liberdade que envolve tanto os processo que permitem a liberdade de ações e decisões como as oportunidades reais que as pessoas têm, dadas as suas circunstâncias pessoais e sociais. Acrescentando:

A liberdade não é apenas a base da avaliação de êxito ou fracasso, mas também um determinante principal da iniciativa individual e da eficácia social. Ter mais liberdade melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo, questões centrais para o processo de desenvolvimento (SEN, 2000, p.33).

A rigor o termo desenvolvimento constitui apenas um novo termo para expressar a antiga idéia de progresso. Assim como progresso, a idéia de desenvolvimento supõe uma trajetória a ser percorrida, uma mudança ordenada, predeterminada, universalizada.

No meio rural, vários são os enfoques dados ao desenvolvimento na perspectiva de melhorias e maior igualdade.

Os sistemas produtivos da agricultura brasileira, ao longo dos últimos cinqüenta anos, sofreram importantes transformações estruturais, face às inovações científicas e tecnológicas e, mais recentemente, ao avanço da globalização, as quais geraram uma nova dinâmica nas relações socioeconômicas no meio rural brasileiro. Assim, a crescente preocupação com a problemática de um desenvolvimento que seja mais humano e sustentável, tanto do ponto de

vista econômico e social, quanto do ponto de vista ecológico, revela a emergência de um novo paradigma com propostas de (re)conceituação da agricultura.

Fazendo uma rápida retrospectiva dos enfoques do desenvolvimento rural nos últimos 50 anos, contamos com a colaboração de Montenegro (2006) que afirma serem quatro os enfoques: Revolução Verde, Desenvolvimento Rural Integrado, Desenvolvimento Rural com base Local e Desenvolvimento Territorial Rural.

A Revolução Verde foi promovida como uma forma de incorporar os países pobres na trilha da alta e eficiente produção agropecuária, seguindo modelos formulados por países ricos. Em consonância com a teoria da modernização, que era o modelo de desenvolvimento próprio desses anos, a Revolução Verde identificava nos países de Terceiro Mundo uma série de carências que deviam ser satisfeitas, à base de aumentar quantitativamente os bens e os serviços. Ao mesmo tempo, essa febre produtivista fazia aumentar a produção de matérias- primas baratas, destinadas às agroindústrias do denominado Primeiro Mundo (MONTENEGRO, 2006).

Desenvolvimento rural integrado, anos 1970 e 1980, criado com o objetivo de transformar os pequenos agricultores, que até então apareciam como um grupo social sujeito a desaparição, absorvido pela economia urbano-industrial, em pequenos empresários, treinando- os nas técnicas mercantis do máximo lucro e da concorrência, percebe-se que pela primeira vez o desenvolvimento refere-se a um grupo específico, no caso, os pequenos proprietários (MONTENEGRO, 2006).

O desenvolvimento rural de base local, proposto nos anos 1990, permite que propostas diversas sejam consideradas como desenvolvimento local. Destacam-se dois pólos entre as diversas tendências do desenvolvimento local: - o desenvolvimento local como opção de fortalecimento de um local para concorrer, a partir, sobretudo, de recursos endógenos, com outros locais no mercado global e; - o desenvolvimento local como potencializador de uma integração diferenciada (mais humana) na dinâmica capitalista, a partir de valores comunitários. Entretanto, o desenvolvimento rural de base local não acrescenta nenhuma novidade ao quadro de dominação do capital (MONTENEGRO, 2006).

A partir de 2003 um novo enfoque de política de desenvolvimento para o meio rural, surge o desenvolvimento territorial rural. Caracterizado por reconhecer a importância do território como integrador de múltiplas dimensões (econômica, social, cultural, etc..) e atividades (não só agropecuárias, mas também industriais e de serviços) e, por colocar a ênfase na participação social e na criação de relações mais estreitas entre as instituições envolvidas no processo. O desenvolvimento territorial rural, apesar de seu discurso de

novidade, de supostamente inaugurar uma nova época de esclarecimentos acerca dos problemas de que o meio rural padece, de fato, não constitui nenhuma novidade essencial (MONTENEGRO, 2006).

No entanto esses diferentes enfoques não têm conseguido atingir seus objetivos. Segundo Kageyama (2004), o que se busca é:

[...] uma transição do paradigma funcionalista para o paradigma territorial, tornando- se imperativo a tendência de valorizar as potencialidades especificas de cada local, como um processo de atuação interativa entre os atores locais, públicos e privados, tentando aproveitar de maneira sustentável os recursos locais e gerando um ambiente motivador no território (p. 27).

Dentro desta nova forma de pensar o desenvolvimento rural, surge a necessidade de incorporar novas noções sobre agricultura e novos conceitos, dentre os quais ganha força a idéia de agricultura não apenas com a aplicação de um conjunto de técnicas, mas como uma atividade humana, e portanto, devendo ser entendida como uma construção social que , além, de ser ambientalmente determinada, também está subordinada a condicionantes socioculturais, caracterizando-se por ser um processo multilinear (CAPORAL e COSTABEBER, 2007).

O desenvolvimento do meio rural deve, para Kageyama (2006):

[...] combinar o aspecto econômico (aumento no nível e estabilidade da renda familiar) e o aspecto social (obtenção de um nível de vida socialmente aceitável) e sua trajetória principal reside na diversificação das atividades que geram renda (pluriatividade). Esse desenvolvimento tem de especifico o fato de referir-se a uma base territorial, local ou regional, na qual interagem diversos setores produtivos e de apoio, sendo também um desenvolvimento multisetorial e multifuncional (p.245).

Atentando para o paradigma local/regional, as discussões atuais sobre os projetos de desenvolvimento reforçam aspectos endógenos, das unidades de produção, em detrimento aos exógenos, fazendo emergir com força questões relacionadas com o local/regional.

No entanto esse desenvolvimento, pautado no local/regional, tem como uma de suas premissas fundamentais o reconhecimento da “insustentabilidade” ou inadequação econômica, social e ambiental do padrão de desenvolvimento das sociedades contemporâneas (SCHMITT, 1995 apud ALMEIDA, 1997). A noção de desenvolvimento sustentável nasce da compreensão da finitude dos recursos naturais e das injustiças sociais provocadas pelo modelo de desenvolvimento vigente na maioria dos países.

Até aqui chegamos a um ponto crucial: o desenvolvimento da sociedade até hoje foi marcado pelo uso intensivo dos recursos naturais. Estes começam a esgotar-se, principalmente por causa do uso irracional e predatório que se iniciou a partir do século XX, período em que o modelo de agricultura conhecido como moderno desenvolve variedades genéticas de alto rendimento, associadas ao uso intensivo de fertilizantes e aos agroquímicos (defensivos agrícolas no jargão da empresas produtoras destes insumos), utilizados em quantidades crescentes para enfrentar doenças e ataques de animais ou outras espécies de vegetais indesejáveis, chamadas de invasoras pelos defensores deste modelo de agricultura.

Este processo desemboca no conceito de desenvolvimento sustentável, atualmente usado mundialmente, embora considerado um tanto impreciso. Formulado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento e publicado no Relatório de Brundtland: “Nosso Futuro Comum”, para qual o “desenvolvimento sustentável significa atender às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO - CMMAD, 1988).

A discussão sobre o desenvolvimento sustentável hoje esta polarizada, segundo Almeida (1997) entre duas concepções principais:

[...] de um lado o conceito/idéia como sendo gestado dentro da esfera da economia, sendo com essa referencia que é pensado o social. Incorpora-se, deste modo, a natureza à cadeia de produção (a natureza passa a ser um bem de capital); de outro, uma idéia que tenta quebrar com a hegemonia do discurso econômico e a expansão desmesurada da esfera econômica, indo para além da visão instrumental, restrita, que a economia impõe a idéia/conceito (p. 43).

Mas todas essas idéias parecem apenas utopia, pois as tendências que os autores revelam para o meio rural não são nada animadoras, pois, evidencia-se um aumento de pobreza, de desequilíbrios regionais (SCHNEIDER E FIALHO, 2000), de envelhecimento, de masculinização (ANJOS E CALDAS, 2005), bem como de concentração fundiária (LOCH, 2000). Todas essas tendências são apontadas ainda como sendo fruto do período de modernização.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS