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Ainda, em 1994, os professores, Delizoicov e Angotti, comentavam sobre as novas tendências que surgiram em meados dos anos 1970:

A partir de meados da década de 70, os grupos de pesquisa em ensino de Ciências estabelecidos em alguns centros iniciaram uma reflexão sobre o trabalho já realizado na área e sobre variáveis não consideradas adequadamente. Entre elas, a preocupação com o desenvolvimento histórico do conhecimento científico e suas implicações no ensino, bem como os impactos sociais provocados por aqueles conhecimentos e sobretudo por suas aplicações tecnológicas, quer benéficas, quer nefastas com relação ao meio ambiente e ao homem (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1994, p.27).

Todas estas novas tendências seguem metodologias que propõem a maior participação possível dos alunos no processo de ensino aprendizagem. Todas levam a fazer com que o professor oportunize aos alunos um papel mais participativo na sala de aula. Vivenciando, assim um constante diálogo com o professor.

Dentre estas novas tendências, uma possui suas raízes ainda no ano de 1958, quando o pesquisador norte americano Paul Hurd, publicou um livro intitulado “Science Literacy: Its Meaning for American Schools”. (Alfabetização

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Científica: Seu Significado para As Escolas Americanas – tradução do autor). Ao longo dos anos, o professor Hurd, continuou os seus estudos trabalhando nesta idéia inicial que mais tarde, com o enriquecimento de muitos outros pesquisadores, e aqui no Brasil podemos citar: Attico Chassot, Décio Auler, Demétrio Delizoicov e Wildson Luiz Pereira dos Santos, entre outros; tomaria um vulto significativo (SASSERON; CARVALHO, 2011, p.60-61).

O “Letramento Científico” ou “Enculturação Científica” ou ainda “Alfabetização Científica” é definido pela pesquisadora Lúcia Helena Sasseron, da seguinte forma:

Utilizaremos o termo “Alfabetização Científica” para designar as idéias que temos em mente e que objetivamos ao planejar um ensino que permita aos alunos interagir com uma nova cultura, com uma nova forma de ver o mundo e seus acontecimentos, podendo modificá-lo e a si próprio por meio da prática consciente propiciada por sua interação cerceada de saberes de noções e conhecimentos científicos, bem com das habilidades associadas ao fazer científico (SASSERON, 2010, p.15).

Os professores Leonir Lorenzetti e Demétrio Delizoicov, que defendem a tese de que a Alfabetização Científica deve ser trabalhada antes que a criança saiba ler e escrever definem a AC, nos seguintes termos:

A alfabetização científica no ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais é aqui compreendida como o processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquire significados, constituindo-se um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de conhecimento, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade (LORENZETT; DELIZOICOV, 2001, p.8).

Attico Chassot, que defende a idéia de que a Alfabetização Científica deva ser desenvolvida em todos os segmentos da educação, inclusive na Pós- Graduação (CHASSOT, 2003, p.99), afirma: “Quando discurso alfabetização científica, insisto na necessidade de considerá-la como o conjunto de

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conhecimentos que facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem” (CHASSOT, 2003, p.94).

Podemos, ainda, apreciar algumas outras definições de Alfabetização Científica (AC), tais como: Robert M. Hazen e James Trefil (HAZEN E TREFIL 11995, p.12 apud LORENZETT; DELIZOICOV, 2001, p.3): “Alfabetização Científica é o conhecimento necessário para entender os debates públicos sobre as questões de ciência e tecnologia”. O professor J D Miller 2

define a AC nos seguintes termos: “capacidade de ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos de caráter científico” (MILLER, 1983, 30 apud LORENZETT; DELIZOICOV, 2001, p. 3). O professor B.S.P. Shen entende que a AC deva ser trabalhada sob quatro viés, são eles: “alfabetização científica prática, cívica e cultural”. (MILLER3

, 1983, 265 apud LORENZETT; DELIZOICOV, 2001, p. 4). A visão do pesquisador R W Bybee, “apresenta três dimensões da alfabetização científica que ocorreriam de acordo com uma evolução gradual. Denominando- as de alfabetização científica funcional, conceitual e processual e multidimensional”. (BYBEE4

, 1995, 30 apud LORENZETT; DELIZOICOV, 2001, p. 5).

Para atingir a alfabetização científica a professora Lúcia Helena destaca, de forma bastante didática, três Eixos Estruturantes a serem trabalhados:

O primeiro dos três eixos estruturantes refere-se à compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais e constitui-se na possibilidade de trabalhar com os alunos a construção de conhecimentos científicos necessários para que lhes seja possível aplicá-los em situações diversas e de modo apropriado em seu dia a dia (SASSERON, 2010, p.17).

Neste primeiro eixo o aluno será orientado a realizar práticas experimentais contextualizadas, trabalhará o formalismo matemático que traduz os conceitos físicos e verificará os gráficos que representam as funções

1 HAZEN, R M. TREFIL, J. Saber Ciência. São Paulo. Cultura Editores Associados. 1995. 2

Miller, J D. Scientific literacy: a conceptual and empirical review, In Daedalus, n 112, p. 29-48. 1983. 3

SHEN, B.S.P. Science literacy. In: American Scientist, v. 63, p. 265-268, may.-jun. 1975.

4 BYBEE, R.W. Achieving scientific literacy. In, The science teacher, v. 62, n. 7, p. 28-33, Arlington: United States, oct. 1995.

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estudadas. O professor deve sempre conduzir as aulas de forma a promover a dualidade argumentação explicação.

O segundo eixo preocupa-se com a compreensão da natureza das Ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática. Duas contribuições essenciais à formação dos estudantes são destaque neste eixo. Uma delas reporta-se à idéia de Ciência como um corpo de conhecimentos em constantes transformações, envolvendo processos de transformações, envolvendo processo de aquisição e análise de dados, síntese e decodificação de resultados que originam os saberes (SASSERON, 2010, p.17).

Neste segundo eixo o aluno será levado o compreender que a Ciência é uma construção humana, um produto da sociedade e, portanto, em constante transformação. Perceberá que em Física, por exemplo, os conceitos, as leis e as definições fazem parte de modelos que se adaptam conforme os paradigmas que os sustentavam vão sendo questionados e substituídos por outros mais condizentes com o novo entendimento.

O terceiro eixo proporciona ao estudante a análise do entrelaçamento entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente, (CTSA).

O terceiro eixo estruturante da alfabetização científica compreende o entendimento das relações existentes entre Ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. Trata-se da identificação do entrelaçamento entre essas esferas e, portanto, da consideração de que a solução imediata para um problema em uma dessas áreas pode representar, mais tarde, o aparecimento de outro problema associado. . (SASSERON, 2010 p.18).

Trata-se de uma oportunidade ímpar para discutirmos questões atuais complexas de difícil abordagem, com a participação relevante de uma área de ensino, como por exemplo, a Física.

Entendemos que a Alfabetização Científica dialoga com, principalmente quatro grandes Pensadores em Educação; são eles: Lev Semenovitch

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Vygotsky, Paulo Reglus Neves Freire, David Paul Ausubel e Marco Antônio Moreira. Os motivos pelos quais justificamos este diálogo é: