• Nenhum resultado encontrado

5.2 Justificativas das Tarefas a serem propostas aos alunos

5.2.2 Matriz Energética Brasileira e Werner Heisenberg

5.2.2.2 Werner Karl Heisenberg

Aparentemente a vida de Werner Heisenberg, estaria completamente descolada do tema em tela, mas, como comentamos as personalidades escolhidas muita vezes não possuem vínculo direto com o título escolhido, e sim, com o título geral, ou seja, com o propósito geral do trabalho. Heisenberg, como sabemos, foi um cientista que teve um papel muito importante para o desenvolvimento da energia nuclear. Através de seus estudos e trabalhos ele quase levou ao desenvolvimento da bomba atômica pelos nazistas (BODANIS, 2001, p.132-143). Trata-se de uma figura rica, pois podemos estudá-lo também sobre o aspecto ético, pois, o cientista, como um cidadão qualquer, dedica todo

81

o esforço para o que ele acredita ser para o bem de sua Pátria no momento, e portanto, não poderia ficar de fora no contexto que nos propomos a estudar.

Heisenberg a época da 2ª Guerra Mundial já era um cientista muito famoso, pois em 1932 aos 31 anos de idade havia sido agraciado com o Prêmio Nobel, pelo estabelecimento, em 1925, juntamente com Max Born e Pascual Jordan, das bases da formulação matricial da Mecânica Quântica. Sendo assim, um dos fundadores desta parte da Física (BODANIS, 2001, p.132-143).

A figura de Heisenberg é altamente contraditória, por este motivo, ótima para ser analisada num trabalho como o nosso.

Sobre ele Davi Bodanis comenta:

No verão de 1937, no inicio do mês de julho, Werner Heisenberg estava no topo do mundo. Era o maior físico vivo do mundo depois de Einstein, famoso por seu trabalho em Mecânica Quântica e pelo Princípio da Incerteza” (BODANIS, 2001, p. 130).

E ainda, sobre a importância do Princípio da Incerteza, Bachelard, comenta:

Até Heisenberg, os erros sobre as variáveis independentes eram postulados como independentes. Cada variável podia dar lugar separadamente a um estudo cada vez mais preciso; o experimentador se julgava sempre capaz de isolar as variáveis, de aperfeiçoar-lhes o estudo individual; tinha fé numa experiência abstrata onde a medida só encontrava obstáculo na insuficiência dos meios de medição. Ora, com o princípio da incerteza de Heisenberg, trata-se de uma correção objetiva dos erros (BACHELARD, 1978, p.151).

Ou seja, antes de Heisenberg, os erros das medições eram sempre atribuídos aos equipamentos e falhas de operação que normalmente podem ocorrer nos processos experimentais. Após Heisenberg, através do Princípio da Incerteza, descobriu-se que há uma incerteza intrínseca na natureza quando se trata da análise do mundo microscópico.

82

Proveniente da classe média educada, Heisenberg além da ter sido um dos fundadores da Mecânica Quântica contribuiu com importantes trabalhos sobre: hidrodinâmica de escoamentos turbulentos, núcleo atômico, ferro- magnetismo, raios cósmicos e partículas subatômicas; além de tudo um filósofo e autor de livros, entre outros: “Os princípios físicos da teoria dos quanta” e “A física dos núcleos atômicos”, que se editados na língua portuguesa encontram-

se esgotados; “Física e Filosofia” (HEISENBERG, 1998) e “A parte e o todo”.

(HEISENBERG, 1971).

Antes de assumir a direção das pesquisas sobre a bomba atômica Heisenberg foi interrogado pela SS, uma das divisões das forças nazistas, por ter trabalhado com físicos judeus, pois Einstein, Bohr, Wolfgang Pauli e outros, eram judeus ou possuíam ascendência judaica (BODANIS, 2001, p. 131). Mas em 1939 escreveu um artigo explicando como construir uma bomba atômica utilizável, e assumiu a direção das pesquisas sobre a construção da bomba, em Berlim e em Leipzig. De 1942 a 1945 Heisenberg dirigiu o Instituto Kaiser Wilhelm, que mais tarde, com o fim da guerra, foi renomeado de Instituto Max Planck em Berlim.

Sobre Heisenberg pesa a acusação de ter utilizado mão de obra escrava, os prisioneiros do campo de concentração de Sachsenhausen (BODANIS, 2001, p. 139). É muito interessante a discussão entre as opiniões de que ele não conseguiu construir a bomba por não possuir os recursos necessários, tese defendida, por exemplo, pelo professor Antonio Augusto Videira, filósofo e historiador da ciência (GLOBO CIÊNCIA, 2015). A opinião de que ele não conseguiu porque além da falta de recursos, a estrutura hierárquica alemã, na qual Heisenberg estava profundamente enraizado, não permitia a intromissão de subordinados, pois a certa altura ele não aceitava as opiniões de seus assessores quanto à orientação das pesquisas. Em contrapartida, nas pesquisas ocorridas no Projeto Manhattan os engenheiros, filhos de famílias de judeus humildes refugiados das perseguições nazistas foram de grande valia para o desenvolvimento das técnicas de construção da bomba (BODANIS, 2001, p. 142). De 1901 a 1932, um ano antes de Hitler assumir o poder, a Alemanha havia conquistado 33 prêmios Nobel em diversas categorias. Quando os ”não-arianos” foram proibidos de exercer cargos

83

públicos houve uma debandada geral, pois 25% dos funcionários das universidades eram judeus (MENGARDO, 2009, p.21). Um bom exemplo foi o de Eugene Wigner, que era húngaro mas migrou para os EUA e participou do Projeto Manhattan. Wigner desenvolveu o formato que o urânio deveria ter no interior do reator, que segundo seus estudos de engenharia o melhor desenho seria a forma de uma esfera, a segunda opção seria um oval, a terceira a forma cilíndrica, a quarta opção a forma de um cubo e a pior hipótese o desenho em lâminas achatadas, que foi justamente o formato escolhido por Heisenberg por que as superfícies chatas são mais fáceis de se computar (BODANIS, 2001, p. 142). E finalmente a justificativa do próprio Heisenberg, em seu livro “A parte e o todo”, de que ele fora constrangido, embora não fosse nazista, a participar do projeto de construção da bomba, e que sua preocupação maior era com a reconstrução da Alemanha após o término da guerra o que fez com que permanecesse na direção dos projetos, sem, entretanto, se empenhar devidamente para a construção da bomba.

Sobre estas hipóteses o professor Roberto de Andrade Martins nos esclarece:

Todos sabem que, no final da guerra, os alemães estavam longe de construir uma bomba nuclear, enquanto americanos e ingleses tinham investido enorme esforço humano e muito dinheiro para construir e lançar sobre o Japão os primeiros armamentos deste tipo. Discute-se muito o que ocorreu na Alemanha, mas até hoje não se pode afirmar com certeza o que houve. Há uma versão segundo a qual os cientistas alemães (incluindo Heisenberg) eram incompetentes e por isso não construíram a bomba nuclear. Outra versão, veiculada pelo próprio Heisenberg depois do final de guerra, afirma que ele próprio atrasou a construção da bomba, transmitindo informações errôneas ao governo nazista. Uma terceira explicação é que o exercito deixou de apoiar o projeto nuclear em 1942 porque acreditava que a guerra seria vencida pela Alemanha rapidamente e que não seria possível produzir os armamentos nucleares a tempo se serem utilizados na guerra. Recentemente foram divulgados com estardalhaço certos documentos de Niels Bohr indicando que Heisenberg tentou com todas as suas forças construir a bomba; mas tais documentos provam apenas que Bohr interpretou desse modo o contato que teve com Werner durante a guerra. A documentação existente não esclarece a posição de Heisenberg (MARTINS, Werner Heisenberg: O semeador da mecânica matricial).

84

Após a guerra Heisenberg foi capturado e levado para a Inglaterra, mas depois retornou a Alemanha onde dirigiu o Instituto Max Plank de Física e Astrofísica até 1970, quando se aposentou. Dedicou-se mais a filosofia e faleceu em 1976 (MARTINS, Werner Heisenberg: O semeador da mecânica matricial).

5.2.3 Primórdios dos Institutos de Ciências no Brasil e César Lattes