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Novos olhares, novos valores: uma visão crítica

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A HOMILIA SOB A ÉGIDE DA IGREJA CATÓLICA

2.7 Novos olhares, novos valores: uma visão crítica

A pregação homilética hoje está em crise. E, apesar de muitos pregadores realizarem um excelente trabalho, não é raro ouvirem-se lamentações e criticas tanto de quem faz como de quem escuta homilias. Assim, sempre em vista de uma pregação mais eficaz da Palavra de Deus e aproveitando algumas observações apresentadas por Biscontin (apud Melo, 2005), apresentaremos abaixo algumas críticas em relação aos pontos fracos que com maior freqüência podem ser observados nas homilias da igreja católica apostólica romana.

A primeira é a falta de lógica no discurso homilético e está diretamente ligada à falta de preparação do pregador e à falta de tempo para organizar a homilia. A quem escuta uma homilia deve parecer claro qual é o ponto de partida e o de chegada e todos os passos de sua evolução. Também deve parecer evidente o que o pregador quer dizer e que modificações ele propõe à nossa realidade. Às vezes, porém, ela parece não ter um fio lógico de coordenação. Fala-se de uma coisa, depois se passa para outra, ziguezagueando sem fim. Diante de tal homilia, o ouvinte, em vez de se sentir animado a viver a multiforme riqueza da Sagrada Escritura, é mais tentado a se desligar definitivamente do que escuta na igreja (Melo, 2005, p. 6-7). O depoimento abaixo evidencia a dificuldade que este leigo apresenta em acompanhar, assimilar, entender o que o padre fala:

“Por que tem vez que a gente vai a missa, na hora do evangelho, do sermão, às vezes, não é porque o padre não quer, mas ele fala e às vezes a gente não entende. Tem outros que já fala direto. Tem um padre, perto de onde eu moro mesmo, que ele fala parece que ele vai para frente e eu vou para trás, ele vai para trás e eu para frente, a gente nunca combina, o que ele está dizendo, eu nunca consigo acompanhar”. (58 anos, solteira, sexo feminino, comerciante. Não é participante ativa da paróquia, foi a missa em companhia de uma amiga que insistentemente a convidou).

A compreensão do discurso homilético depende tanto da pessoa que fala como da que ouve, porém se o emissor fala com clareza, coerência, coesão, etc, facilita de forma decisiva a compreensão do interlocutor.

O caminho sentimentalista é o segundo ponto crítico que deve ser observado. Toda boa homilia naturalmente deve comover o público, algumas, porém vão muito além disso, caem no exagero sentimentalista, que abandona o texto evangélico e se ancora puramente em aspectos psicoafetivos. Quem assim age conduz o público mais

parecer que se está conseguindo maravilhas ao se apelar para o sentimentalismo das pessoas, mas geralmente ele não converte, não liberta e nada produz de significativo na vida delas. O sentimentalismo sempre entorpece e infantiliza o outro, impendido-o de crescer (Melo, 2005, p. 7).

A excessiva preocupação didática é outra crítica a ser considerada. Recebeu um impulso da reforma conciliar, mal compreendida. Na verdade, a reforma mandava oferecer algumas informações de caráter litúrgico, exegético e doutrinal à assembléia. E isso levou muitos a conceber a homilia como uma espécie de lição explicativa, sem diferenciá-la em nada de uma aula de história da liturgia ou de um curso de interpretação bíblica. Evidente que a homilia é também didatica. Outra coisa, porém, é reduzi-la a mero momento didático ou de interpretação dos sinais e do simbolismo litúrgico, com o conseqüente esquecimento da vida concreta dos que ali celebram, sem ligar a mensagem bíblica à existência dos fiéis e, pior ainda sem levá-los a fazer a necessária experiência da plena comunhão com a divindade (Melo, 2005, p. 6-7).

O moralismo excessivo também está muito presente nas pregações homiléticas. É tanto que a palavra “sermão” em nossa língua ganhou também o sentido de discurso de reprovação, repreensão e descompostura. É claro que a exortação moral não só é bem-vinda, como até necessária a qualquer homilia. O moralismo, porém, limita-se a tecer juízos genéricos e generalizados e, por vezes, insiste em pontos extremamente difíceis de ser cumpridos. Quem ouve é tentado a pensar que tal palavra não se dirige a ele, simples cristão imperfeito, mas apenas aos mais perfeitos e santos. O moralismo, além de destruir toda e qualquer possibilidade de transformação dos ouvintes, não obedece à pedagogia divina em que o perdão e a graça sempre antecedem o castigo e a reprovação (Melo, 2005, p. 7).

Os meios comunicativos são, por vezes, desprezados por alguns pregadores. O pregador até consegue preparar bem o conteúdo de sua homilia, todavia, pouco se interessa em buscar meios eficazes para transmitir a mensagem. O padre prepara somente o que falar e esquece que como falar é um dos elementos mais relevantes do discurso. Para haver boa comunicação é preciso sempre apelar para os eficazes meios retóricos, que promovem sintonia entre quem fala e quem escuta. Para que a homilia dê mais frutos, o pregador deve ter especial cuidado com as palavras que usa na homilia, evitando termos teológicos que, embora normais entre os eclesiásticos, são completamente incompreensíveis para a maioria de nosso povo. Importante é que a homilia jamais perca seu caráter coloquial, cativante, que conduz com simplicidade os fiéis a bem compreenderem o sentido da Palavra de Deus (Melo, 2005, p. 8).

Finalmente, recorda-se que a função da homilia “é atualizar para os fiéis a palavra da Escritura, o que aumenta a sua eficácia, nutrir a vida cristã, introduzir no espírito do mistério celebrado e anunciar a realização da maravilhosa obra de salvação de Deus em Cristo, cujo memorial é celebrado sacramentalmente” (Melo, 2005, p. 9- 10). A homilia deve ser preparada com cuidado, no estudo e na oração, para permitir à palavra humana ser fiel veículo da mensagem divina, sem obscurecê-la. Uma saudável homilia em geral é simples, clara, sóbria, objetiva, factível, pertinente. E, o que é muito importante, consegue realizar tudo isso em breve tempo.

No terceiro capítulo iremos apresentar o fenômeno da comunicação humana, desde os aspectos da linguagem antropológica até a oratória estética, como requisitos básicos para conhecer, compreender, acreditar e praticar uma comunicação plena e eficaz.

CAPÍTULO III

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