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O processo de comunicação

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O FENÔMENO HUMANO DA COMUNICAÇÃO

3.4 O processo de comunicação

mensagens, idéias, sentimentos e emoções, podendo influenciar o comportamento das pessoas que, por sua vez, reagirão a partir de suas crenças, valores, história de vida e cultura (Silva, 2000, p. 52).

Falar de comunicação é falar de relação e relacionamento, é referir-se a algo que se dá a conhecer. A comunicação no nível mais profundo é mostrar-se. Quem comunica pode dar a conhecer algo de si, de sua interioridade e intimidade, idéias, experiências, emoções criando algo comum (Trudel17, 2004 ). O dicionário Houaiss aponta uma definição mais exata do processo comunicativo:

“Processo que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre uma fonte emissora e um destinatário receptor, no qual, as informações, transmitidas por intermédio de recursos físicos (fala, audição, visão, etc) ou de aparelhos ou dispositivos técnicos, são codificadas na fonte e decodificada no destino com o uso de sistemas convencionados ou símbolos sonoros, escritos, iconográficos, gestuais, etc” (Houaiss, 2005).

O esquema fundamental da comunicação responde às perguntas: quem comunica, para quem comunica, por que comunica e o que comunica, ou seja, o emissor é a fonte, a mensagem é o conteúdo, e o receptor é o destinatário. A comunicação supõe um vai e vem entre emissor-receptor que dá lugar ao círculo da comunicação. Há sempre uma resposta mesmo não-verbal, gestos, olhar, silêncio (Trudel, 2004, p. 02).

No processo de comunicação, toda mensagem é codificada na fonte e necessita ser decodificada no destino pelo receptor, para isto usamos um signo, que é uma representação convencionada de uma determinada língua. Esta por sua vez tem

17 Jacques Trudel é padre jesuíta canadense. Este conteúdo foi retirado de uma apostila elaborada por

um código que significa a língua particular de uma cultura. Indo mais longe, verifica-se que no signo existe a distinção entre o elemento material perceptível aos sentidos, o sinal sonoro ou escrito, chamado significante e o próprio significado deste signo. A palavra água, por exemplo, é um signo, dizendo ou escrevendo esta palavra usa-se um código, neste caso a língua portuguesa. Sons e escritas diversas podem referir a um mesmo significado com significantes diversos. Assim se em vez de dizer água, pronunciasse: “water” ou “eau” teríamos diversos sons para o mesmo conteúdo (Trudel, 2004, p. 03).

Para que o interlocutor não ouça apenas sons, mas compreenda a essência da mensagem, ele precisa conhecer aquele código de maneira mais complexa, ele precisa conhecer a linguagem daquele código. As classes profissionais ao longo dos anos tendem a criar uma linguagem que lhe é peculiar. No caso da linguagem dos padres, nosso objeto de estudo, percebe-se que os anos de estudo para a formação teológica, filosófica, os documentos da igreja, levam os sacerdotes a usarem uma linguagem erudita para as assembléias nas homilias. Como, então o sacerdote pode tornar comum a linguagem usada nas homilias?

Uma dificuldade que o padre Trudel (2004, p. 03) apresenta para a homilia é a linguagem bíblica: “a linguagem da Bíblia vem de uma outra cultura, mas, também, chega a nós através da sua formulação em dogmas...o homiliasta não vai ligar a palavra à vida da assembléia a não ser que se torne tradutor”. A pergunta deve ser: o que significa para o povo expressões, como “a santa mãe igreja”, “instituição”; “escatológico”. É preciso colocar-se no lugar do ouvinte para perguntar-se o que ele vai entender.

Trudel (2004, p. 03) afirma que passou a entender, após um feed-back de um fiel, em relação ao vocabulário usado em sua homilia, que as pessoas quando

nunca será igual à de qualquer “tribo” por aí. Ele também buscou, após este episódio, atentar para a linguagem que o povo usa e adequar a sua linguagem à do povo, durante a homilia. Segundo ele: “[...] sob pena de termos nada em comum, e a mensagem não passar” (grifo nosso).

Portanto, não basta o emissor enviar a mensagem para haver comunicação. Só há autêntica comunicação (algo comum) quando a mensagem for corretamente entendida pelo destinatário da mensagem. Parece tão simples e é o ponto fundamental, porque “para um verdadeiro comunicador se o destinatário não entende a sua mensagem, não é porque o destinatário é burro, mas porque ele – o emissor – não soube adequar-se à capacidade de compreensão de seu auditório” (Craddock apud Trudel, 2004, p.03).

O feed-back é um mecanismo que procura verificar o grau de fidelidade com que uma mensagem chega ao destinatário. É a retro-alimentação. E o padre Trudel (2004), questiona: “Como fazermos para saber se as nossas homilias ”passam”, comunicam, ajudam a assembléia a encontrar-se com o Senhor?”. Ele conclui citando Craddock: “A pregação que pensamos ter pronunciado não é necessariamente aquela que os ouvintes ouviram” (p. 03).

Após cada homilia deveria haver uma iniciativa de avaliar como foi a homilia do padre. O que acontece, geralmente, nas comunidades é uma avaliação durante a semana pela equipe de liturgia, entretanto pouco ou nada é avaliado em relação a homilia do sacerdote. Trudel (2004) afirma que o emissor não sabe o que disse até que escute o que o ouvinte entendeu.

Segundo Costa (apud Trudel, 2004, p. 4), “o emissor fala a partir do seu lugar social; o receptor interpreta a mensagem a partir do seu lugar”. Isto significa que o

contexto histórico, social, afetivo, a própria cultura, as experiências, as circunstâncias, as motivações, a disposição em ouvir e falar são fatores que influenciam, senão determinam o processo de comunicação.

Para Costa (apud Trudel, 2004, p. 4), por trás das motivações estão as pré- compreensões tanto do emissor como do receptor em relação à mensagem e a relação que sócio-cultural que apresentam entre si. Para o mesmo autor, as posições assumidas consciente ou inconscientemente pela experiência de vida, pelo passado, pela história permitem dar mais ou menos crédito tanto a pessoa que ouve como a que fala, constituindo um processo dicotômico.

Antes mesmo de falar o receptor já comunicou algo ao emissor:

“O ouvinte fala ao homiliasta no nosso caso antes que este se dirija para ele. O meu interlocutor modifica minha maneira de falar. Não falo igual em todos os ambientes mesmo que quisesse abordar o mesmo assunto ou o mesmo texto bíblico. [...] O que minha assembléia me diz antes mesmo de dizer uma palavra na homilia? [...] Como escutar a assembléia? Será importante na fase da preparação de uma homilia. Não existe uma homilia pra todos, mas para esta assembléia. Nunca faço a mesma homilia nas 3 missas que celebro”

(Costa apud Trudel, 2004p. 4 ).

É relevante destacar a expressão “para esta assembléia”. O homiliasta precisa sem dúvidas conhecer a assembléia para a qual fala, os problemas, as dificuldades, as conquistas, as alegrias. O bom homiliasta conhece o cotidiano da assembléia e transpõe para a homilia a mensagem que traz vida, e transforma vidas.

Porém, existem fatores que independem da vontade do homiliasta, principalmente os ruídos na comunicação que são as interferências impedindo uma correta transmissão da mensagem (Trudel,2004). Pode ser uma microfonia, microfone muito alto, muito baixo, ou até mesmo um leigo no altar chamando a atenção para si,

atenção do leigo e pode ser um empecilho no processo de comunicação.

Em seguida, iremos expor os aspectos da comunicação estética sob o olhar da oratória, assim como sua influência sobre os comportamentos humanos.

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