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CAPÍTULO 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.7. NORMAS DA FAMÍLIA DAS ISO

2.7.1. NP EN ISO 22000:2005

Em 2005 foi lançada pela ISO a primeira família de normas relacionada com a SA – as normas da família ISO 22000. A norma ISO 22000 foi posteriormente traduzida para a NP EN ISO 22000:2005 – Sistemas de Gestão da Segurança Alimentar. Esta norma estabelece os requisitos para que as organizações que operem na cadeia alimentar (desde produtores primários, produtores de alimentos para animais, fabricantes de géneros alimentícios, distribuidores, transportadores, armazenistas, fornecedores de embalagens, equipamentos e MP) possam gerir eficazmente o seu sistema de SA, garantindo a redução ou eliminação dos perigos para a saúde do consumidor até níveis aceitáveis em todas as fases da cadeia alimentar.

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Esta Norma Internacional apresenta como principal objetivo harmonizar os requisitos necessários para a gestão da SA, a nível global, pelos demais operadores da cadeia alimentar. A conceção e implementação de um Sistema de Gestão da Segurança Alimentar (SGSA) por parte das organizações tem por base fatores como os riscos para a SA, o tipo de produtos fornecidos, os processos em uso e o tamanho e estrutura da organização. A NP EN ISO 22000:2005 permite às organizações obterem um SGSA mais focalizado, integrado e coerente do que os requisitos encontrados pela legislação.

De acordo com Teixeira et. al (2011) que apresenta os resultados do inquérito realizado às empresas certificadas por esta norma, os principais motivos que as levam à certificação são: garantir a confiança por parte dos clientes, satisfazer os requisitos dos clientes, diferenciar perante as demais empresas e o assegurar o envolvimento e compromisso com a SA. Após a certificação, as mesmas empresas inquiridas destacam a melhoria das metodologias e práticas que visam a SA e a melhoria real da satisfação dos clientes e de outras partes interessadas como sendo os principais benefícios. Por sua vez, no que diz respeito às principais dificuldades detetadas no processo de certificação, são de apontar a resistência interna à mudança e ainda os custos associados à implementação do SGSA. Para estes últimos contribuem principalmente a formação e as qualificações dos funcionários, os custos da certificação e da calibração dos equipamentos. A NP ISO 22000:2005 objetiva que as organizações vão de encontro dos requisitos estatuários e regulamentares no que diz respeito à SA. Este referencial permite a conjugação de uma comunicação interativa, da gestão do sistema, dos programas pré-requisitos (PPR) e dos princípios e as etapas do sistema APPCC desenvolvidos pela Comissão do Codex Alimentarius, que são elementos essenciais para garantir a segurança dos alimentos até ao consumidor. Assim, esta Norma Internacional associa os princípios do sistema APPCC (que possui obrigatoriedade legal de acordo com o artigo 5º do Regulamento (CE) n.º 852/2004) com os PPRs, por via de requisitos auditáveis, de modo a que seja facilitada a sua aplicação (Moreira, 2008).

Um ponto essencial da aplicação da NP EN ISO 22000:2005 prende-se com a identificação e avaliação de todos os perigos cuja ocorrência é razoavelmente expectável, inclusive perigos associados ao tipo de processo e às instalações, uma vez que tal auxilia as organizações no estabelecimento de medidas de controlo eficazes, através da combinação do(s) PPR(s), PPR(s) Operacional(is) (PPRO) e do plano APPCC. Os perigos que necessitam de controlo variam de

51 organização para organização, mesmo fazendo parte integrante do setor alimentar, pelo que cada organização deve determinar e documentar o porquê dos perigos identificados com ocorrência razoavelmente expectável.

Para que uma organização funcione de forma efetiva e eficiente é necessário que sejam identificadas e geridas as demais atividades que a constituem. Note-se que uma atividade que consuma recursos, de forma a transformar os inputs em outputs, é considerada um processo. Ora, os outputs do processo anterior podem ser os inputs do processo seguinte. Deste modo, a organização deve utilizar uma abordagem por processos, em que sejam estabelecidas e geridas convenientemente as interações entre eles (ISO/TS 22004(E)).

As linhas orientadoras que auxiliam as organizações a implementar a NP EN ISO 22000:2005 podem ser encontradas na ISO/TS 22004. Na Figura 2 são apresentadas as principais etapas para a implementação da Norma Internacional, bem como as respetivas ligações estabelecidas entre estas. No entanto, os métodos e abordagens necessários à implementação do SGSA são deixados ao critério das organizações

Figura 2 – Principais etapas de implementação da NP EN ISO 22000 e as ligações estabelecidas entre estas, onde transparece o conceito de melhoria contínua.

A certificação por esta Norma Internacional é uma opção da gestão de topo e o seu sucesso deve implicar um esforço conjunto de todos os colaboradores. Deste modo, deve haver evidências do comprometimento da gestão de topo com o SGSA e a sua melhoria contínua, através de iniciativas de interesse e liderança quanto ao desenvolvimento e implementação do sistema, bem como

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delegando responsabilidades e autoridades. Por vezes, a opção pela certificação pode resultar da exigência de clientes, que requerem evidências do cumprimento dos requisitos de SA.

A presente Norma Internacional encontra-se alinhada e compatível com a ISO 9001:2000, de tal modo que as empresas que se encontrem certificadas pela norma ISO 9001:2000 podem integrar essa certificação com a certificação pela NP EN ISO 22000:2005. De referir que a ISO 9001:2000 fornece requisitos para a eficácia da implementação de um SGQ, que vão de encontro aos requisitos dos clientes. De modo semelhante, a NP EN ISO 22000:2005 fornece os elementos essenciais para um SGSA com comparável finalidade. A Norma Internacional é igualmente passível de ser alinhada com outros sistemas de gestão, tais como os sistemas de gestão ambiental, sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional e sistemas de gestão orçamental, financeira e administrativa (ISO/TS 22004(E)). No entanto, a NP EN ISO 22000:2005 pode ser aplicada independentemente de noutras normas de sistemas de gestão (Moreira, 2008).

A implementação da Normal Internacional exige por parte da organização um controlo, atualização constante e acessibilidade de toda a documentação, assim como manter os registos por um período de tempo adequado, tendo em conta a dimensão da empresa, requisitos estatuários e requisitos regulamentares. A empresa deve, estabelecer uma estrutura documental adequada (o que pode derivar dos requisitos da ISO 9001:2000, caso a empresa em questão possua a certificação pela referida norma antecipadamente). Os documentos podem ter caráter diretivo, informativo ou comprovativo.

De uma forma genérica, a certificação das empresas por organismos de certificação acreditados, segue as etapas fundamentais constantes na Figura 3. Como ponto de partida, uma organização que pretenda a sua certificação necessitará de apresentar o seu pedido a uma das entidades acreditadas para o efeito. Após conhecimento dos processos da organização e estabelecimento das condições contratuais, a entidade certificadora inicia o planeamento da auditoria. A primeira auditoria realizada tem como objetivo identificar as não-conformidades e as oportunidades de melhoria. É então apresentado um relatório à organização, tendo esta que iniciar as ações corretivas necessárias à eliminação do(s) problema(s) identificado(s). Posteriormente são analisados, pela entidade certificadora, os resultados da auditoria e a sua confrontação com as ações corretivas levadas a cabo, de onde resultará a decisão quanto à certificação. Se, neste ponto, a organização não satisfizer os requisitos da norma certificadora, a entidade certificadora

53 pode organizar mais auditorias com o objetivo de acompanhar a implementação das ações corretivas. Caso a organização revele conformidade com os requisitos da norma para a qual pretende a certificação, será emitido o Certificado de Conformidade, válido por um período pré- estabelecido, onde constem o âmbito da certificação, a respetiva norma, a designação da organização e da entidade certificadores, a data de emissão e a validade. Durante o período em que a organização se encontra certificada, esta deverá ser alvo de auditorias regulares, por forma a garantir que a empresa segue os processos de melhoria contínua e cumpre os requisitos exigidos pela norma. Após terminado o período do Certificado de Conformidade, este pode ser renovado (Governo de Portugal).

Figura 3 – Etapas fundamentais para a certificação das organizações (Governo de Portugal).

No que diz respeito ao total dos custos associados à implementação e certificação pela NP EN ISO 22000:2005 foram, para a maioria das empresas inquiridas por Teixeira et. al (2011), inferiores a 15 000 €, sendo, no entanto, superiores a 50 000 € para apenas 9,7 % destas. Não são, no entanto, de desvalorizar os custos associados à manutenção requerida pela certificação de acordo com a NP EN ISO 22000, que são maioritariamente inferiores a 15 000 €. É ainda de notar que para fazer face aos requisitos da referida norma algumas empresas necessitam de algumas alterações ao nível dos equipamentos e a nível tecnológico, alterações essas que representam inevitavelmente um investimento de capital. Por sua vez, os benefícios financeiros da certificação não são, em muitos casos, passíveis de serem quantificados. No entanto, de acordo com o

Pedido de Certificação Processo de Auditoria Desenvolvimento de Ações Corretivas Auditoria de Certificação – Decisão Emissão do Certificado de Conformidade

Uso da Marca de Empresa Certificada

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referido inquérito, a maior percentagem de empresas que conseguiram quantificar os benefícios da certificação apontam para valores inferiores a 15 000 €.

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