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O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)

CAPITULO IV EM DIREÇÃO A UMA “SOCIOLOGIA DO ISE”

4.1 O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE)

185 Porém não se pode descontextualizar a elaboração destes índices de seus arcabouços sociais, intelectuais, culturais e econômicos como veremos mais adiante.

186 Além do IBOVESPA que representa o valor atual, em moeda corrente, de uma carteira teórica de ações constituída em 2/1/1968 a partir de uma aplicação hipotética verifica-se a existência do IBrX-50 [que reúne as 50 ações selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA em termos de liquidez]; o IBrX [que reúne as 100 ações selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA]; o Índice Setorial de Telecomunicações [composto por ações das empresas mais representativas do setor de telecomunicação]; o Índice de Energia Elétrica [composto por ações do setor que registraram presença em pelo menos 80% do pregão]; o Índice do Setor Industrial [composto pela ações de emissão de empresas do setor industrial]; o Índice Valor Bovespa [com uma carteira hipotética constituída exclusivamente por papéis emitidos por empresas de excelente conceito junto aos investidores, classificadas a partir da 11ª posição, tanto em termos de valor de mercado como de liquidez de suas ações]; o Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada [composto por ações de empresas que apresentam bons níveis de Governança Corporativa]; o Índice de ações com Tag Along Diferenciados [composto por ações de empresas que ofereçam melhores condições aos acionistas minoritários, no caso de alienação do controle]; o Índice Mid Large Cap [composto pelas empresas listadas de maior capitalização] e por fim, o Índice Small Cap [composto por empresas de menor capitalização]. Dados retirados do site da BM&FBOVESPA http://www.bovespa.com.br/Principal.asp >mercado>ações>índices. [internet] Acessado em 04 de dezembro de 2008.

Em 01 de dezembro do ano de 2005 (PAVINI; CLETO, 2005), os jornais187 anunciavam o lançamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) pela então Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA). O índice tem o “objetivo [de] refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro” 188.

Ao visitarmos a página eletrônica da BM&FBOVESPA no intuito de observar a performance do ISE, (sua evolução diária, sua taxa média de crescimento, sua evolução mensal etc.), nos deparamos com gráficos e uma avalanche de números. Porém junto aos olhos fixos na tela do computador surge uma questão: “Haveria, entretanto, alguma outra maneira de enxergar o ISE?” ou ainda, “Por que deveríamos nos importar com um índice?”

A resposta a estas perguntas nos remete ao argumento central deste trabalho no qual a possibilidade de um olhar sociológico sobre o ISE abre caminhos para compreender a emersão de um espaço social que se situa na interseção entre a Sustentabilidade e as Finanças e que contribui para o fortalecimento do mercado financeiro brasileiro ao incorporar elementos até então estranhos à esfera financeira.

Os índices representam carteiras de investimentos e um espaço de possibilidades finitas de critérios de investimento. A este rol de critérios de investimento é possível atribuir um denominador comum: o critério econômico. No entanto, o ISE, além de reunir empresas pelo critério econômico, utiliza critérios sociais e ambientais. Ao ser lançado na BOVESPA, o ISE acaba se tornando um divisor de águas entre, de um lado, uma economia do investimento clássica e técnica, e de outro, uma economia do investimento contemporânea progressista. Dito de outra maneira, o ISE cria uma realidade dual entre aqueles que adotam critérios de investimentos tradicionais (baseados em critérios estritamente econômicos como a lucratividade da empresa) e aqueles que adotam critérios de Sustentabilidade em seus investimentos (baseados nas ações sócio-ambientais das empresas).

Assim, o ISE é a janela para que se torne possível a compreensão das lutas simbólicas nas quais estão envolvidos por um lado, investidores educados pelo mainstream das finanças189 situados em um “bazar da racionalidade190” (GODECHOT, 2000) e, de outro,

187 O Estado de São Paulo “Mercado de Capitais agora tem Índice de Empresas Sustentáveis” de 14 de dezembro de 2005. [internet] Disponível em http://www.gabeira.com.br/noticias/noticia.asp?id=1468 Acessado em 29 de janeiro de 2010.

188 Dados retirados do site da BM&FBOVESPA http://www.bovespa.com.br/Principal.asp >mercado>ações>índices. Acessado em 04 de dezembro de 2008.

189 O mainstream das finanças atual advém em um primeiro momento, da construção do mercado financeiro enquanto lócus de jogos de azar atribuído principalmente pela sua imbricação com o crescimento das loterias

investidores que buscam construir uma nova racionalidade no intuito de se transformarem em mainstream191.

O ponto de partida para mapear os agentes sociais deste espaço consiste em um olhar mais atento para a história da elaboração do ISE assim como para os experts que irão compor o Conselho do Índice de Sustentabilidade Empresarial (CISE) com o intuito de deliberarem sobre questões concernentes à elaboração e à gestão do indicador.

A recuperação da história cronológica do desenvolvimento do ISE revela um esboço de sua árvore genealógica na qual se inserem novos agentes, instituições e seus esquemas de percepção do mundo financeiro. Assim, este capítulo retraça esta história, com o intuito de devolver ao indicador numérico descontextualizado, o contexto de seu nascimento e suas fases de crescimento.

Goede (2005 [1971], p. 117) menciona a idéia de que um índice ideal que computasse “todas as riquezas” possibilitaria uma representação verdadeira, exata e não arbitrária do mercado financeiro, porém, este ideal acaba por negar os processos políticos de seleção, computação e representação que estão no coração da estatística em geral e do mercado financeiro em particular192. No entanto, segundo Bourdieu (2005 [1997], p. 16) a “‘amnésia da gênese’ favorece o acordo imediato entre o subjetivo e o objetivo”, o que torna um dado econômico em algo a - histórico e, portanto, universal e natural. Assim, a re- contextualização do ISE procura recuperar a sua história social situando-o em uma realidade

nacionais no século XVIII e à sua associação às práticas de “apostas” e “especulações”. Em um segundo momento, o mercado financeiro e seu especulador se legitimam ao se desvincular das práticas de apostas irracionais e intuitivas, passando a se vincular à idéia de gestor de riscos (uma espécie de investidor orientado por critérios racionais). Para uma discussão mais aprofundada da construção da legitimidade do mercado financeiro pelo surgimento dos especuladores cool-head e racionais ver “Finance, Gambling and Speculation” in Virtue, fortune and Faith – a genealogy of capitalism – (2005) Marieke de Goede – University of Minnesota Press.

190 Aqui, refiro-me ao bazar da racionalidade descrito por Godechot (2000, p.18). O bazar “é um conjunto de estratégias voltadas para o ganho”. Entre as estratégias descritas pelo autor estão a arbitragem matematizada [mathematisé], a análise econômica e a análise via gráficos [chartisme]. Segundo Godechot, as estratégias para análise de investimentos são orientadas, não somente pela posição ocupada pelos operadores, mas também pelas disposições adquiridas no seio familiar e escolar e/ou profissional sempre em busca não somente de demonstrar que sua estratégia é lucrativa, como de valorizá-la simbolicamente para a construção e a confirmação de uma identidade profissional e social.

191 Em conversa com um dos palestrantes brasileiros presentes na Conferência do Triple Bottom Line Investing em Paris sobre o incipiente investimento por critérios sócio-ambientais, o interlocutor que pertence ao banco HSBC afirma que o problema era que eles (grupo de Investidores Socialmente Responsável) ainda não eram o mainstream no Brasil.

192 No original “The ideal of an “index that includes all wealth” expresses a desire to arrive at a true, undistorted, and nonarbitrary representation of the financial market. However, this ideal is as attainable as the map that represents phenomena on their true scale and negates the political processes of selection, computation, and representation at the heart of statistics in general and the stock market indices in particular” (Goede, 2005 [1971] p.117).

social específica através da qual é possível explicar o porquê do seu atual surgimento assim como o porquê de suas características específicas.