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Mapa 01 – Localização do município de Contagem

4.3 O novo conteúdo da política e do planejamento urbanos contagense

4.3.2 A Conferência Municipal de Política Urbana e a revisão do Plano Diretor:

4.3.2.2 O abandono e a possível retomada da política e do planejamento urbanos em

Após a aprovação desse instrumento de planejamento urbano, os esforços da administração local direcionaram-se para a elaboração da revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo, aprovada em 1998, regulamentando diversos pontos do Plano Diretor. Com boa parte dos instrumentos de política urbana aprovados, o planejamento e a gestão ficaram, durante alguns anos, em segundo plano, não ocorrendo ações mais efetivas nesse setor. Questionada sobre esse aspecto e sobre uma possível retomada do planejamento e da gestão urbanos, com a realização da primeira Conferência Municipal de Política Urbana (CMPU) e a revisão do Plano Diretor em 2006, a Consultora Técnica da SMDU entende que, do primeiro para o segundo Plano, houve um enfraquecimento das atividades relacionadas à questão urbana. Segundo a Consultora, os governantes, após 1998, não deram grande apoio para o desenvolvimento das ações de política urbana. Isto voltaria a ocorrer somente no governo da prefeita Marília Campos (PT), sendo que, para a consultora da SMDU, o processo de revisão do Plano Diretor é um marco importante em termos do planejamento e da gestão do espaço urbano.

Entre o primeiro plano diretor e o segundo, o planejamento urbano ficou mais ou menos amortecido, adormecido, vamos dizer assim. Os técnicos da área de planejamento me contaram, em um dos relatos deles, que eles praticamente adotaram estratégias de sobrevivência. Eles tentaram fazer com a maior dignidade possível o trabalho deles, muito embora não existisse, em alguns momentos, nenhum tipo de apoio do governo. Só com a Marília que isso veio a acontecer. Agora, eu não vou dizer que o planejamento foi retomado com o plano diretor, porque o planejamento não é só plano, o planejamento é um processo onde o plano de repente ocorre. Ele vem e registra aquilo que se pensa naquele momento, mas, de qualquer maneira, foi um marco muito importante (Informação verbal)112.

No segundo ano do seu primeiro mandato, a prefeita Marília Campos convocou, pela primeira vez no município de Contagem, a Conferência Municipal de Política Urbana

111 Entrevista concedida por Consultora Técnica da SMDU, em 24/02/2011. 112

(CMPU). Com o objetivo de avaliar a condução e os impactos do processo de implementação do Plano Diretor e propor alterações nas diretrizes do plano, a CMPU procura incorporar a participação popular aos processos de planejamento urbano municipal.

A Conferência foi constituída por quatro etapas, nas quais ocorreram debates entre a sociedade civil e os técnicos da PMC. Na primeira etapa, houve a abertura dos trabalhos da CMPU, com a participação de vários segmentos da sociedade. Realizaram-se, também, alguns debates relacionados à temática do planejamento urbano.

Na segunda etapa, ocorreram, simultaneamente, as plenárias regionais e a leitura técnica por parte da administração municipal. Tendo por base as regiões administrativas do município, realizaram-se reuniões com a comunidade para embasar a produção de um relatório comunitário a respeito da problemática urbana de Contagem. Nessa fase, foram eleitos os delegados de cada regional que participaram da fase final da Conferência. Além das plenárias regionais, houve, também, uma reunião específica para o setor empresarial, visando identificar as proposições deste para a revisão do Plano Diretor. Paralelamente, os técnicos da PMC elaboraram um diagnóstico contendo uma série de análises sobre os processos de estruturação do espaço urbano.

Na terceira etapa, o executivo municipal produziu as diretrizes que agregam o resultado das plenárias regionais e empresariais, além da leitura técnica. Como não havia nenhum conselho relacionado à política e ao planejamento urbanos, formou-se um fórum gestor com representantes da sociedade civil e do poder público municipal, com o objetivo de analisar a proposta de revisão do Plano Diretor e propor emendas ou alterações.

E, finalmente, na última etapa, ocorreu a plenária final, na qual foi realizada a votação das propostas. Participaram desta etapa o fórum gestor e os delegados de cada regional do município. Ao final dessa dinâmica, foi encaminhado à Câmara de Vereadores, o projeto de Lei com o novo Plano Diretor.

Questionada com relação à participação da população na primeira CMPU, a Consultora Técnica da SMDU afirma que ainda não fazia parte da equipe técnica no momento das plenárias regionais, no entanto, ela assegura que as decisões da CMPU foram amplamente respeitadas.

(...) o que nós temos feito, na conferência de 2006 e na de 2010, é respeitar a decisão popular. Na medida do possível, não é na medida do possível não, é quase uma decisão soberana. É óbvio que no processo da Conferência a gente tem que dialogar muito, tem que debater, então isso é um processo penoso, mas o que fica decidido na Conferência vai para a lei. Porque é óbvio que o governo ainda tem o recurso, é o governo que manda, é o executivo que manda, mas tem sido respeitado. Quando

alguém chega e diz: “ah, isso aqui poderia ser alterado”. Aí nós falamos: “aprovado pela Conferência”. Eu acredito nesse processo (Informação verbal)113

.

Ainda sobre a participação popular na revisão do Plano Diretor, a Consultora destaca a importância de um processo como a CMPU em comparação com outros fóruns. Segundo a entrevistada, ao contrário das audiências públicas, nas quais o poder público tende a participar já com os projetos finalizados, a Conferência e suas plenárias regionais permitem um amplo debate sobre os processos urbanos, permitindo a incorporação das reivindicações populares no projeto final.

Eu acho que o melhor processo para se fazer a revisão do Plano Diretor é a Conferência, pois esse negócio de se fazer uma audiência pública é um momento em que você já chega com as coisas prontas para a população. Eu não acho muito legal. A Conferência é muito interessante, pois você discute a cidade, depois você discute os problemas da cidade e depois você aponta o propósito. Só a discussão em si já tem valor (Informação verbal)114.

Um ponto de grande polêmica sobre a elaboração dos Planos Diretores é a fase de aprovação nas Câmaras Municipais, fato que em Contagem não se mostrou tão significativo. Diversos autores como, por exemplo, Cardoso (1997), tem ressaltado os conflitos entre o executivo municipal e o legislativo no momento da aprovação dos Planos Diretores. No caso de Contagem, segundo a Consultora Técnica da SMDU, apesar de alguns pontos terem sido muito discutidos entre esses dois poderes, o processo de aprovação ocorreu sem grandes problemas. O ponto de maior conflito foi sobre a permissão de atividades econômicas de caráter urbano nas áreas rurais do município, no qual não houve consenso sobre o tema e a Câmara de Vereadores vetou o dispositivo. Entretanto, após a aprovação do Plano, o executivo municipal discutiu a questão com os vereadores que promulgaram uma lei a respeito da problemática. A entrevistada afirma que o executivo municipal tem certa facilidade em discutir essas questões com o legislativo.

Agora, de um modo geral, a prefeitura nessas ocasiões tem facilidade de lidar com a Câmara. Tem alguns vereadores que têm um pouco mais de sensibilidade para a questão urbana. Embora a maior parte seja leigo ou pouco interessado nisso, em determinados temas, em determinados interesses (Informação verbal)115.

113 Entrevista concedida por Consultora Técnica da SMDU, em 24/02/2011. 114 Entrevista concedida por Consultora Técnica da SMDU, em 24/02/2011. 115