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SISTEMA INTERNO Variáveis

5.2.2. Projetos emergentes – Eixos de intervenção

5.2.2.1. O Aeroporto e o turismo

O turismo assume-se, a nível mundial, como um sector de grande relevância que em muito contribui para a atividade económica, movimentando recursos, pessoas, criando riqueza de forma direta, ou indiretamente pela ação que detém em sectores a montante e a jusante, como a hotelaria, transportes, restauração, etc.

A este propósito, o Alentejo tem, na atualidade, inúmeras potencialidades turísticas, em resultado das suas características em termos de património natural e cultural que em muito poderão beneficiar duma infraestrutura aeroportuária como fator facilitador da sua promoção, particularmente em mercados mais distantes e por isso suscetíveis de se assumirem como potenciais utilizadores deste meio de transporte50. Diga-se que já na atualidade, e conforme

referido no Plano de Marketing, elaborado pela EDAB, o turismo detém, na área geográfica em análise, uma especial relevância económica, quer pelo número expressivo de empresas de alojamento e restauração existentes51, como pela capacidade de criação de emprego e de

movimentação de capitais. Assume-se assim que um maior aproveitamento das potencialidades

50 De acordo com dados do INE, “Censos 2001 e Resultados Preliminares dos Censos 2011”, confirma-se que os

principais visitantes/turistas do Alentejo são de proveniência nacional e que no contexto dos estrangeiros, os Espanhóis são os que mais procuram este destino turístico. Pelo que a atração de novos mercados poder-se-á considerar determinante para a consolidação do Alentejo enquanto destino turístico de referência, por oposição a um turismo de massas, e consequentemente para a incrementação da vertente passageiros no que ao Aeroporto Civil de Beja diz respeito.

51 Segundo o documento referenciado “Plano de Marketing do Aeroporto de Beja” elaborado pela EDAB, o número de

alojamentos e estabelecimentos de restauração ronda os 4 000, garantindo emprego a mais de 10 500 pessoas. Registou-se, igualmente, entre 1992 e 2004, um crescimento de estabelecimentos hoteleiros de 61,7%.

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turísticas do Alentejo poderá ser um suporte para o desenvolvimento sustentável desta região do país, contribuindo para a diversificação das suas atividades económicas e para o incremento da coesão territorial, conforme preconizado na Carta Europeia do Turismo Sustentável, particularmente em dois polos ainda embrionários e que são o Litoral Alentejano e o Alqueva, conforme defende Freitas (2012). No que a este último diz respeito, muitas são as expectativas relativamente a projetos turísticos já existentes52, e que ainda não foram concretizados53 pelas

dificuldades de acesso à Banca conhecidas e que resultam da atual conjuntura económica de crise, eminentemente financeira, que se vive no mundo ocidental e a que Portugal não fica obviamente alheio. Por outro lado, esta ideia generalizada de crise económica, arduamente divulgada pelos media, é em si mesma desmobilizadora das ideias de lazer e de viagem, dado que por ora a principal predisposição dos cidadãos aponta para a poupança quase como um imperativo. Os cortes salariais, recentemente, implementados, pelo atual governo, também contribuíram de forma inequívoca para o decréscimo do rendimento disponível das famílias, particularmente das da classe média e média alta, diminuindo, assim a sua disponibilidade financeira para a aquisição destes pacotes turísticos e de lazer.

Porém, e passados os efeitos mais visíveis desta conjuntura económica, será expectável que a atividade turística retome o crescimento, como comportamento social e em resposta a uma procura. Assim, na atualidade, pensar o desenvolvimento, não significa promover cortes com o que é tradicional, nem a destruição dos valores existentes no mundo rural, considerados como riqueza coletiva. Pelo, contrário, o desenvolvimento concebido como processo social de transformação que pode assumir múltiplas formas, mas em que os protagonistas são também os destinatários do processo que continuamente promovem, enquadra-se na postura teórica de Lopes (1979) quando afirma que “o desenvolvimento passa pelo desenvolvimento regional ou, como na realidade tem que ser visto, desenvolvimento e desenvolvimento regional são apenas uma e a mesma coisa: todo o desenvolvimento tem que ser desenvolvimento regional.” (p.9) Atualmente, pensar o desenvolvimento integrado e endógeno é colocar necessariamente a questão do fenómeno turístico, pois o turismo é um dos sectores da economia portuguesa, que à semelhança do que se passa nos restantes países parceiros da UE, se caracteriza por um efetivo potencial de crescimento, o que alavancará outras atividades, uma vez que a atividade turística não constitui uma área isolada, pelo que políticas incidentes sobre outros sectores,

52 A título de exemplo, refira-se o Projeto Turístico de José Roquete.

53Já em Agosto de 2012 foi amplamente noticiada, pelos media, “a queda” do projeto turístico do José Roquete,

emblemático no quadro do potencial desenvolvimento do Alentejo, por incapacidade da banca de o financiar, em concreto a CGD.

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nomeadamente: transportes, ambiente, agricultura, etc. deverão ter em consideração a evolução do turismo enquanto atividade promotora do desenvolvimento regional.

Em face desta realidade, e porque a utilização e exploração de alguns recursos com vocação turística nem sempre tem sido feita de modo coerente, conduziu, ela própria, à saturação de algumas regiões54, bem como à sua degradação ambiental, pelo que, tornou-se cada vez mais

usual a procura de formas alternativas de turismo que permitam, por um lado, o prolongamento da época turística e que contrariem a sozanalidade a ela associada, promovendo serviços e contribuindo para a valorização de espaços já detentores de privilégios do ponto de vista histórico, ambiental, cultural. É neste contexto que o turismo cultural em espaço rural, ou o turismo de qualidade, em unidades tipo resort, ou ainda em casas de segunda residência, em crescimento no Alentejo, particularmente na área de influência do grande lago do Alqueva, ou até na costa alentejana se poderão assumir como verdadeiros potenciais de crescimento económico para o atenuar de assimetrias e para a implementação dum conceito de desenvolvimento mais harmonioso. Para este propósito em muito poderá contribuir a existência dum aeroporto, com as características do de Beja, que enquanto porta de entrada da região, servirá para a tornar mais atrativa, em mercados, necessariamente internacionais55, onde esta terá que se impor num

mercado concorrencial, onde a procura dita as regras e busca a diferenciação (Jornal SOL, 2011, 13 de outubro)

Nesta sequência, porque a complementaridade no que respeita ao turismo poder-se-á revelar uma clara mais-valia, atendendo à dimensão de Portugal, resulta quase como imperativa a necessidade de aproveitar, em favor do turismo do Alentejo, franjas de mercado específicas que procuram o Algarve com o objetivo primeiro de fazer férias de praia/sol, mas que poderão, caso se desencadeiem os mecanismos estratégicos adequados56, complementar essas com outras

ofertas diferenciadas, nomeadamente na área do enoturismo associado à gastronomia ou ao

birdwatching, para citar apenas alguns exemplos, onde pelas características do Alentejo (naturais,

patrimoniais e culturais) este complementa inequivocamente o Algarve, mais virado para o turismo de massas e assente no binómio sol/praia.

54 Inúmeros exemplos refletem esta constatação, nomeadamente nas tradicionais férias de praia, nas pistas de esqui,

onde o turismo de massas causou estragos ambientais e promoveu o empobrecimento cultural e contrariou o pressuposto de que turismo é fator de desenvolvimento. Em Portugal, algumas zonas da costa do Algarve são, hoje, exemplos dessa saturação: Armação de Pêra, Monte Gordo.

55 Por exemplo o mercado do Benelux, mais concretamente o da Holanda é da maior importância para afirmar o

Alentejo como destino turístico, conforme atesta o histórico daquele mercado, que nos últimos anos, tem ocupado uma posição merecedora de destaque no contexto da procura turística da região Alentejo.

56 Nomeadamente articulações, ao nível da promoção turística, entre Entidades Regionais de Turismo, ou das próprias

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Em face da realidade ainda embrionária, no momento, em termos de oferta turística do Alentejo, e de acordo com as previsões para esta área, não se afigura como verosímil que o turismo só por si, e num horizonte de curto prazo, tenha a capacidade para sustentar o Aeroporto Civil de Beja. Assume-se sim, como realista a perspetiva de que este pilar poder-se-á revelar como viável num horizonte temporal de médio/longo prazo, sujeito a um crescimento lento, e em resultado do desenvolvimento expectável na oferta turística regional, e como complemento de outros pilares, nos quais poderá assentar a estratégia de afirmação deste aeroporto, nomeadamente a de captação de um polo industrial, pilar que abordaremos no subcapítulo seguinte.