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O ALARGAMENTO DA PROBLEMÁTICA DA INSERÇÃO PROFISSIONAL

No documento (5) ANAIS - Educação e Desenvolvimento (páginas 159-161)

NOTA INTRODUTÓRIA

O ALARGAMENTO DA PROBLEMÁTICA DA INSERÇÃO PROFISSIONAL

Apresentamos, nesta primeira parte do artigo, alguns aspectos teóricos e conceptuais essenciais para compreender o desenvolvimento da nossa investigação sobre inserção profissional.

Um campo de investigação em "construção"

O campo de investigação sobre inserção profissional encontra-se num estado de "mosaico conceptual" (Trottier, Perron e Diambomba, 1995) e, desde a década de 90, numa "fase de construção" (Trottier, 2001)2. Na verdade, em diversos países se tem assistido a um

crescimento do número de operações de recolha de informação sobre a inserção profissional dos diplomados, quer por parte das instituições de ensino superior, quer por parte dos governos centrais3. Contudo, parece existir um consenso alargado entre vários

1 Referimo-nos à investigação intitulada "A inserção profissional de diplomados de ensino superior numa perspectiva

educativa: o caso da Faculdade de Ciências e Tecnologia" que foi concluída em 2003 e constitui Dissertação de Doutoramento em Ciências da Educação.

2 Segundo este autor "au cours des années 1990, on a franchi une nouvelle étape dans la construction du champ de

recherche et la définition de l'objet d'études. Différentes approches théoriques permettent maintenant de mieux conceptualiser le problème de la transition et d'en proposer diverses interprétations. On est passé du stade du constat du problème à celui de sa construction." (Trottier, 2001, p. 9).

3 Desde os anos 70 que se têm desenvolvido operações de recolha de informação sobre inserção profissional em

diversos países como, por exemplo, França, Reino Unido, Canadá e Espanha. Estas operações abrangem, em grande parte dos casos, os diplomados de ensino superior e, de um modo geral, tiveram início antes daquelas que se registam em Portugal.

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autores (Trottier, Laforce, Cloutier, 1998; Vincens, 1997; Nicole-Drancourt e Roulleau- Berger, 1995; Trottier, Perron e Diambomba, 1995; Tanguy, 1986) sobre a ideia de que estes trabalhos têm sido realizados sem que tenha tido lugar uma reflexão aprofundada e uma delimitação rigorosa dos conceitos a mobilizar, incluindo o de inserção profissional. Esta situação pode ser explicada, em nosso entender, por duas razões principais. Por um lado, pela juventude do campo de pesquisa sobre inserção profissional. Com efeito, é sobretudo a partir dos anos 70 do século XX, quando se regista um aumento das dificuldades dos jovens diplomados em encontrar emprego e a necessidade de planificar e gerir o sistema educativo em articulação com alterações cada vez mais rápidas do sistema produtivo, que emerge um campo de investigação centrado nas relações problemáticas entre educação e trabalho/emprego. Trata-se de um domínio de pesquisa que se "conjuga no plural", para utilizar a expressão de Jobert, Marry e Tanguy (1995), no sentido em que inclui uma diversidade de temas de pesquisa, como sejam a planificação da educação, a formação contínua, a qualificação e a inserção profissional, entre outras temáticas. Por outro lado, a situação de incipiente definição dos conceitos e perspectivas a mobilizar neste campo de investigação, explica-se pelo facto de o mesmo se situar na fronteira de várias disciplinas e abordagens teóricas. Com efeito, na reflexão sobre inserção profissional recorre-se a contributos de várias disciplinas (Sociologia, Economia, Gestão de Recursos Humanos, pesquisas sobre Juventude, Educação, Trabalho ou Emprego) e de várias teorias centradas quer em aspectos educacionais, quer na análise do mercado de trabalho ou ainda na articulação entre educação e trabalho/emprego.

Assim, a inserção profissional é, em nosso entender, uma área temática de pesquisa que se enquadra no campo de investigação das relações entre educação e trabalho/emprego, interessando, na sua abordagem, procurar conciliar domínios disciplinares, metodologias e perspectivas de análise.

A inserção profissional como processo adaptativo e educativo

As questões do emprego de diplomados de ensino superior são objecto de uma atenção crescente, constituindo tema de debate nas sociedades contemporâneas. Uma análise atenta das observações que quotidianamente se produzem sobre este assunto, revela-nos que o significado do termo inserção profissional é associado, essencialmente, à obtenção de um emprego e de uma situação profissional e contratual estável. Constata-se, também, que as relações entre ensino superior e trabalho/emprego tendem a ser vistas, fundamentalmente, como resultante do funcionamento e opções do sistema educativo.

Na tentativa de ultrapassar estes dois pressupostos, a nossa investigação traduz um alargamento da problemática, pois partindo da noção de inserção profissional enquanto obtenção de emprego, que nos pareceu sempre claramente insuficiente, construímos um entendimento de inserção profissional como processo adaptativo e educativo.

Por um lado, trata-se de um processo na medida em que rejeitamos a ideia de que a inserção profissional corresponde a um momento circunscrito de articulação entre educação e trabalho/emprego. Alternativamente, entendemos a mesma como um processo dilatado no

163 tempo, ao longo do qual são observáveis dinâmicas de convergência e de divergência entre educação e trabalho/emprego.

Por outro lado, trata-se de um processo adaptativo pois é o resultado da interacção entre diversos actores, não se resumindo aos percursos dos diplomados no mercado de trabalho após a conclusão dos seus estudos superiores. Na nossa investigação, considerámos a inserção profissional enquanto resultado da interacção entre os académicos (seus valores e estratégias), os empregadores (suas lógicas e necessidades) e os diplomados (seus percursos e dinâmicas pessoais e sociais). É de notar que esta interacção pode resultar num conjunto alargado de configurações possíveis, o que está dependente de cada pessoa e das diversas formas de inter-relação entre educação e trabalho/emprego articuladas com o contexto em que as mesmas decorrem.

Por outro lado ainda, trata-se, também, de um processo educativo por envolver aprendizagem e construção da capacidade de desempenho profissional, a qual é indissociável da construção da própria pessoa e da sua dinâmica identitária. Na nossa investigação, procurámos alargar os temas de pesquisa habitualmente estudados no campo da inserção profissional: privilegiámos não apenas a questão do acesso ao emprego por parte dos diplomados, matéria que é tradicionalmente abordada neste domínio de pesquisa4, mas

considerámos também os aspectos referentes à inserção profissional enquanto período de aprendizagem, de desenvolvimento pessoal e de construção de identidade.

Deste modo, julgamos que, para analisar a inserção profissional de diplomados, importa ter em conta três dimensões de análise e os respectivos indicadores que exemplificamos: - a relação entre educação e emprego (indicadores: tempo de espera até á obtenção de emprego, tipo de contrato, situação na profissão,…)

- a relação entre educação e trabalho5 (indicadores: articulação entre conteúdos de

formação e conteúdos da actividade profissional, tipo de tarefas e funções desempenhadas,…)

- a vivência da fase de transição do sistema educativo para o espaço profissional (grau de satisfação relativamente ao próprio percurso, relação com outros acontecimentos que marcam a entrada na vida adulta, variáveis sociais que influenciam a transição,…).

No documento (5) ANAIS - Educação e Desenvolvimento (páginas 159-161)