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4 DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

4.1 O AMBIENTE DE PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada em três universidades federais da Região Sudeste, denominadas A, B e C, precisamente em três estados da Federação.

As universidades federais podem ser consideradas como autarquias ou fundações vinculadas ao Ministério da Educação. De acordo com o art. 207, da Constituição Federal, gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecem ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. São criadas por leis específicas e observam, especialmente no tocante à educação, as orientações estabelecidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, as resoluções proferidas pelo Conselho Nacional de Educação e as normas advindas do Ministério da Educação. Em relação à gestão de pessoal, em geral seguem as leis, os decretos presidenciais e as portarias ministeriais que disciplinam e normatizam os planos de carreiras construídos para os docentes das Instituições Federais de Ensino Superior e para os técnicos e administrativos em Educação, com destaque para a Lei nº 8.112/90, que dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais. Nas matérias de natureza contábil-financeira, administrativa e patrimonial obedecem às legislações que se aplicam à administração indireta do governo federal.

As finalidades, a composição, as atribuições e estruturas das universidades são normalmente regulamentadas em Regimentos Internos e Estatutos, e os objetivos e metas de médio e longo prazo são expressos em Planos Estratégicos ou Planos de Desenvolvimento Institucional, que levam em consideração a realidade regional e local onde desenvolvem suas ações. As universidades identificam-se, portanto, em diversos aspectos, mas possuem especificidades que as diferenciam.

A autonomia das universidades federais, apesar de a Constituição assim prever, é muito relativa uma vez que a gestão institucional esbarra na falta de flexibilidade decorrente de múltiplas recomendações e controles que engessam os processos administrativos e retardam os processos decisórios. Isso suscita,

por parte de alguns teóricos, pesadas críticas não somente quanto à natureza dos processos de decisão, mas também quanto aos reais interesses que orientam tais processos em face dos grupos de interesses que atuam no contexto de uma instituição universitária. Não obstante tais fatos, a falta de autonomia na gestão é um dos fatores que dificultam, de alguma forma, os resultados e a performance das Instituições Federais de Ensino Superior. As universidades são criadas para promover, de forma sustentável, o desenvolvimento do ensino, da pesquisa, da extensão, da cultura e da inovação tecnológica; formar e capacitar cidadãos comprometidos com os princípios da equidade e da justiça e contribuir também para reduzir as disparidades sociais e econômicas de forma harmoniosa e equilibrada.

Apesar das dificuldades inerentes ao processo de gestão, é inegável o papel das universidades federais como instituições que atuam com inserção política e atitude ética, que devem estar em sintonia com o presente, mas sempre se projetando para o futuro. Isso significa que a universidade não pode parar no tempo, havendo a permanente necessidade de expandir as suas atividades, o que requer paralelamente a permanente atualização e qualificação do seu corpo docente e técnico-administrativo, a incorporação de novos docentes e técnicos para assegurar a expansão e oxigenação, além da reposição de quadros por aposentadorias ou outros eventos.

Durante muito tempo, o governo federal deixou de realizar concursos públicos para pessoal técnico-administrativo das IFES, notadamente as autarquias, as quais resolveram parcialmente o problema por meio de fundações de apoio, o que nem sempre se constituiu na melhor alternativa, mas a única possível para assegurar a reposição e garantir a expansão das atividades institucionais. Há que destacar também que as universidades federais sempre ficaram a reboque da falta de continuidade das políticas de governo para a educação superior; da escolha de ministros não identificados com a educação para ocupar o Ministério; da indefinição de recursos constitucionais para financiamento da educação superior; enfim, da ausência, de fato, de uma política para a educação superior do país. De alguma forma, essa situação pode ser elucidada pelo papel que a universidade historicamente assumiu de não curvar-se ante os imperativos políticos das elites dominantes do país; ao

contrário, colocou-se sempre como um espaço aberto à pluralidade de ideias, à liberdade de cátedra e respeito aos direitos e às liberdades individuais.

Em meados da década de 1990, ancorado em pressupostos neoliberais, o governo Fernando Henrique Cardoso realiza a Reforma Gerencial do Estado e, com o discurso de publicização, cria a figura das “organizações sociais”, que, recebendo o patrimônio público (recursos humanos, materiais e subsídios do governo), se encarregariam das atividades da educação superior pública, pois entendia o governo não ser a educação superior, a ciência, a tecnologia e a cultura atividades essenciais de governo (MARE, 1995).

É nesse ambiente que, em nome do equilíbrio financeiro do Estado, suprimem- se quadros, promove-se a extinção de cargos que não fazem parte das “Atividades Exclusivas do Estado” e flexibiliza-se toda uma legislação trabalhista para permitir que o Estado contrate servidores sob regimes de trabalho diferenciados, notadamente pessoal de apoio, tais como: motoristas, copeiros, recepcionistas, vigilantes, entre outros, e auxiliares de serviços gerais, sujeitos do nosso estudo, ampliando-se e incorporando-se, em definitivo, as atividades de terceirização ao contexto de trabalho do setor público federal.

Os auxiliares de serviços gerais, sujeitos da pesquisa, que hoje, sob a forma de terceirização, desempenham as atividades de asseio e conservação predial, tiveram como predecessores no setor público o cargo de Servente de Limpeza, um cargo do Grupo Operacional – Apoio Administrativo e Operacional, cujo pré-requisito era a alfabetização. Esse cargo tinha como atribuições executar serviços de limpeza de prédios, pátios, instalações, veículos, efetuar serviços de jardinagem, ajudar nos serviços de lavanderia e, sob a orientação direta, efetuar a movimentação de móveis e equipamentos, remover entulhos e lixos, e desenvolver outras atividades correlatas. Com tantas atribuições, não é de estranhar que o cargo terceirizado tomou a denominação de Auxiliar de Serviços Gerais.

Essa situação perdura e se agrava porque o governo federal, a partir de 2003, quando resgata, de alguma forma, o valor e a relevância das universidades federais no contexto da educação superior no Brasil, não autoriza a contratação de trabalhadores para essas funções, o que intensifica os

processos de terceirização para dar suporte à expansão e aprofunda o fosso existente entre trabalhadores efetivos e terceirizados, criando uma subcategoria de trabalhadores no serviço público federal.

4.2 LEGISLAÇÃO E NORMAS RELATIVAS ÀS CONTRATAÇÕES DE