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CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 O aproveitamento do potencial do ensino online

A adoção do ensino online tem implicado estratégias organizativas, pedagógicas e tecnológicas muito diversificadas que podemos agrupar em torno de dois modelos institucionais:

 Instituições online. Trata-se de IES totalmente online que vão desde pequenas universidades independentes até mega universidades (Hanna, 2003).

 Instituições tradicionais integrando ensino online. Para além do ensino presencial, as instituições tradicionais desenvolvem cursos online, ou adotam modelos mistos, em que coexistem momentos de trabalho presencial e momentos de trabalho

online (MacDonald, 2008).

Na literatura estabelece-se uma separação clara entre estes dois modelos institucionais quando implementam cursos online. Hanna (2003) sustenta que quando uma universidade tradicional decide aumentar ou reorganizar a sua oferta formativa, através do recurso a soluções de ensino online, não é a mesma coisa que quando uma universidade

online decide proceder a um aumento de oferta formativa.

Na experiência das universidades online sobressai a qualidade dos materiais multimédia, desenhados e desenvolvidos por equipas multidisciplinares, o apoio individualizado aos estudantes, prestado por professores com formação especial para trabalhar com adultos e para ensinar online, a boa qualidade da logística e da organização (Peters, 2003).

No que se refere às instituições de ensino tradicionais, trata-se de instituições com uma experiência de dedicação exclusiva ao ensino presencial que, em dado momento, compreenderam a importância do ensino online como forma de alargar a sua oferta educativa; através da implementação de soluções diferenciadas, combinando o modelo presencial com os métodos e recursos proporcionados pelo ensino online, procurando por essa via atingir novos públicos, melhorar os resultados dos estudantes e reduzir os custos.

Para que o potencial de alargamento das IES tradicionais a novos públicos, associado ao desenvolvimento de cursos online, possa ser verdadeiramente aproveitado, as opções institucionais devem ter em conta um conjunto de fatores considerados fundamentais para o sucesso e sustentabilidade do projeto.

Os estudos relacionados com a situação aos Estados Unidos concluem que cerca de 65% dos responsáveis por IES consideram que a adoção de cursos online constitui um fator crítico na estratégia da organização (Allen & Seaman, 2011). No Reino Unido a importância do ensino online é reconhecida pelas IES, constatando-se que mais de metade do seu orçamento se destina ao desenvolvimento de cursos que contemplam algum tipo de ensino

online (Jones, 2006). O estudo desenvolvido por Hasan et al. (2009), embora não

quantifique o investimento, deixa perceber que, em Portugal, ainda estamos muito longe dos países mais desenvolvidos.

Os fatores críticos com que as IES se confrontam na implementação do ensino online, independentemente do seu estádio de desenvolvimento, podem ser agrupados do seguinte modo:

 Nível estratégico. Dizem respeito às decisões que a organização tem de tomar para assegurar o desenvolvimento sustentado do ensino online e estão relacionadas, sobretudo, com as eventuais parcerias e a rentabilização do investimento (análise custo/benefício) (Allen & Seaman, 2010; Fresen, 2004; Hasan & Laaser, 2010; Khan, 2001; Moore, 2004).

 Nível tático. Dizem respeito às condições que é necessário assegurar para que, após a decisão estratégica de avançar com cursos online, os mesmos tenham condições de sucesso. Normalmente, referem-se a aspetos relacionados com os professores, os estudantes, a infraestrutura tecnológica e as tarefas de apoio aos utilizadores (Fresen, 2004; Khan, 2001; McCarthy & Samors, 2009; Oliver, 2001; Selim, 2007).

Apesar da economia de escala proporcionada pelo aumento da procura, numa tentativa para fazer face aos elevados custos de desenvolvimento, alguns autores referem a necessidade de promover a colaboração entre instituições. Esta colaboração pode ir até à criação de consórcios que possibilitem uma maior eficiência do desenvolvimento e da oferta, evitando duplicações desnecessárias. (Hasan et al., 2009; Moore, 2004).

Os custos de conceção e desenvolvimento de cursos online são, normalmente, associados com altos custos fixos, a suportar pela organização, e baixos custos de distribuição, a suportar pelos estudantes. A própria natureza do ensino online leva a que os custos de desenvolvimento sejam repartidos por um número elevado de estudantes, tornando o custo do desenvolvimento por estudante relativamente baixo (Shearer, 2003).

A este propósito Tanner, Noser e Totaro (2009), alertam para o facto de que os custos e o tempo necessário para desenvolver programas online tem levado algumas instituições a abandonar esses programas, por não disporem de capacidade para a sua sustentação.

McCarthy e Samors (2009) defendem que é imprescindível que as instituições, ao incluíram o ensino online na sua estratégia de desenvolvimento definam, com clareza, os recursos financeiros a disponibilizar de modo a assegurar a sustentabilidade do projeto.

Na mesma linha, conferindo muita importância à sustentabilidade, Khan (2001) e Moore (2004), advogam que se deve proceder à análise custo/benefício e à avaliação dos resultados, chamando a atenção para a importância do retorno do investimento.

Os aspetos referidos anteriormente remetem para a necessidade de investir de forma sustentada e proceder a uma análise das condições de “mercado”, particularmente, da competição que se estabelece entre as diferentes instituições, e à forma como a instituição se posiciona, ou se pretende posicionar, face a essa competição (Shearer, 2003).

De acordo com Shearer (2003), as instituições que pretendam levar por diante ofertas de ensino online devem, igualmente, ter em conta o ambiente político da época e analisar de que forma é que o mesmo é propício ao desenvolvimento dessas iniciativas.

Passando aos aspetos de natureza tática, a maioria dos autores aponta o triângulo constituído por professores, estudantes e tecnologia como os três fatores chave para o sucesso das iniciativas de ensino online (Fresen, 2004; Khan, 2001; Oliver, 2001; Osgerby, 2013; Selim, 2007).

De modo mais específico, Khan (2001) refere-se à importância do marketing, dos assuntos académicos (professores, remunerações, pessoal de apoio, carga horária das turmas), aos serviços de apoio ao estudante (tutoria, aconselhamento sobre carreira, outros serviços de apoio online), como sendo os aspetos mais relevantes para a implementação do ensino online.

Oliver (2001) considera que a qualidade da tecnologia pode ter um impacto significativo em todo o processo referindo, no entanto, que as questões tecnológicas mais críticas estão relacionadas com a facilidade de acesso e a navegação (Christensen, Anakwe & Kessler, 2001; Selim, 2007).

Uma conclusão consistente em muitos estudos refere que o mais crítico da tecnologia é a forma como é percebida pelos utilizadores, sendo consensual que se os estudantes e os professores identificam formas de aplicação prática estarão mais aptos e disponíveis para a sua utilização (Gibson, Harris, & Colaric, 2008).

Palloff e Pratt (2007) afirmam que é essencial “assegurar que os participantes têm acesso e estão familiarizados com a tecnologia que vão utilizar” 1 (p. 20).

Os estudos publicados (Fresen, 2004; Osgerby, 2013; Selim, 2007) são consistentes ao sustentarem que as questões relacionadas com a qualidade dos recursos e conteúdos de aprendizagem disponibilizados, o apoio aos utilizadores e a conceção da instrução, constituem fatores críticos para a implementação dos programas de ensino online. McCarthy e Samors (2009) não têm dúvidas em afirmar que o sucesso das iniciativas de ensino online está diretamente relacionado com o nível e qualidade dos recursos disponibilizados aos professores e estudantes.

Como se referiu anteriormente, os professores constituem o segundo elemento do triângulo dos fatores críticos para o sucesso do ensino online. Para além dos aspetos específicos relacionados com a aceitação, as motivações e constrangimentos, competências tecnológicas, etc., referidos na maioria dos estudos (Akroyd, Patton & Bracken, 2013; Bolliger & Wasilik, 2009; Herman, 2013; Rienties, Brouwer, Lygo-Braker & Towsend, 2011; Gomes, Coutinho, Guimarães, Casa-Nova, & Caires, 2011; Vord & Pogue, 2012), as IES antes de se envolverem em ofertas baseadas em ensino online, necessitam de conhecer muito bem as caraterísticas e necessidades dos professores, de modo a utilizarem estratégias de comunicação capazes de os cativar para o projeto (McCarthy & Samors, 2009).

Ainda segundo McCarthy e Samors (2009), é fundamental que as IES aprofundem o conhecimento sobre as motivações dos docentes para ensinarem online e desenvolvam estratégias que reconheçam e compensem os professores pelo maior esforço que lhes é solicitado ao dedicarem-se ao ensino online.

A estratégia da IES tradicionais quando optam pelo ensino online, para além de constituir uma opção organizacional, muitas vezes tomada por razões de sobrevivência,

constitui, também, um contributo relevante para a concretização das expetativas de boa parte da sociedade que já há algum tempo interiorizou que a aprendizagem passou a ser uma necessidade que acompanha as pessoas ao longo da vida.

Para corresponder a esta realidade, as IES viram-se na contingência de adotar soluções de ensino que possibilitam a um número muito significativo de adultos, verdadeiras alternativas e oportunidades de escolha, oferecendo-lhes um tipo de ensino mais flexível e ajustado às suas necessidades de compatibilizar a vida académica, com a vida profissional e familiar (Bolliger & Wasilik, 2009; Buzzetto-More, 2008).

Assim, quando se analisam os fatores referidos na literatura que levam as IES a adotar cursos online, o potencial de alargamento a novos públicos emerge como a justificação mais referida pelos responsáveis dessas instituições (Allen & Seaman, 2007).

No entanto, utilizando uma estratégia de comunicação orientada para o “cliente”, as IES apresentam, muitas vezes, como razão essencial para a oferta de cursos online, o facto de possibilitar uma maior facilidade de acesso. Esta estratégia de comunicação funciona porque corresponde à realidade percecionada pelos estudantes que, ao serem questionados sobre o assunto, identificam a facilidade de acesso como uma das razões mais importantes para a escolha deste tipo de cursos (Coutinho & Júnior, 2007; Moore, 2004; Gomes, 2006; Palloff & Pratt, 2007; Sethy, 2008).

Para além da facilidade de acesso, a maioria dos autores, identifica a flexibilidade de tempo e espaço como algo muito importante para os estudantes que optam pelo ensino

online (Allen & Seaman, 2011; Christensen et al., 2001; Buzzetto-More, 2008; Gaytan &

McEwen, 2007; Gomes, 2006; Graham, 2006; Lemos & Pedro, 2013; Palloff & Pratt, 2007; Safar, 2012; Song, Singleton, Hill & Koh, 2004).

Como já se referiu, muitos dos estudantes que aderem a modalidades de ensino

online fazem-no porque, para além da resolução dos problemas provocados pela distância

responsabilidades profissionais e/ou familiares (Sethy, 2008), valorizando ainda a possibilidade de evitar deslocações à escola.

A este propósito, Carneiro (2001) considera que a adoção de metodologias baseadas em ensino online poderá potenciar a adesão quer de novos públicos, como sejam os trabalhadores-estudantes, quer de outros potenciais interessados, como é o caso dos estudantes que, em dado momento, interromperam a frequência e podem vir a identificar na oferta de curso online uma alternativa para o reingresso.

Os custos constituem a terceira razão mais referida pelos estudantes para a procura dos cursos online (Graham, 2006; Sethy, 2008). Numa conjuntura difícil, em que os aspetos económicos assumem particular relevância, é de admitir que o fator custo tenha uma importância cada vez maior na tomada de decisão dos candidatos ao ensino superior.

Allen e Seaman (2010) concluem que a crise económica tem um impacto positivo sobre a procura dos cursos online pois, segundo eles, a redução do número de empregos bem remunerados faz com que muitos adultos procurem melhorar as suas qualificações de modo a terem mais oportunidades no mercado de trabalho, recorrendo à oferta que melhor se adapta à sua situação familiar e profissional pelo que, neste contexto, o ensino online tem elevado grau de atratividade.