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CAPÍTULO 2 REVISÃO DA LITERATURA

2.6 As perceções dos estudantes sobre o ensino online

2.6.6 O modelo de aceitação do ensino online (MAEO)

Conforme se referiu anteriormente, os estudantes, quando tomam a decisão sobre a escolha do curso, agem muitas vezes impelidos por aspetos de natureza subjetiva, assumindo os aspetos objetivos um papel pouco relevante nessa decisão.

Partindo desta constatação, e tendo em conta que um dos objetivos deste estudo consistia em apresentar e testar um modelo de aceitação que reflita as perceções dos estudantes em relação aos cursos online, analisaram-se os modelos de aceitação relatados

na literatura, procurando-se chegar a um modelo de aceitação do ensino online que reflita as perceções dos estudantes do ensino presencial.

Da revisão da literatura emergem várias teorias e modelos que têm em comum o objetivo de explicar a “intenção de utilização” através da relação entre o comportamento e as atitudes. De entre esses modelos e teorias, a partir dos quais têm vindo a surgir propostas de adaptação e extensão, aplicadas a diferentes contextos da utilização das tecnologias, destacam-se:

 A teoria da ação racional (TRA)7 (Fishbein & Ajzen, 1975);

 A teoria do comportamento planeado (TPB)8 (Ajzen, 1991);

 A teoria unificada de aceitação e utilização da tecnologia (UTAUT)9 (Venkatesh,

Morris, Gordon, & Davis, 2003);

 O modelo de aceitação de tecnologia (TAM)10 (Davis, 1989).

A teoria da ação racional (TRA) formulada por (Fishbein & Ajzen, 1975) é um modelo largamente estudado pela psicologia social que tem por base a consideração de que as pessoas se comportam de forma racional, avaliando o que têm a perder e a ganhar com a manifestação das suas atitudes. De acordo com Fishbein e Ajzen (1975), as “crenças” influenciam as “atitudes” enquanto estas conduzem à “intenção comportamental”.

A teoria do comportamento planeado (TPB) propõe-se operacionalizar a TRA, tendo por base o postulado de que a “atitude” e a “norma subjetiva” afetam a “intenção comportamental” (Ajzen, 1991).

A teoria unificada de aceitação e utilização da tecnologia (UTAUT) propõe-se explicar a “intenção de utilização” de um sistema de informação baseado em quatro fatores chave:

7 TRA - Theory of Reasoned Action 8 TPB - Theory of Planned Behavior

9 UTAUT - Unified Theory of Acceptance and Use of Technology 10 TAM - Technology Acceptance Model

(1) Expetativa de desempenho; (2) Expetativa de esforço; (3) Influência social; (4) Condições facilitadoras (Venkatesh et al., 2003). Para estes autores existem, ainda, outras variáveis externas tais como: género, idade, experiência e voluntariedade de utilização que tem impacto sobre os fatores chave.

O modelo de aceitação da tecnologia (TAM) consiste, tal como o TPB, numa adaptação da TRA, pretendendo ajustá-la ao contexto específico dos sistemas de informação (Davis, 1989), com o objetivo de:

Proporcionar uma explicação dos determinantes gerais da aceitação do computador, capazes de explicar o comportamento do utilizador em relação a uma ampla gama de tecnologias de computação colocadas ao alcance de diferentes tipos de população, sendo, ao mesmo tempo, parcimonioso e teoricamente justificado11. (Davis, Bagozzi & Warshaw, 1989, p. 985)

Conforme se pode observar na figura 5, o modelo de aceitação da tecnologia (TAM) baseia-se no postulado de que os fatores de importância primária nos comportamentos de aceitação são a “utilidade percebida” e a “perceção da facilidade de utilização”.

Utilidade percebida Facilidade de utilização Atitude Intenção de uso Variáveis

externas Sistema utilizado

Figura 5. Modelo de aceitação da tecnologia (TAM) (adaptado de Davis,1989)

De acordo com Davis (1989) existe uma relação entre a “facilidade de utilização” e a “utilidade percebida” que exerce influência sobre a “atitude”, desempenhando esta um papel mediador sobre a “intenção de utilização” do sistema.

11 The goal of TAM is to provide an explanation of the determinants of computer acceptance that is general, capable of explaining user behavior across a broad range of end-user computing technologies and user

A “utilidade percebida” tem efeito direto sobre a “atitude” e a “intenção de utilização”. Por sua vez, a “facilidade de utilização” influencia diretamente a “utilidade percebida” e a “atitude” e, indiretamente, a “intenção de utilização”, através da “utilidade percebida”, sendo os efeitos (diretos e indiretos) aditivos.

A “utilidade percebida” refere-se ao grau em que o utilizador considera que a utilização da tecnologia irá melhorar o seu desempenho. A “perceção da facilidade de utilização” é, normalmente, definida como o maior ou menor grau em que um individuo acredita que utilizar uma tecnologia não exige esforço. (Cheung & Vogel, 2013). Existe, ainda, um conjunto de variáveis, exógenas ao modelo, exercendo influência sobre a “utilidade percebida e/ou “facilidade de utilização” que variam de forma significativa, conforme os estudos publicados. Por sua vez, a “atitude” refere-se ao grau de interesse que um utilizador revela em utilizar determinado sistema (Cheung & Vogel, 2013).

Apesar do modelo TAM de Davis (1989) ter sido desenvolvido com o objetivo de explicar e predizer a aceitação das tecnologias informáticas em geral, tem vindo a ser aplicado em contextos mais específicos como é o caso do ensino e da aprendizagem online (Cheung & Vogel, 2013; Jan & Contreras, 2011; Liaw, 2008; Liu, Chen, Sun, Wiblie, & Kuo, 2010).

O consenso que nas últimas duas décadas se tem gerado em torno da TAM é evidenciado pelos inúmeros estudos que fazem a sua aplicação, tal como proposto por Davis (1989), ou apresentando extensões e/ou alterações ao modelo inicial (Abbad, 2011; Cheung & Vogel, 2013; Liaw, 2008; Liu et al., 2010).

Verifica-se uma preocupação, comum aos diferentes estudos, em adaptar o modelo TAM às especificidades do contexto estudado, resultando daí várias propostas de extensões e/ou alterações. Essas propostas vão desde a definição concreta das variáveis externas (Cheung & Vogel, 2013; Jan & Contreras, 2011) até a alterações mais profundas, suprimindo ou incluindo novas variáveis e respetivas relações (Abbad, 2011; Liaw, 2008; Liu et al., 2010).

Apesar de não existir unanimidade nas varáveis externas identificadas, existe algum consenso em torno dos fatores relacionados com as características do ambiente (conceção do curso, design da interface, interação, comunicação síncrona e assíncrona) e das características dos aprendentes (autoeficácia, experiência de utilização da tecnologia) (Abbad, 2011; Cheung & Vogel, 2013; Jan & Contreras, 2011; Liaw, 2008; Lui et al., 2010).

Apesar das inúmeras propostas de combinação, extensão e/ou alteração de múltiplas teorias num único modelo, a simplicidade do modelo original TAM (Davis, 1989) é, ainda, bastante apelativa, levando à sua utilização em vários contextos e, especificamente, no contexto do ensino online (Lee, 2010).