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O ASSOCIATIVISMO JUVENIL COMO PRÁTICA DE PARTICIPAÇÃO

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA1 ANIMAÇÃO SÓCIO-CULTURAL (ASC)

1. ANIMAÇÃO SÓCIO-CULTURAL (ASC)

4.1. O ASSOCIATIVISMO JUVENIL COMO PRÁTICA DE PARTICIPAÇÃO

O associativismo constitui-se como fenómeno social desde o século XIX, apesar da

associação humana ser tão antiga quanto a Humanidade. Garcia (1999) afirma que a perspectiva do desenvolvimento social a partir do associativismo sempre existiu, ela esteve sempre, no entanto,

subconsiderada em relação ao Estado e à importância das actividades empresariais.

A importância do associativismo estava, então, no campo das acções recreativas e das iniciativas pontuais a nível da solidariedade social mas, com a crise económica e social do final da

década de 70, caracterizada pela crescente globalização económica, pela crise dos Estados Providencia e das transformações ocorridas nas políticas de trabalho e de protecção social (Quintão,

2004) ganha novo significado e, as associações ou organizações sem fins lucrativos encontram o seu lugar na sociedade.

O Associativismo, insere-se, assim, no que se rotula por terceiro sector15 e que designa a

prática social da criação e gestão das associações, entendidas como organizações autónomas e providas de órgãos de gestão (Assembleia Geral; Direcção e Conselho Fiscal) e, também a apologia

ou defesa dessa prática de associação que se exprime por um processo não lucrativo e no qual as pessoas se reúnem, frequentemente em regime de voluntariado, para alcançar objectivos comuns. Existem dois tipos de associações: as que actuam como grupos de influência social, introduzindo

valores e reclamando espaços de cidadania e as associações que se constituem para oferecer serviços (Tschorne, 1990). As primeiras, formadas por voluntários têm como função a

consciencialização social e colectiva e, fundamentalmente, constituir-se como canal para a participação.

Segundo Fernandes (2003) esta participação pode ser: participação de facto (está

inerente aos grupos dos quais fazemos parte desde que nascemos como é o caso da família e da

15 Este termo tem tido uma crescente utilização desde o fim da década de 90 e, genericamente designa um conjunto de organizações muito diversificadas entre si, que representam formas de organização de actividades de produção e distribuição de bens e prestação de serviços, distintas dos (…) poderes públicos e as empresas privadas com fins lucrativos (Quintão, 2004).

religião, por exemplo); organizada ou voluntária (caracteriza-se por ser uma participação consciente e especializada cujas actividades são determinadas para alcançar fins, ritos e costumes

formalizados nas regras e estatutos associando-se a grupos mais ou menos estruturados); espontânea (típica dos pequeno grupos informais caracteriza-se pela procura em satisfazer as necessidades psicológicas dos participantes); suscitada ou provocada (por acção de animadores

exteriores e não iniciativa da própria associação) e, imposta (participação forçada sendo considerada fundamental para o funcionamento e sobrevivência da associação).

Mas, na sociedade contemporânea, caracterizada cada vez mais pelo individualismo onde se adopta o lema “salve-se quem poder” e, na qual cada um busca o seu bem-estar sem olhar para o outro, levanta-se a questão: Porquê associar-se? (Claves, 1994). Esta é uma realidade que parece

não estar na moda, uma vez que a sociedade civil está constantemente a ser chamada a intervir, a participar, mas grande parte das pessoas vivem apáticas refugiando-se no seu mundo privado como

se se quisessem exilar da realidade que intimida e da qual não se sentem protagonistas.

Apesar dos vários factores ou causas que influenciam, hoje em dia, os baixos níveis de participação, segundo Claves (1994) ao longo da História foram os movimentos sociais, os

fenómenos de mobilização e a organização de grupos ou sectores sociais que fizeram frente à opressão e à injustiça apresentando-se como motor das transformações sociais.

Esta ideia é apoiada por Ambrósio (2001) que entende o associativismo como um factor fundamental para a construção da identidade sendo um lugar de reflexão e de análise que não se caracteriza apenas pela reivindicação dos direitos e deveres mas, essencialmente, pela

responsabilidade social. Um dos exemplos é o seu papel preponderante no desenvolvimento local, chegando-se ao ponto em que não se consegue dissociá-lo das Iniciativas e das Associações de

Desenvolvimento Local.

O movimento associativo é, deste modo, uma realidade que não pode ser ignorada uma vez que

as associações servem, precisamente, para organizar (…) a participação dos jovens na

decisão e na construção da sociedade do futuro. (Ambrósio, 2001:56).

Em Portugal, o associativismo juvenil é uma realidade sociológica, jurídica, com cerca de

expressões de associativismo juvenil (nacional, local e estudantil) com estruturas, actividades e públicos diferentes.

Estas ocupam, cada vez mais, um espaço de relevo na ocupação dos tempos livres dos jovens constituindo-se, deste modo, num espaço de construção de sociabilidades e identidades de

juventude (Federação Nacional de Associações Juvenis – FNAJ).

Contudo, num estudo desenvolvido por Ferreira e Silva (2005: 8) chega-se à conclusão que

apenas um em quatro jovens admite ter pelo menos uma filiação associativa, tendo a

incidência de concentração no sector desportivo com 26,7%, seguida das associações de estudantes (4,9%), culturais ou artísticas (4,8%), de natureza religiosa ou paroquial (4,2%), de juventude (2,8%) e de natureza política, nomeadamente partidária (2,3%).

Concluem, ainda que o nível de instrução, género, situação conjugal e classe social são as variáveis que diferenciam os associados dos não associados. Deste modo, para Ferreira e Silva

(2005:9)

o universo associativo juvenil é caracterizado pelo seguinte perfil de variáveis: ensino

médio e superior, solteiro, masculino, estudante, muito religioso ou religioso

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e nova burguesia

assalariada e burguesia.

No que respeita ao exercício de funções de liderança os autores afirmam que quase um terço dos jovens associados assume esta função sugerindo, deste modo, que a acção dos jovens

não é passiva nem dependente adivinhando-se um protagonismo dinâmico na condução das

associações de que fazem parte (Ferreira e Silva, 2005:18).

As razões para a participação ficam a dever-se, em primeiro lugar ao desejo de socializar

e conviver. Depois, à possibilidade de desenvolver competências pessoais e a motivações altruístas ou que visam a mudança social, pois

para a maior parte dos associados, as associações

proporcionam oportunidades de convivência e de conhecimento de pessoas, formas de ajudar os

outros e experiências novas (Ferreira e Silva, 2005:20). Já as razões para a não-participação são

explicadas pela falta de tempo, pela falta de interesse que as actividades associativas despertam,

16 Segundo os autores a variável da religião não está relacionada com o sentimento de pertença, mas sim pela intensidade religiosa (os católicos não participantes estão associados à dimensão da não participação enquanto os católicos participantes à da participação).

pela ausência de estruturas associativas e pela falta de equipamentos e estruturas colectivas que condicionam ou inibem o envolvimento associativo (Ferreira e Silva, 2005, Magalhães e Moral,

2008).

Apesar destes dados, num estudo levado a cabo pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica Portuguesa chega-se à conclusão que a participação social no

nosso país é um fenómeno tendencialmente juvenilizado (Magalhães e Moral, 2008, 37).