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Toninho Dina

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1.2.2 O BAIRRO CAMPO DOS ALEMÃES

Devido ao Pinherinho estar localizado na Zona Sul de São José dos Campos e, como será visto mais adiante, a alta frequência de referências pelos sujeitos entrevistados à essa Zona, mais especificamente ao bairro Campo dos Alemães, esse capítulo visa contextualizar esse bairro, abordando alguns dados históricos e socioeconômicos relevantes para a pesquisa. Para isso, é de fundamental importância o trabalho de Rosa Filho (2007).

Segundo a pesquisa de Rosa Filho (2007), são conhecidas duas versões sobre as origens do bairro Campo dos Alemães. Uma delas é adotada como oficial pela prefeitura da cidade e a outra permeia o imaginário popular, principalmente dos sujeitos que residem ou residiram lá. Por diversas vezes durante as entrevistas, é feita alusão à versão popular da história do bairro, reforçando a pesquisa realizada por Rosa Filho (2007).

Segundo a versão dos moradores, a área que hoje compõe o bairro, pertencia a um casal alemão, que foi assassinado em uma de suas visitas à cidade, mais especificamente no bairro Jardim Paulista, localizado na Zona Central. Sem herdeiros, a prefeitura se apossou das terras para a construção de um conjunto habitacional (ROSA FILHO, 2007, p. 115).

Ainda segundo Rosa Filho (2007, p. 116) a versão oficial da Prefeitura de São José dos Campos, diz que a Câmara Municipal, em 1907, arrendou 400 alqueires do chamado Campo do Rio Comprido para uma empresa alemã de nome Companhia de Matérias Taníferas, de cultura de acácias. Tal companhia fez um alto investimento em plantações e benfeitorias. Porém, com o advento da Primeira Guerra Mundial, a empresa foi abandonada, já que sua diretoria estava situada na Alemanha.

O então prefeito João Alves Cursino reapossa as terras, resultando em uma ação judicial do Banco Alemão. A seguir as terras com benfeitorias da cultura de acácias foram vendidas a D. Borges e Cia, com sede no Rio de Janeiro e a terra sem benfeitorias, vendida a Uriel Gaspar e Cia. Por fim, ainda foram arrendadas outras terras no Campo do Rio Comprido (ROSA FILHO, 2007, p. 117). Ainda segundo o autor, parte dessas terras foi vendida em um plano de loteamento, o Colonial Paraíso. Na Figura 4, corresponderia ao que hoje se denomina os setores 15: Jd. Oriente/ Morumbi e 16: Parque Industrial. A parte não ocupada, em 1973, foi declarada de utilidade pública para a implantação de um Distrito Industrial pelo prefeito Brigadeiro Sérgio Sobral de Oliveira, porém o projeto perdeu sua validade depois de 5 anos, sendo então declarada área de Interesse Social pelo prefeito Joaquim Ferreira Bevilaqua, em 1978/1979. Dessa forma, transcorreu a desapropriação da área, com o desenvolvimento do projeto de loteamento Campo dos Alemães, em 1987, com área de 808.345,86 m² e Campo dos Alemães II, com área de

386.493,24 m², em 1988. Ainda dentro da área dos Campos dos Alemães, foram implantados os Conjuntos Residenciais D. Pedro I e D. Pedro II – governo municipal, estadual e federal – assim como o Conjunto Habitacional Elmano Ferreira Veloso, implantado em 1980 e regularizado em 1991 (ROSA FILHO, 2007, p. 118).

Figura 4 - Setores de São José dos Campos

Fonte: NEPO..., 2003.

Marcado por descontinuidades e interrupções, o Programa de Habitação popular do Campo dos Alemães, que teve início em 1980 com o Conjunto Habitacional Elmano Ferreira Veloso - 847 lotes-, não teve continuidade. Já em 1986, a Empresa Urbanizadora Municipal (URBAM)18 retoma os trabalhos e é realizado um censo da população favelada, com abertura

de inscrição para a aquisição de lotes.

18URBAM foi fundada em 10 de outubro de 1973 como uma sociedade de economia mista, e tem a Prefeitura de

Rosa Filho (2007, p. 102), sobre o Plano Diretor do Loteamento do Campo dos Alemães de 1989, aponta que “em maio de 1988, foram sorteados 934 lotes, dos quais 112 não possuíam rede de água com ligação domiciliar. Em outubro de 1988 foram sorteados 2.943 lotes sem rede de água e sem conclusão de serviços de terraplanagem”. Os lotes eram sorteados, com sistema de pontuação, dando preferência às famílias com até 3 salários mínimos e moradores de favelas. Ainda de acordo com a pesquisa de Rosa Filho (2002, p. 103), poucos compradores que adquiriram os lotes iniciaram a sua construção - aproximadamente metade deles. Para otimizar a implantação de infraestrutura, foi então incluído nos critérios de destinação dos lotes a possibilidade de seus proprietários iniciarem imediatamente a construção. Quem já havia comprado, e não tinha condições de iniciar a construção, foi convocado e recebeu um termo de credenciamento para liberação futura do lote. Na época, cerca de 250 famílias moradoras de favelas localizadas em áreas valorizadas imobiliariamente e centrais, como a do Caramujo19,

Santa Cruz (Linha Velha)20 e Banhado21, foram removidas para o loteamento do Campo dos

Alemães.

Vale lembrar que, pouco antes, em 1977 surge o primeiro Plano de Desfavelamento, devido ao crescente número de favelas que se formava em São José dos Campos. Nesse plano, liderado por sociólogos, dava-se preferência em manter os moradores em suas localidades ao invés de removê-los para áreas distantes, em uma tentativa de urbanizar as favelas, prevendo um menor impacto para seus moradores, mostrando um maior compromisso social. Porém esse plano foi alterado, enquanto Ednardo José de Paula Santos estava à frente da gestão executiva da prefeitura, sendo sancionado em 1978. Com as alterações, foi criada em 1978, a Empresa Municipal de Habitação (EMHA) pela Lei nº 2007/78, no que constava em suas funções erradicar favelas, cortiços e outras “habitações inadequadas” e “higienizar” as áreas ocupadas, prevendo parcerias com “organismos oficiais ou entidades particulares ligadas ao problema” (ROSA FILHO, 2002, p. 71).

Como citado, em 1991, também na região Sul, através da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e do Plano de Ação Imediata de Habitação Popular (PAIH), foram criados os conjuntos D. Pedro I, com 2.000 unidades e D. Pedro II, com 1.726 unidades que não chegaram a ser comercializadas, pois foram ocupadas previamente.

de serviços de infraestrutura essenciais para a comunidade joseense, a URBAM tem se desenvolvido e se adaptado às transformações das áreas urbanas nas últimas décadas (Disponível em: <http://urbam.com.br/site/Empresa/Urbam.aspx>. Acesso em: 23maio 2013).

19Região Sul. 20Região central. 21Região central.

A distância dos bairros, somada ao grande adensamento populacional, a falta de infraestrutura básica e ausência de equipamentos urbanos, se transformou em sérios problemas e reivindicações dos moradores desses bairros, que passaram a conviver com uma forte violência e com o difícil acesso à cidade e ao mercado de trabalho.

Dados do Atlas das Condições de Vida em São José dos Campos (NEPO..., 2003) fornecem uma perspectiva do setor socioeconômico do Campo dos Alemães, previamente à ocupação do Pinheirinho, ocorrida em 2004. Com relação à condição do domicílio, vê-se na Figura 5 que a região socioeconômica do Campo dos Alemães possuía a maior concentração de domicílios ainda em pagamento (33%) de São José dos Campos. Dessa forma, o número de domicílios “próprios já pagos” torna-se um dos menores da cidade de São José dos Campos. Outro dado interessante é a pequena porcentagem de domicílios na condição “cedido outra forma”, dado o histórico da região.

Figura 5 - Percentagem de Domicílios Urbanos por Condição Setores Socioeconômicos do Município de São José dos Campos - 2003

1 Alto da Ponte 7 Paranagaba/Campos de S. José 14 Jd. Satélite 21 São Francisco Xavier 2 Santana 8 Vista Verde 15 Jd Oriente/ Morumbi 24 Freitas / Sertãozinho 3 Centro 9 Jd da Granja 16 Pq. Industrial 27 Novo Horizonte 4 Jd. Paulista 11 Vl. S. Bento/ Torrão de Ouro 17 Jd. Das Indústrias 29 Putim

5 Vl. Industrial 12 Campo dos Alemães 18 Urbanova / Aquárius 30 Capão Grosso/ Bom Retiro/ Serrote 6 Eugênio de Melo 13 Bosque dos Eucaliptos 20 Vl. Adyanna q Esplanada

Fonte: NEPO..., 2003

A Figura 6 revela que o setor socioeconômico do Campo dos Alemães é extremamente adensado, apresentando a maior concentração de habitantes de São José dos Campos, juntamente com o Jardim Oriente e Morumbi. Contraditoriamente, apresenta um dos menores níveis de proximidade de transporte coletivo da cidade, como pode ser visto na Figura 7.

Figura 6 - Número de Habitantes segundo Setores Socioeconômicos - Município de São José dos Campos - 2003

Fonte: NEPO..., 2003.

Figura 7 - Percentagem de Domicílios Urbanos por Proximidade de Transporte Coletivo Setores Socioeconômicos do Município de São José dos Campos - 2003

1 Alto da Ponte 7 Paranagaba/Campos de S. José 14 Jd. Satélite 21 São Francisco Xavier 2 Santana 8 Vista Verde 15 Jd Oriente/ Morumbi 24 Freitas / Sertãozinho 3 Centro 9 Jd da Granja 16 Pq. Industrial 27 Novo Horizonte 4 Jd. Paulista 11 Vl. S. Bento/ Torrão de Ouro 17 Jd. Das Indústrias 29 Putim

5 Vl. Industrial 12 Campo dos Alemães 18 Urbanova / Aquárius 30 Capão Grosso/ Bom Retiro/ Serrote 6 Eugênio de Melo 13 Bosque dos Eucaliptos 20 Vl. Adyanna q Esplanada

Fonte: NEPO..., 2003

Outro dado de extrema relevância, é o rendimento familiar desse setor socioeconômico. Apesar de, na época, a cidade apresentar, segundo a pesquisa da NEPO... (2003), apenas 43% dos domicílios com rendimento mensal de até 03 salários mínimos, setores como o Campos dos Alemães chegam a apresentar 70% de domicílios nesta faixa de rendimento. Em contrapartida, setores como Vila Adyanna/Esplanada e Urbanova/Aquárius, 60% dos domicílios apresentam renda superior a 10 salários mínimos (NEPO..., 2003, p. 28), como apresentado na Figura 8.

Figura 8 - Renda Total das Famílias em Salários Mínimos - Setores Socioeconômicos do Município de São José dos Campos – 2003.

1 Alto da Ponte 7 Paranagaba/Campos de S. José 14 Jd. Satélite 21 São Francisco Xavier 2 Santana 8 Vista Verde 15 Jd Oriente/ Morumbi 24 Freitas / Sertãozinho 3 Centro 9 Jd da Granja 16 Pq. Industrial 27 Novo Horizonte 4 Jd. Paulista 11 Vl. S. Bento/ Torrão de Ouro 17 Jd. Das Indústrias 29 Putim

5 Vl. Industrial 12 Campo dos Alemães 18 Urbanova / Aquárius 30 Capão Grosso/ Bom Retiro/ Serrote 6 Eugênio de Melo 13 Bosque dos Eucaliptos 20 Vl. Adyanna q Esplanada

Fonte: NEPO..., 2003

O baixo rendimento das famílias do Campo dos Alemães, justifica-se, também, pela alta taxa de desemprego apresentada na Figura 9. Pode-se notar que esse setor, apresenta uma das maiores taxas de desemprego da cidade, entre 27% e 28%, enquanto que no Setor Urbanova/Aquarius, esse valor é de apenas 7% (NEPO..., 2003, p. 29).

Figura 9 - Taxa de Desemprego Setores Socioeconômicos do Município de São José dos Campos - 2003

1 Alto da Ponte 7 Paranagaba/Campos de S. José 14 Jd. Satélite 21 São Francisco Xavier 2 Santana 8 Vista Verde 15 Jd Oriente/ Morumbi 24 Freitas / Sertãozinho 3 Centro 9 Jd da Granja 16 Pq. Industrial 27 Novo Horizonte 4 Jd. Paulista 11 Vl. S. Bento/ Torrão de Ouro 17 Jd. Das Indústrias 29 Putim

5 Vl. Industrial 12 Campo dos Alemães 18 Urbanova / Aquárius 30 Capão Grosso/ Bom Retiro/ Serrote 6 Eugênio de Melo 13 Bosque dos Eucaliptos 20 Vl. Adyanna q Esplanada

Fonte: NEPO..., 2003

O alto nível de desemprego “formal” da região é compreendido, dada a frequência do tema da informalidade e da precariedade do trabalho como um todo, contido nas falas dos entrevistados a respeito das estratégias para fazer a sua renda. Esse assunto será tratado novamente na seção de “Resultados e Discussões”, principalmente para a compreensão de que o trabalho informal está diretamente relacionado à lógica capitalista e, mais do que ser uma opção ao desemprego, é uma “opção” do capitalismo e para o capitalismo.

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