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2 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 TIPO DE PESQUISA

Tendo conhecimento da importância da metodologia científica, busca-se classificar a presente pesquisa no intuito de se enquadrar no rigor científico recomendado. Dessa forma, a presente pesquisa é de natureza básica, uma vez que gera novos conhecimentos universais, porém sem aplicação prática prevista (PAULA, 1992).

Entende-se que, apesar dos objetivos se darem no campo social, investigando-o, analisando-o e fornecendo pistas para se inferir na realidade, de imediato não se dará nenhuma aplicação prática por parte do pesquisador, ficando além de suas possibilidades, mas à disposição de quem se aposse do conhecimento aqui gerado.

Ainda a respeito da metodologia, a pesquisa se enquadra em uma problemática qualitativa. É claro que um dimensionamento inicial se faz necessário, a fim de conhecer a população a ser estudada, assim como dados socioeconômicos fornecidos por institutos estatísticos, traduzidos em números e gráficos. Por outro lado, conhecer a realidade de moradores de uma ocupação envolve subjetividades e experiências de vida que não podem ser lidas em um gráfico. Ou seja, uma relação dinâmica entre a subjetividade dos sujeitos e o mundo subjetivo, necessitando a interpretação e a atribuição de significados aos fenômenos observados (SILVA & MENEZES, 2005). Na concepção de Minayo (2004, p. 21), são “significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, [...] que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Se, por um lado, a pesquisa qualitativa permite todo um universo de possibilidades, explorando a subjetividade contida na fala – e no silêncio- dos sujeitos, possibilitando interpretações do que é dito e não dito, ou o porquê determinada experiência é explicitada ou ocultada em um mar de possibilidades e variáveis, como por exemplo a presença do entrevistador, que pode trazer confiança, desconfiança, indiferença etc. ao entrevistado, por outro lado traz algumas restrições, como a complexidade da análise, limitando o tamanho do universo a ser estudado. Dada a sua complexidade, é necessária a preparação adequada do pesquisador para a coleta e análise dos resultados (MINAYO et al., 2010, p. 90). De qualquer forma, acredita-se que apenas dando voz aos sujeitos, serão alcançados os objetivos desejados. E a pesquisa qualitativa dá conta disto, na medida em que, por meio dela é possível reconhecer a singularidade do sujeito, revelando-se no discurso e na ação, assim como conhecer também a

sua experiência social, e não apenas as suas circunstâncias de vida (MARTINELLI, 1999, p. 22-23).

Esta pesquisa ainda se caracteriza, do ponto de vista dos objetivos, como descritiva e exploratória, buscando inicialmente se familiarizar com o tema para, através das análises das entrevistas, descrever as experiências através dos usos que os ex-moradores da Ocupação Pinheirinho faziam da cidade, descrevendo os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos (SILVA & MENEZES, 2005, p. 21). Finalmente e, pelo fato da pesquisa ter sido realizada após a desocupação do Pinheirinho, do ponto de vista dos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa Ex-Post-Facto (GIL, 1991).

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA

Como apresentado na seção “Referencial Teórico”, dados de Forlin e Costa (2010, p. 136) do ano de 2006, apontam para cerca de 1500 famílias, dado muito próximo aos da Prefeitura Municipal de São José dos Campos (SUPLICY..., 2012, on-line), que apontam 1600 famílias no ano de 2010 e também aos dados do IBGE (2010), apontando 1500 famílias no mesmo ano. É interessante destacar a Ocupação Pinheirinho não consta no Plano Diretor Integrado da cidade (PPDI-2006, 2006), que indica indiretamente números distintos. O número de moradores da Ocupação Pinheirinho, no ato da sua desocupação são contraditórios. Enquanto a Prefeitura Municipal apresentou apenas 2,85 mil pessoas, o Movimento dos Sem- Teto apontava 9 mil (SUPLICY..., 2012, on-line).

Alberti (2005, p. 31) afirma que “a escolha dos entrevistados é, em primeiro lugar, guiada pelos objetivos da pesquisa”. A opção pela História Oral como instrumento de coleta de dados para atender aos objetivos da pesquisa, reduziu a preocupação quanto à amostra que representasse a população da Ocupação, dada às particularidades desse instrumento.9

Para atender aos objetivos dessa pesquisa, revelando histórias e experiências de “pessoas comuns” de dentro da Ocupação, convencionou-se a limitar os entrevistados àqueles que não fizeram parte da liderança da Ocupação, tampouco dos Governos atuantes.

Para se chegar à amostra, enfrentou-se o desafio de localizar os sujeitos, uma vez que eles foram removidos da Ocupação, buscando moradia nos mais diversos lugares, dentro ou fora da cidade de São José dos Campos. Nesse sentido, o contato com os ex-moradores se daria através

da Prefeitura de São José dos Campos ou pela Liderança do Movimento dos Sem-Teto. Dessa forma, o critério inicial utilizado para a seleção dos entrevistados, foi à acessibilidade.

A dificuldade e burocracia de se conseguir acesso a dados da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, além do baixo número de moradores que constavam no último cadastro da Prefeitura logo após a remoção, foi visto com preocupação pelo pesquisador, dado o risco de se perder a heterogeneidade dos sujeitos que lá residiram.

Por golpe de sorte, em um seminário ocorrido na Universidade de Taubaté em treze de abril de 201210, identificou-se o advogado da Ocupação Antônio Donizete Ferreira (Toninho),

que é sabido ser filiado ao partido político PSTU, ao qual foi solicitado contatos de ex- moradores da Ocupação. É de suma importância a clareza de nenhuma relação prévia (assim como no decorrer da pesquisa) entre o pesquisador e o Advogado.

A partir de uma curta troca de e-mails11, chegou-se a quatro sujeitos. A fim de minimizar

a possibilidade de uma falsa saturação dos dados, pediu-se aos entrevistados outros contatos, e assim sucessivamente até que se encontrasse um volume de dados consistente que respondessem ao objeto de estudo.

No decorrer das entrevistas ocorreu algo bastante interessante. Após identificar uma

saturação no conteúdo dos depoimentos (após cerca de sete entrevistas), devido à riqueza de sentidos e relações que emergiam nos depoimentos, teve-se a mesma sensação que aponta Debert (2004, p. 145), em que “Sempre teria sido possível mergulhar mais profundamente nas mesmas coisas de forma a perceber novos ângulos. A cada nova entrevista, um novo leque de questões poderia ter sido aberto”, dessa maneira, estende-se o número de entrevistados para dez.

Após minuciosa análise dos dez depoimentos, confirmou-se a saturação dos dados nas primeiras entrevistas. Por outro lado, a análise de todas dez entrevistas se tornaria uma armadilha para o cumprimento dos prazos desta pesquisa, uma vez que a mesma seria atendida com uma amostra menor. Acredita-se, porém, que as entrevistas “pós-saturação” de dados contribuiu para uma aproximação ao objeto de estudo, consolidando um panorama geral da Ocupação ao pesquisador, possibilitando uma melhor organização da pesquisa.

Decide-se, portanto, utilizando o critério da intencionalidade, analisar seis entrevistas em profundidade, ressaltando que, mais do que o critério de representatividade, a saturação e escolha dos sujeitos se deram pela mesma sensação relatada por Debert (2004, p. 155) ao

10Para mais detalhes a respeito do evento, consultar: <http://www.unitau.br/noticias/detalhes/153/seminario-

realizado-pela-unitau-tera-presenca-de-suplicy>.

comentar sobre a coleta de dados de uma de suas pesquisas: “A força vem do fato de que são relatos muito vivos e a sensação que transmitem é que estamos mais próximos do que é ser um [...] [objeto de sua pesquisa]”. O mesmo ocorreu aqui, com relatos que pareciam contar mais da história do Pinheirinho. Ainda fazendo uso de um argumento de Debert (idem): “A sensação que esses depoimentos nos dão é que eles retratam alguma coisa, como se diz da boa literatura, que eles retratam uma época” (idem, p. 155)12. Além da “vivacidade” dos depoimentos, as

entrevistas selecionadas para serem analisadas em profundidade atenderam aos objetivos da pesquisa, além de serem os responsáveis pela primeira sensação de saturação dos dados.

A partir dos quatro sujeitos indicados por Antônio Ferreira, chegou-se a um total de vinte e uma indicações. Depois de contatos telefônicos, bem ou mal sucedidos, configurou-se a amostra de dez sujeitos entrevistados. Por questão de sigilo, a fim de preservar os entrevistados, seus nomes foram alterados, lembrando que Antônio Ferreira não faz parte dos entrevistados. A “árvore” de indicações assim se configura:

I. Toninho indica Dina. Dina indica Marta, Aline, Lucia, Silmara e Eli;

II. Toninho indica Cafú. Cafú indica Vinda. Vinda indica Amanda. Amanda indica Aninha, Catota, Paula e Gaúcho;

III. Toninho indica Dinho. Dinho indica Mara e Gisele. Gisele indica Irene. Irene indica Jacira, Carla e Raquel;

IV. Toninho indica Maria

Buscando uma melhor visualização desta “árvore de indicações”, tem-se a Figura 2:

12 Diferentemente desta pesquisa, os argumentos utilizados por Debert (2004) não são utilizados para justificar

Fonte: Autor, 2013

A Figura 2Erro! Fonte de referência não encontrada. ilustra essa seleção: a amostra analisada está identificada na cor vermelha, como segue: Dina, Cafú, Dinho, Marta, Vinda e Irene. Já o Quadro 1, explicita o perfil dos entrevistados que tiveram suas narrativas analisadas em profundidade nessa pesquisa. De ambos os sexos, os entrevistados de escolaridade variada (ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo e ensino médio completo) se destacam pela sua relação com o trabalho precário. Esses entrevistados já residiam anteriormente em São José dos Campos e, em sua maioria, em situação de Co-residência.

Toninho

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