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CAPÍTULO 3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS PROFESSORAS

3.1 O brincar representado na imagem de criança brincante

3.1.1 O brincar como elemento natural e próprio da criança brincante

A simbolização do brincar como natural e próprio da criança para aprender e se desenvolver se mostrou comum no discurso das professoras.

A fala das professoras retrata uma construção de pensamento sobre o brincar como próprio da criança, que lhe traz um mundo à parte da realidade, onde a professora expressa um sentimento de ternura, proteção e defesa do brincar da criança. Vejamos,

Eu mesmo tenho um menino pequeno, trabalho com Educação Infantil, eu noto muito isso... eles vão olhando assim... Parece que estão em outro mundo, não estão no mundo da gente: às vezes um caminhozinho para gente é um “caminho” pra eles é... sei lá uma coisa cheia de... só eles vêem aquela coisa diferente, eu noto muito isso com os meninos, eu observo muito isso assim às vezes a gente está... num certo lugar. Para a gente é uma parede, um chão, para eles... eles estão vendo outra coisa. Então, a criança eu acho que ela vive no mundo que é dela, um mundo de imaginação, de brincadeiras. Então, a gente não pode tirar isso, de jeito nenhum de uma criança, eu acho que é você pegar e, você assassinar uma criança se tirar essa brincadeira dela.

(Esperança 08)

Ao falar sobre o brincar estas professoras acham que a criança vive no mundo que tem um significado diferente do mundo real do adulto. Dizem que é um mundo da imaginação que a criança tem na brincadeira e o adulto deve perceber e respeitar como um elemento vital para o existir da criança.

Mostra-se como um olhar adulto carregado de sentimentos e de cuidados revelando um conceito de criança que pela fantasia ou imaginação constrói o seu mundo como condição vital para aprender e se desenvolver naturalmente.

A explicação do brincar natural que transporta a criança para um estado de “suspensão” da realidade remete a idéias do romantismo onde o brincar é

compreendido como um mundo à parte que se mostra como essencial para o existir da criança.

Em outra fala, que ressalta o brincar natural como meio para a criança aprender, a professora traz o brincar na imagem da criança brincante, quando diz que o brincar faz parte da vida da criança porque ela é brincante. Vejamos,

Eu acho que é a questão da criança aprender brincando, uma atividade que você faça na sala de aula e ela brincando ela aprende, seja matemática em qualquer área de conhecimento, o brincar é isso despertar na criança sem estar... assim... é forçando ela. Naturalmente ela vai aprender porque o brincar faz parte da vida dela, a criança é brincante.

(Esperança 02)

As professoras explicam que brincando as crianças aprendem naturalmente sem que o professor precise forçá-la porque o brincar é o seu elemento natural. Assim, conferem uma valoração positiva ao brincar da criança que, enquanto elemento natural, desempenha o papel de facilitador para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Vejamos outro exemplo onde os professores tomam o brincar como elemento natural da criança brincante associado à aprendizagem e ao desenvolvimento no âmbito individual cognitivo e social:

Porque a criança ela já tem esse brincar desde quando nasce, do momento que é acalentada, que ela é acariciada pela mãe, toda convivência da mãe com o filho já é um brincar, já é uma coisa... uma coisa gostosa e é uma coisa que faz a criança crescer e forma a criança. Forma a personalidade dele também na brincadeira. Então eu acredito que na educação infantil quando a criança chega na escola, isso não pode ser quebrado tem que ser continuado, por isso é que eu acho importante o brincar, o brincar faz crescer, faz adquirir conhecimentos, faz você viver, faz você se preparar para ser o adulto feliz de amanhã, porque se a criança não brinca ou brinca e, de repente, se quebra isso eu acho que é uma coisa que vai marcar para a vida adulta dela, porque é nas brincadeiras que a criança aprende limites, a questão da afetividade.

Para as professoras a criança tem o brincar desde que nasce e que por meio dele vai abstraindo o mundo, inicialmente, a partir da ação da mãe que brinca com a criança e que ao chegar na escola deve continuar associado à aprendizagem. Afirma que se houver uma interrupção no brincar da criança este fato trará marcas na vida adulta porque é brincando que a criança aprende a ter limites, cresce e se torna um adulto feliz no amanhã.

Expressam, desse modo, uma visão do brincar como universal no desenvolvimento das crianças ressaltando o seu papel na formação da personalidade da criança e que vai sendo naturalmente redimensionado e valorizado pela mãe como sua primeira parceira e estimuladora e que a escola não pode “quebrar” porque é nas brincadeiras que as crianças aprendem e desenvolvem, entre outros, a noção de limites.

Ainda, uma outra fala que também explicita uma compreensão de criança no brincar como elemento próprio que lhe permite viver e aprender

Ela brinca com... de alguma forma ela está sempre brincando. Brinca com os coleginhas, brinca com os dedos...então todo momento da criança é brincadeira e isso também ela está aprendendo.

(Esperança 03)

As falas ressaltam que a criança brinca com tudo e sempre, por ser o seu estado natural: “todo momento da criança é brincadeira“ que lhe permite crescer, se desenvolver e aprender, sendo este último aspecto bem acentuado nas falas das professoras.

Ela brinca com o outro, consigo mesma com as mãos, com os objetos conversando com os bonequinhos por ser natural dela, ela brinca assim criando e inventando naturalmente.

As professoras falam do brincar como um elemento natural e social da criança e trazem formas e suportes deste brincar: com o outro, consigo mesma e com brinquedos. Explicam que assim ela cria e inventa naturalmente.

É uma maneira de olhar a criança brincante cuja relação com o brincar é movida pela naturalidade das suas formas. Trazem o brincar como elemento natural e ressaltam a presença do outro e de suportes que as crianças utilizam desde o seu corpo a outros externos – bonequinhos - com os quais na brincadeira de faz-de-conta estabelece relações simbólicas que permitem criar e inventar.

As crianças tal como as suas formas de brincar na sociedade não vêm se mantendo com as mesmas características sociais e culturais e, entendê-las implica em considerar os contextos históricos e culturais onde se constituem e são constituintes, tendo como mecanismo de inserção os seus modos e suportes de brincar.