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CAPÍTULO 3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS PROFESSORAS

3.4 Necessidades e dificuldades de acompanhar o brincar na escola e na

3.4.2 O que dizem e pensam as professoras sobre o planejamento do

Para as professoras entrevistadas a importância do brincar consiste em ser próprio da criança, por isso eles o tomam como um meio e estímulo natural para a criança aprender a ler, escrever e se relacionar com o mundo.

Na sua grande maioria, não incluem o brincar como aspecto central no seu planejamento afirmando que ele está implícito como apoio ao ensino. Justificam a ausência a partir da cobrança que lhes é feita pela escola, direção e sistema escolar que não oferecem condições para a criança ter um espaço do brincar ou a própria família que cobra da professora que ensine os filhos a ler e escrever e, ainda, os momentos de formação continuada e inicial não

preparam as professoras para a inserção do brincar no planejamento como aspecto importante.

Parece-nos que as professoras têm dificuldades para propor no planejamento atividades de brincar, e buscam resolver esta questão ao tomá-lo como meio ou estímulo natural para a aprendizagem de conteúdos escolares. Vejamos o que dizem:

Não, não planejo o brincar não. Geralmente ele entra como um acessório. Vamos dizer assim,, eu quero dar uma aula sobre trânsito, como eu te falei, então eu já sei que eu tenho o jogo, então eu vou lá, eu tenho não, a escola, então eu vou lá e pego, então vamos fazer, dep...já ter...falado sobre...antes a gente faz uma explanação vamos dizer assim geral, sobre o trânsito, que já foi...no trânsito .

(Esperança 03)

O brincar consiste em um atrativo pedagógico. Por isso as professoras não planejam. Não passam de um acessório que o professor sabe que pode contar, algo que pode ser usado ou não, pois o critério repousa no conteúdo que precisa ser ensinado à criança.

É interessante que, apesar de acessório, as professoras informam que quando querem introduzir um conteúdo novo sempre trazem a brincadeira. Dessa forma a idéia de um brincar como estímulo é tão natural que parece não necessitar ser planejado.

Entra como elemento contínuo do meu planejamento. Porque todas as atividades que nós fazemos, é... todas não, mas uma maioria das atividades, agente usa esse lado imaginário, esse lado que a criança pensa que está brincando, mas está aprendendo, eles não sabem nem que estão brincando, não sabem nem que estão aprendendo, mas estão..

(Esperança 08).

Vejamos ainda o que diz a professora Esperança 09 sobre um planejamento do brincar

Na minha sala eu às vezes coloco no planejamento da semana, aí eu vou dá algum assunto e eu coloco uma brincadeira que seja relacionada e quando não, qualquer necessidade assim que surgir na sala que eu posso utilizar daquilo ali como a experiência do brincar.

Uma outra professora,

Deveria ser, não é, deveria ser, mas você concentra o planejamento em cima das disciplinas, português, matemática, ciências e arte, aí eu vejo a arte fechada, mas o brincar em si só se o professor tentar fazer, mas eu não vejo escrito não, no planejamento não, eu vejo assim sem planejamento.

(Esperança 09)

E ainda uma outra professora,

O brincar entra, eu acho que ele entra sim, como um apoio ao planejamento, tem que entrar a parte lúdica, e isso fica a critério de cada professor, não é direcionada, não é dirigida não é... esse brincar para o professor não é... você vai... não é planejado como é que você vai... Num se traça um planejamento para esse momento. Ele entra como um recurso para você trabalhar um conteúdo, por exemplo, se eu for trabalhar fábulas como eu estou trabalhando agora, então que eu tenho que introduzir um brincadeira, mas isso ai é a meu critério porque eu quero, por exemplo, enriquecer uma atividade para passar um conteúdo ai eu crio uma brincadeira.

(Esperança 04).

A professora Esperança 11 comenta sobre motivos que concorrem para a ausência do brincar como atividade planejada, mas ressalta a importância do brincar para enriquecer a atividade

Não, eu consegui fazer mais atividade planejada com as crianças pequenas na minha sala, mas quando eu fui para uma classe de meninos maiores, eu vivi dilemas. Tentei, equilibrar, mas eu sei que ainda é deficiente, eu acho que ainda é deficiente, pra é... quando é essa coisa não é uma atividade de leitura, de escrita de matemática e aquela coisa toda né? Eu vejo esse brincar, mal direcionado pelo professor e eu me incluo, certo? Mal direcionado mal pensado, né? Porque quando só fica muito no intuitivo, eu acho que a gente enquanto profissional deve resgatar isso, e uma coisa assim que eu fiz opção pela Educação Infantil, essa capacidade, eu me sinto como professora de

Educação Infantil, eu me sinto mais pesquisadora do que qualquer outra, em outra série, está entendendo? Eu acho que se a gente pudesse aprofundar esse brincar, essa coisa da ... porque é ... esse momento de entrevista faz a gente refletir. Essa coisa que eu estava falando dos jogos, das brincadeiras, cadê isso escrito? Cadê isso sistematizado? Cadê isso buscado? E eu vejo que isso a gente passa por muito por cima, eu aprendi como disse a você lendo textos, até as Diretrizes Curriculares, aquela coisa toda . È...eu aprendi que ...a importância desse brincar, mas eu ainda não entendo como eu vou efetivar na sala de aula, no ...cotidiano escola, então eu acho que ele é pouco explorado profissionalmente, agora pela criança... sem problemas não é?

(Esperança 11)

À medida que as crianças se aproximam da etapa final da Educação Infantil o esforço das professoras se concentra efetivamente na alfabetização. E o brincar, mesmo percebido como necessário em si, passa a ocupar um lugar meio que marginalizado.

Assim, situar os conteúdos da leitura e da escrita no planejamento acaba sendo o necessário e o que é cobrado. Nesse sentido, o brincar assume a sua função de meio ou acessório, pois apesar de estar naturalizado para as professoras como atividade livre e especialmente dirigida não implica, ainda, em obrigatoriedade ou critério no processo de ensino e de aprendizagem no contexto escolar.

Porém, algumas professoras tomam a imagem do brincar como algo que não aceita determinações, algo que deveria ser conhecido e melhor explorado. Dizem que mesmo já tendo lido sobre o brincar não sabem como propor na prática da sala de aula. E isto as faz entrar no dilema de buscar as formas de brincar pensado, mas sem determinações e, ao mesmo tempo, relacioná-las ao conteúdo que precisa ser ensinado e aprendido. Buscando compreender como fazer para superar a questão da improvisação.

Santiago (1990) ao realizar um trabalho de análise sobre a escola pública traz para a nossa reflexão alguns aspectos do planejamento escolar que consideramos como pontos norteadores nessa questão do planejar e na efetivação de um fazer muitas vezes por meio de improvisação, ou seja, trazendo para a questão do planejamento do brincar, não há uma preocupação em trazer o brincar planejado, já que as suas formas de aparição ou de inserção estão, muitas vezes, vinculadas à improvisação das professoras conforme vimos, mesmo que se tenha como provável a sua inserção na realidade objetiva do ensinar e do aprender.

3.4.3 A dificuldade de acompanhar o brincar e a crítica ao sistema escolar