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CAPÍTULO 2 O CAMINHO TEÓRICO-METODOLÓGICO

2.1 Passos na construção da resposta às nossas indagações

O objeto de estudo as Representações Sociais de Professoras da Educação Infantil sobre o brincar foi construído em meio a aspectos de nossa subjetividade, como professora de Educação Infantil e, ainda como formadora de outros/as professores/as, à medida que começamos a perceber a importância do brincar na constituição do ser social, à luz da literatura recente que trata do brincar na infância: Vygotsky (1991); Kishimoto (1999, 2001, 2002a 2004, 2005); Wajskop (2001); Carvalho et al (2003); Brougère (1998, 1999, 2001, 2002, 2004), dentre outros, que também influenciaram a conformação dos textos legais que se referem à formação da criança.22

Outrossim, no âmbito da Educação Infantil, segundo observações desenvolvidas a partir de nossa experiência profissional e, consubstanciadas, especialmente, a partir das leituras23 realizadas no contexto deste trabalho, observamos que apesar do que preceitua a legislação, o atendimento da criança com vistas à inserção do brincar como aspecto relevante para a sua

22 A LDBEN - 9394/96; as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/99 dentre

outros.

formação integral24 mostra-se, ainda, pouco significativo na maioria dos espaços escolares.

Nesse cenário, a professora tem um papel fundamental na mediatização entre a criança e o conhecimento de mundo, em suas nuances políticas, históricas e socioculturais, onde o brincar é um elemento familiar e assume a função de elo, e, ao mesmo tempo, essência potencialmente integradora entre a criança e a realidade; dessa maneira, inscreveu-se como sujeito desta investigação, onde buscamos a construção de uma visão crítica, aproximada, dessa realidade social.

As considerações que serão aqui apresentadas se norteiam por pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa qualitativa de base psicossocial25 com enfoque dialético por compreendermos que esta abordagem, como diz Minayo (2000, p. 24), “[...] se propõe a abarcar o sistema de relações que constrói, o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que traduzem o mundo dos significados”.

Este aporte permite pensar a realidade social enquanto totalidade concreta, como um todo estruturado, em curso de desenvolvimento, que transforma em composição significativa cada fato ou conjunto de fatos. Totalidade compreendida não apenas como sinônimo de todos os fatos e, sim, como

[...] um todo estruturado, dialético, no qual um fato qualquer (classe de fatos ou conjunto de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido (...) Os fatos são conhecimentos da realidade se são compreendidos como fatos de um todo dialético - isto é, se não são átomos imutáveis, indivisíveis e

24 Refere-se à educação da criança nos aspectos intelectual, social, afetivo e motor tal como

está preceituado na LDB de nº 9394/96.

25 A pesquisa tem cunho psicossocial por tratar-se de um estudo sobre Representações Sociais

que se situa na interface do psicológico e do social (JODELET, 2001, MOSCOVICI, 1978, 2003).

indemonstráveis, de cuja reunião a realidade saia construída - se são entendidos como partes estruturais do todo (KOSIK, 1976, p. 35-36).

A consideração da realidade social como uma totalidade ajuda a entender que, no processo de construção do conhecimento, “[...] os fatos, os dados não se revelam gratuita e diretamente aos olhos do pesquisador. Nem este os enfrenta desarmado de todos os seus princípios e pressuposições” (LUDKE E ANDRÉ, 1986).

Tais assertivas nos remetem à especificidade da pesquisa qualitativa que como diz Minayo (2000, p. 27) “[...] a pesquisa e os pesquisadores vivem sob o signo das contingências históricas de sua atividade”, que se processa como “[...] uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito” (CHIZZOTI, 1998, p. 79), permeada por significados, aspirações, valores, crenças e atitudes que não podem ser apreendidos, apenas, por métodos quantitativos ou por técnicas de mensuração (CHIZZOTI, 1998).

Para tratar da exterioridade e da interioridade como constitutivas da realidade social que conforma o nosso objeto de estudo no enfoque dialético, nos apoiamos em Minayo quando afirma que “[...] A dialética pensa a relação da quantidade como uma das qualidades dos fatos e fenômenos. Busca encontrar, na parte, a compreensão e a realidade com o todo; e a interioridade e a exterioridade como constitutivas do fenômeno” (2000, p. 24).

Nos definimos para desenvolver uma pesquisa qualitativa, à luz da Teoria das Representações Sociais de Moscovici (1978, 2003) tomando o enfoque dialético, pela especificidade no estudo de objetos que integram o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, considerando, ainda, estudos complementares de Jodelet, que segundo Sá (1998), confere uma feição mais objetiva à teoria, atribuindo ênfase aos suportes pelos quais as representações são veiculadas na vida cotidiana, tendo em vista a configuração das estruturas societais.

Estudar as Representações Sociais enquanto um saber prático, que diz respeito à experiência, direta ou indireta, no mundo dos objetos socialmente partilhados, procurando compreender o que pensam e dizem as professoras sobre o brincar, implicou em considerar este fenômeno como um saber não apenas construído no contato com o mundo dos objetos, mas, especialmente no contato com o(s) outro(s)e da bagagem cultural partilhada com ele(s).

Bachelard (1989) ressalta a vigilância epistemológica, tendo em vista o rigor metodológico necessário ao pesquisador de fenômenos construídos dialeticamente em universos consensuais, constituintes e constituídos nas relações sociais que permeiam e dão forma ao agir do ser humano, inclusive àquele que realiza pesquisa de natureza qualitativa, permeável às demandas da sua própria subjetividade.

Para tornar as nossas próprias aproximações criteriosas e merecedoras de crédito se fez necessária a escolha de procedimentos de coleta e de análise tendo em vista que as professoras são sujeitos históricos sempre em processo de construção, no incessante movimento e multiplicidade de práticas e discursos em que estão inseridos e com os quais (re)constroem sua relação com essas práticas.

Portanto, compreender as Representações Sociais implicou em considerar que estas não estão cristalizadas apenas por meio da conduta dos

indivíduos, mas que são veiculadas, alimentadas, renovadas através do diálogo dos sujeitos com seus pares sobre determinados fenômenos sociais que suscitam os seus interesses, fazem parte de seus contextos e são revelados através de suas falas.