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Na época eu19 fiz um curso de Desenho que foi feito na Universidade Federal, um curso de CADES. Eu fiz o curso de Desenho ali...

Antes de fazer Matemática eu estudava Engenharia... E assim que eu passei para Matemática, no ano seguinte, o diretor Edio Chagas, não sei por que cargas d‘água, me chamou para dar aula de Desenho no Aplicação... Não sei se o professor que estava dando aula saiu, qualquer coisa assim... Eu entrei não no começo do ano, mas com o segundo semestre andando. Isso em 1967. E como eu tinha o curso da CADES, fazia Matemática e também fazia Engenharia, eu fiquei como professor ali...

Eu dava Desenho Geométrico para turma do ginásio... Naquela época era o ginásio, depois o científico. E dava aula para todas as turmas, só tinha uma turma por série. Depois, quando essa turma passou para o primeiro ano do científico eu também fui para o primeiro ano do científico com eles, com o pessoal que era da quarta série. E a experiência em relação ao Colégio de Aplicação é que naquela época ele era realmente um colégio modelo, tinha uma metodologia de ensino bastante avançada com trabalhos em grupo, dinâmicas de grupo, conselho de classe, coisa que nas outras escolas não tinha. Nessa época eu já dava aula na Escola Industrial, hoje Escola Técnica20.

E foi uma experiência na minha vida profissional muito marcante porque além de eu estar estudando e aprendendo, ainda já estava ensinando. Quer dizer, como laboratório para mim foi ótimo! O grupo de professores era bem pequeno, a gente conversava bastante, a parte de alunos também era bem saudável, nunca tive problema de disciplina. Aliás, eu nunca vi nenhum problema de disciplina em um Colégio de Aplicação naquela época. O sistema de avaliação já era um sistema de avaliação mais moderno, com conceitos em vez de nota, e ainda antes de dar os conceitos para os alunos saberem, a gente fazia conselho de classe para se certificar do rendimento do aluno num todo, com todas as disciplinas reunidas.

19

Depoimento oral concedido em novembro de 2010 pelo Prof. Luís Alves Rodrigues, conhecido como Prof. Dourado, segundo professor de Desenho do Colégio de Aplicação da UFSC, no período de 1967 a 1970.

20 Escola Técnica Federal de Santa Catarina, com sede no centro de Florianópolis, hoje chamada Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.

Logo que eu me formei em Matemática, em 1970, fui para o Departamento de Matemática e aí abandonei o Colégio de Aplicação. Eu dei três anos aula lá... Desenho Geométrico... E dei aula de Desenho também no Instituto Estadual de Educação.

O Desenho que a gente trabalhava era o Desenho Geométrico. Você trabalhava com construção de figuras geométricas, tanto planas quanto sólidas, fazia toda preparação para Geometria da Matemática, tanto no primeiro grau, quanto no segundo. Você estudava, por exemplo, um triângulo, mas você aprendia a determinar altura, mediana, bissetriz de ângulo, traçar mediatriz, essas coisas todas... Noção de triângulos, semelhança de triângulos, igualdade de triângulos, os quadriláteros todos... Além de aprender todas as linhas importantes disso, eles aprendiam a desenhar aquelas figuras. E no segundo grau já entrava com Geometria Descritiva: Estudo da épura, rebatimento, toda aquela parte... Isso já o científico... E na quarta série, o que seria hoje a oitava, eu dava noções de perspectiva, para aprender a desenhar em perspectiva, a determinação das cônicas – parábola, hipérbole, elipse – e depois os sólidos geométricos. Além de mostrar o que era um prisma, um cone, a gente levava cartolina e fazia a figura geométrica e determinava área lateral, área total, volume... Mostrava essas coisas, mas é claro que a Matemática também fazia depois.

E hoje eu vejo, dando aula de Matemática, como o aluno não tem mais noção nenhuma de Geometria. Não sabe o que é uma altura, não sabe o que é mediana... Então essas coisas todas eram dadas em Desenho Geométrico. E tinha uma outra área do Desenho Geométrico, do Desenho, que era o Desenho Artístico. Mas nessa área eu não me metia não... Desenho Artístico não era comigo. A única coisa que eu dava nessa área, que eu gostava muito, aliás gosto, é a perspectiva, que inclusive fui eu que acabei conseguindo colocar como conteúdo curricular... Eu desenvolvia muito essa parte. Até as professoras, agora não é elogio não... Mas quando elas entravam depois da minha aula, elas ficavam maravilhadas com a organização do quadro, tudo bonitinho, giz colorido, aquele negócio todo. Caprichava bastante nessa parte...

O Desenho Geométrico era isso! Era o estudo das figuras geométricas, das formas geométricas, tanto retas como curvas, polígonos, cônicas, espirais, isso tudo a gente ensinava... Concordância de curvas, fazer concordância de uma reta com um arco, arco com arco, essas técnicas todas de montagem dessas estruturas. E no científico já era Geometria Descritiva...

O programa de Desenho antecipava a Matemática, mas o planejamento não era feito junto... Só que os programas eram

praticamente conectados com a Matemática. Por exemplo, se você ia estudar semelhança de triângulos, igualdade de triângulos, no terceiro ano em Matemática, você no segundo ano já dava a construção dos triângulos em Desenho. No primeiro ano praticamente não tinha Desenho, era só mais o Desenho Artístico. Começava mesmo era no segundo, terceiro e quarto anos. Também o aluno já está com mais habilidade, aí você tem que ensinar ele a usar o compasso, o esquadro, traçar paralelas, perpendiculares, toda essa parte... Mas eu, Desenho Artístico eu nunca dava. Eu quando peguei, sempre peguei o pessoal das séries mais acima... No Instituto, por exemplo, eu só dava aula no científico, não fui para o ginásio.

Mas como o Desenho saiu do vestibular em 1970, quando o vestibular passou a ser único e unificado, tiraram o Desenho. Aí o professor de Desenho ficou sem função! Quando eu comecei a dar aula em cursinho, eu dava aula de Desenho em pré-vestibular! Então no vestibular unificado de 1970, no qual eu e o professor Pedro Bosco fizemos a prova de Matemática, caiu o Desenho e aí...

E o Desenho é importante porque trazia a visualização. E depois a manipulação... Quando você fazia uma pirâmide, fazia um cone, você fazia um cilindro, você fazia um prisma... Primeiro desenhava, obtinha a figura no plano, depois monta, faz a figura espacial, aí você já tem ali o raio, já tem altura, já tem tudo... Ainda muitas vezes mandava furar bem o centrinho, passar uma linhazinha até o vértice do cone para mostrar que aquilo ali é a altura do cone. Uma linhazinha com um pesinho embaixo para eles verem que ali é a perpendicular, o que é um fio de prumo, fazia essas coisas no Desenho... Um aluno hoje vê no computador, mas ele continua vendo no plano! Ele não está usando um óculos de três dimensões... Tudo sempre no plano, então a noção de espaço fica fora! E nessa parte assim o Desenho ajudava muito. Ajudava bastante a ―desplanificar‖ as coisas... Perspectiva é um plano, é só ilusão de ótica...

Era isso... Mas foi boa essa conversa! Falar do passado, me fez lembrar de tempos bons...

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