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Eu34 comecei dando aula no colégio Getúlio Vargas. Ali eu dava Desenho Geométrico em uma disciplina chamada PPT, que era Preparação para o Trabalho. E quanto a isso eu indaguei bastante a direção do colégio porque eu pensei: Mas como PPT? Desenho Geométrico dentro de PPT... Então porque não oficializam a disciplina como Desenho? Mas não... Era PPT nas sétimas e oitavas séries. Isso mais ou menos na década de 1990.

Quanto à minha carreira... Eu queria muito fazer Arquitetura aqui na Universidade Federal! Então tentei o vestibular para Arquitetura em janeiro, no início da década de 1990, e não passei. Aí em junho desse mesmo ano soube que tinha o curso de Educação Artística, habilitação Desenho, na UDESC e fui lá fazer vestibular sem ter noção nem do que tinha pela frente. Mas passei... Fiz um semestre, em janeiro do outro ano tentei Arquitetura na Federal de novo e não passei... Aí fiz o segundo semestre e o terceiro semestre do curso da UDESC e no final do terceiro semestre eu percebi que o Desenho Arquitetônico era o que eu menos gostava, ou seja, nunca mais fiz Arquitetura!

Então comecei a me ligar mais com a parte de Desenho Geométrico, Geometria Descritiva, tanto que depois eu fui monitora de GD35 lá dentro. E aí quando eu estava estudando, como eu fui monitora, acabei criando afinidade com a área de Licenciatura em si e o curso que eu fazia era também Licenciatura... Era Educação Artística, habilitação Desenho – Licenciatura. Logo que me formei eu fiz especialização aqui no Departamento de Comunicação e Expressão da UFSC, na área de Computação Gráfica. Depois eu fiz mestrado na Engenharia de Produção direcionado à parte de Inteligência Artificial, com o objetivo de gerar um programa de ensino de Desenho. E agora, mais recente, em 2005, defendi meu doutorado também na Engenharia de Produção, mas na área de Mídia e Conhecimento, associando a mídia do vídeo para esclarecer a aula de Geometria Descritiva para alunos surdos.

Eu fui aluna do Colégio de Aplicação... Faz muito tempo! A gente tinha aula de Desenho na oitava série, com o professor Carlos Kincheski, isso em 1984 ou 1985, mais ou menos. E eu me lembro, por exemplo, que na época em que eu fiz o vestibular da UDESC tinham umas três, quatro alunas, fazendo para o mesmo curso que tinham

34 Depoimento oral concedido em outubro de 2010 pela professora Josiane Wanderlinde Vieira, professora de Desenho do Colégio de Aplicação da UFSC no período de 1997 até 1998. 35

estudado no Colégio de Aplicação comigo e nós passamos e achamos a prova literalmente fácil, em função desse nível de Desenho que a gente trazia do segundo grau. Na verdade do primeiro grau na época... Da oitava série, dessas construções todas, nomenclatura... Porque essa parte de Geometria, embora digam que vai ser dada uma pincelada na Matemática, a gente sabe que isso é inviável em sala de aula. O conteúdo da Matemática é muito amplo, não sobra tempo para dar enfoque à Geometria específica. Um ano de Desenho Geométrico é uma boa carga para quem vai fazer um vestibular e optar por uma área mais de representação gráfica!

Depois eu fui professora do Colégio de Aplicação. Eu não tenho certeza se foi um semestre ou um ano em que eu atuei no Aplicação como professora substituta. Mais tarde eu passei como efetiva, em 1998, em um concurso efetivo. Aí eu trabalhei só nove, dez meses, mais ou menos, porque em seguida abriu concurso no terceiro grau. Como eu já tinha feito meu mestrado e eu já estava querendo fazer doutorado e lá dentro do Colégio, por ser um ano só de Desenho, por ser um professor só, para ti te afastar ia ser mais complicado, crescer profissionalmente ia ser muito mais complicado... Então quando eu soube que abriu vaga no Departamento de Comunicação e Expressão Gráfica da UFSC eu vim fazer o concurso e em seguida já pedi demissão do Aplicação porque passei no concurso.

O nome da disciplina eu não lembro se era Desenho ou Desenho Geométrico, mas o que eu posso te dizer, desde quando eu era aluna é que era Desenho Geométrico o conteúdo. Sempre na oitava série. Eu fui aluna na oitava, depois como professora substituta na oitava, e depois como professora efetiva na oitava... Quanto à Educação Artística, quando eu era aluna, era tudo separado. Era uma coisa aqui e outra lá. Lá tinha o artístico, aqui tinha o Desenho Geométrico. Já eu, como professora, buscava trabalhar com eles um pouco de rosáceas, fazia origami... E esse vinculo veio mais meu mesmo, particular, porque a minha mãe era professora de Matemática e aí ela frisava muito em casa, brincava muito com a gente com origami desde criança. Então tinha origamis que eu fazia já da época de infância por estar fazendo com ela...

Os professores de Matemática não influenciavam diretamente na sala de aula, mas eu fazia muita questão de mostrar para eles o que eu estava fazendo no Desenho Geométrico... Eles não se metiam, o conteúdo era muito bem estruturado, tu não tinhas como fugir daquilo ali. Claro, foge como eu te falei, eu levava origami para dentro da sala de aula e origami não constava no currículo. Mas era uma forma de

fazer aplicação... Também as dobraduras... Eu gostava de materializar a Matemática para fazer com que eles entendessem e gostassem mais da Matemática através do nosso Desenho, no caso, através da representação dela. A minha sala de professor era junto com a dos professores de Matemática. Então eles sempre estavam olhando, eu estava transitando com materiais e a gente conversava nas horas de intervalos, refletindo em cima do material que eu tinha em mãos, entende? Muitas vezes o professor Naoraldo (professor de Matemática lá na época), foi meu professor também quando eu era aluna ali no Colégio de Aplicação, vinha conversar comigo, e eu procurava enfatizar as construções geométricas através das dobras e algumas formas Matemáticas também, explicando minha metodologia.

Antes de dar as construções em si, eu também apresentava transparências em retro-projetor mesmo, na época não tinha esse recurso todo áudio visual... Mas eu lembro que eu mostrava um conjunto de transparências sobre arcos, ogivas, arco romano, aquelas asas de cestos, aquelas construções... Mas não eram transparências mostrando como se faz, eram transparências mostrando os modelos, os nomes, as características, para depois a gente entrar nas construções já sabendo... Aí pedia para os alunos saírem por aí fotografando ou pesquisando em revista aplicações desses arcos na arquitetura, em monumentos, na própria natureza, para depois gerar as construções.

Eu acho que muitas disciplinas foram caindo fora do currículo da escola básica, como Desenho, em função de enxugar currículo, em função desse bombardeio de tecnologia... Agora veio a informática... Hoje em dia tem ―n‖ programas específicos para animação, para design gráfico, design de produto e tal, mas é notória a falta de conteúdo de Desenho para otimizar o uso dessas ferramentas.

Na época em que eu fazia faculdade, alguns professores lá da UDESC, do curso de Licenciatura em Desenho, também criticavam muito o fato de que os que se formavam não voltavam para o mercado de trabalho com a finalidade de lecionar, não atuavam na Licenciatura na prática. Então não sei porque resolveram extinguir o Desenho do Colégio de Aplicação... Talvez porque não tinham professores suficientes...

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