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Esse campo da cultura, isto é, a concretização da cultura abstrata em manifestações concreta de seus elementos, é composto por organizações. De acordo com Marques (1995), as atividades culturais nas sociedades contemporâneas adquiriram um espaço político próprio, exigindo que determinadas estruturas administrativas fossem criadas. Nesse sentido, para Marques (1995), a organização institucional da cultura muda, com maior ou menor significado, de país para país, refletindo não só as diferentes contradições administrativas, como diferentes realidades no que diz respeito ao papel do Estado e à autonomia e à participação da sociedade civil.

Machado-da-Silva et al (2010, p.111) trabalham a ideia de

reposicionar a noção de campo nos estudos organizacionais e evitar que se recaia em imprudências epistemológicas e teóricas favorecedoras: (i) da ontologização do campo, enquanto realidade de fato e completa (realismo radical); (ii) da reificação, atribuindo ao campo uma existência independente; (iii) do voluntarismo, supondo que o campo é produto exclusivo da ação humana; (iv) do funcionalismo, entendendo que o campo e suas relações resultam de necessidades funcionais dos atores sociais; (v) do normativismo, vislumbrando o campo meramente como uma representação social da realidade que impõe parâmetros para ação, caracterizando a supersocialização do ator.

Já segundo Carvalho (2009, p. 20):

O campo organizacional da cultura vive, no Brasil, um processo de transformação gradual, mas acelerado, de seu caráter mais tradicional. Com a franca participação do Estado, essas organizações têm sofrido importantes transformações, que é possível identificar no histórico das políticas culturais e na sua relação com o contexto político- econômico. É necessário compreender esse processo histórico e o caráter da participação do Estado nessa fase globalizada do capital e seu papel e interferência na conquista da participação da sociedade no campo da cultura.

Na área cultural, segundo Durand (2001), há uma pluralidade de interesses ativos: grupos, associações, organismos, revistas, fontes de financiamento, além de identidades e qualificações intelectuais, técnicas, estéticas, políticas e administrativas, com diversos interesses e pontos de vista que se confrontam em espaços sociais relativamente independentes entre si.

Assim Olmos (2008) sugere que a gestão pode construir poder. A existência de estruturas nas administrações públicas com maior ou menor reflexo orçamentário é um fator de peso na trama de poder. Abrir espaços onde não havia (criação de centros culturais, bibliotecas, salas; criações de subsecretarias, institutos), melhorar o que existe (ampliações, modernização de equipamentos) constituem passos para a ampliação de poder.

Olmos (2008) afirma que o mundo da gestão cultural é o que nos últimos tempos se denominou Setor Cultural. Para o autor, o setor cultura trata das seguintes atividades:

• artísticas, através da produção e ou difusão de espetáculos de distintos tipos (teatro,

dança, música, eventos, festivais, etc.); a formação (educação por e para a arte); o fomento (prêmios literários, jornadas, congressos, etc.);

• científicas;

• museísticas e de conservação do patrimônio (geralmente o tangível, monumentos,

lugares históricos, etc.);

• de promoção cultural (também centradas, em geral, somente atividades artísticas e ou

artístico-pedagógicas);

• de extensão e apoio geral através de determinados serviços e equipamentos

(bibliotecas, filmotecas, videotecas, etc.);

• de capacitação cultural.

Segundo Reis (2009) a cultura pode ser vista sob vários enfoques. Para a autora, do ponto de vista da economia são contemplados os bens, serviços e manifestações culturais que entram (ou poderiam entrar) em um fluxo completo de produção, distribuição e consumo.

Já Radcliffe (2006a) afirma que os limites espaciais e sociais da cultura são, portanto, dinâmicos. Para o autor, no campo da cultura os significados e as relações sociais são produzidas para irem além da arena local ou mesmo nacional. A partir daí, verifica-se a dificuldade em se estabelecer os limites do campo da cultura, já que há configurações estaduais, locais e a federal que podem ser estabelecidas de diferentes maneiras, conforme a perspectiva de cultura que se prioriza. Além disso, o papel do pesquisador parece estar posto à prova, pois além de ser preciso deixar cada vez mais claras suas opções teóricas, necessita estabelecer conversações entre teorias e metodologias de estudo que consigam contornar as limitações apresentadas por tais opções.

A partir de uma primeira tentativa de caracterização da trajetória do campo organizacional da cultura (SIMÕES, 2006), é interessante compreender como as organizações culturais foram se desenvolvendo no setor ao longo do tempo, tendo em vista o contexto

social, político e econômico do qual fazem parte, e como a cultura foi apropriada em ações concretas pelas organizações.

O estudo realizado por Simões (2006) apresenta a trajetória do campo da cultura. As principais origens do campo organizacional da cultura no Brasil estão relacionadas com a presença indígena e, posteriormente, a colonização portuguesa em conjunto com a vinda da Missão Artística Francesa. A partir daí, do ponto de vista organizacional, fatores como a industrialização e a urbanização, bem como a movimentação na sociedade quanto ao repensar a cultura no Brasil, além do apoio por parte do Estado, foram os fatores responsáveis pelo surgimento da primeira configuração do campo organizacional da cultura: o campo da cultura como identidade.

Posteriormente, a consolidação do pensamento desenvolvimentista, o crescimento e o desenvolvimento de uma sociedade de consumo, sem contar o interesse do Estado no campo, foram fatores que promoveram a configuração do campo da cultura como ideologia. Já diante de fatores como a repressão social, a ruptura em relação a movimentos anteriores, a ameaça à segurança nacional e a forte intervenção estatal, mediante a criação de diversas organizações, o campo da cultura se configura como estratégia. Como resultado das transformações da sociedade, da redemocratização política, de um esgotamento financeiro do Estado, mas também da consolidação de um mercado produtor e consumidor, o campo da cultura assumiu sua mais recente configuração: a de mercado.

Por fim, a partir de mudanças governamentais e de uma revalorização do papel do Estado na Cultura, chega-se a configuração atual do campo, na qual a cultura é apresentada como diretamente relacionada ao desenvolvimento do país. A existência de distintas configurações e as mudanças na lógica que orienta a busca pela legitimidade em cada representação do campo, em conjunto com a diversidade de atores e de suas relações, demonstram a complexidade da área da cultura no Brasil (SIMOES, 2006). A seguir, a figura 1 mostra uma representação desses diferentes momentos na trajetória do campo das organizações no Brasil.

Figura 1: A trajetória do campo organizacional da cultura no Brasil

Uma conclusão a que se pode chegar após essa análise é a de que a orientação mercadológica se consolidou, em grande parte, pela própria ação (ou inércia) do Estado no campo. A criação de leis de incentivo e o desinteresse estratégico do Estado nas questões culturais, em conjunto com as dificuldades financeiras que assolaram o país por muito tempo, deslocaram de vez a capacidade de decisão e de gestão da cultura para o mercado. Mesmo assim, a partir da construção de uma nova política cultural para o país, o Plano Nacional de Cultura, a questão cultural adquire maior destaque na agenda pública brasileira.

Além disso, os profissionais envolvidos com a produção e o marketing cultural têm chamado a atenção para uma nova visão da cultura, ou seja, da cultura como negócio (SILVA, 2001). Diante desse conturbado contexto, segundo Zuin, (2001), a mercantilização da produção simbólica  objetivo central do sistema de produção calcado na falsidade de que a massificação da cultura realmente possibilita a emancipação coletiva  possui duas tarefas fundamentais: a integração e a reconciliação forçada entre grupos sociais desiguais. Nesse contexto, para a autora, tudo que possa vir a público já se encontra profundamente demarcado, acarretando que qualquer comportamento que não se atrele ao atendimento das necessidades do consumo seja rotulado como desviante. Consequentemente, a partir dessa perspectiva, a promessa do mercado de integração e a reconciliação entre grupos sociais por meio da cultura parecem estar apresentando um efeito excludente, reprodutor e intensificador da desigualdade. O discurso defensivo apresentado por Teixeira Coelho (1980), segundo o qual a indústria cultural também teria condições de unificar classes sociais, parece ser o mesmo

• Influência de questões indígenas e negras • Missão Francesa • Movimento Barroco O R I G E M D O C A M P O • Industrialização e urbanização • Movimentos sociais • Apoio do Estado Cultura como identidade • Desenvolvimentismo • Sociedade de consumo • Interesse do Estado Cultura como ideologia • Repressão • Intervenção do Estado Cultura como estratégia • Redemocratização • Esgotamento financeiro do Estado • Crescimento do Mercado Cultura como mercado • Mudanças no governo • Revalorização do papel do Estado Cultura como desenvolvimento Linha do Tempo 2003... 1964 1985 1945 1920

utilizado por aqueles que defendem, por exemplo, que o crescimento dos centros culturais vinculados a instituições financeiras, proporcionaria uma democratização da cultura. O ponto central nessas discussões seria, justamente, qual o significado da cultura presente nesses centros e qual o efeito de sua repercussão na sociedade. Diante de um discurso ilusório de igualdade social e aparente e desregulada parceria público-privada, o campo da cultura parece estar cada vez mais distante do que Faria (2000) entende como cenário para o desenvolvimento e cada vez mais próximo do que Silva (2001) aponta como cultura como negócio.

Nesse sentido, Orozco (2007) afirma que a política cultural tem sido racionalizada em várias formas, incluindo o direcionamento para a melhoria das falhas de mercado, persistindo a racionalização e o fato das práticas culturais acabarem sendo dignas de apoio público por terem valor econômico. Para o autor, a política cultural tem sido repensada de modo a não mais exigir uma lógica especificamente cultural.

Orozco (2007) critica a relação entre o neoliberalismo e a política cultural. O autor afirma que as Políticas culturais são um subconjunto da política em geral, que é chamado frequentemente de política pública. Assim, Orozco (2007) apresenta um quadro que sintetiza fins e pressupostos da política cultural:

Quadro 1: Fins e pressupostos da política cultural Fim da política

cultural

Pressupostos Visão de

cultura

Observações críticas Refinamento A cultura são objetos e

práticas culturais que servem para o crescimento espiritual dos seres humanos

O importante é formar pessoas culturas

Idealista/elitista Implica vários pressupostos ideológicos geralmente relacionados a uma cultura hegemônica que exerce sua dominação através das ações culturais

Desenvolvimen to cultural

As sociedades tem diferentes graus de desenvolvimento A cultura é um elemento estratégico para o desenvolvimento Evolucionista/m odernista

As ações se articulam a partir de modelos de modernização cujos valores respondem a uma lógica capitalista ocidental

Democratização cultural

A cultura são bens e serviços que somente alguns tem acesso

O importante é levar a cultura para as massas

Idealista/ elista Se vê a cultura como um produto de importação e exportação que só alguns produzem e muitos consomem.

Democracia cultural

A gestão cultural como espaço para o exercício da cidadania Abertura para a diversidade e para o trabalho colaborativo desde e a partir da comunidade

Materialista/ antropológica

Implica uma participação proativa da sociedade civil e as condições político- administrativas para a sua realização

Fonte: Adaptado de Orozco (2007)

• Políticas que apresentam intervenções no nível dos agentes: podendo ser

autoritárias ou persuasivas.

• Políticas relacionadas aos meios de produção • Políticas relacionadas aos canais de comunicação • Políticas relacionadas ao público

• Políticas relacionadas às instâncias institucionais de organização dos

circuitos culturais:

• Políticas organizativas • Políticas frente ao mercado;

• Políticas frente à organização administrativas dos processos culturais; • Políticas frente à organização comunitária da cultura.

Também trabalhando considerações grais sobre políticas de cultura, Pratt (2005) resgata Matarasso e Landry (1999) para apresentar 21 dilemas estratégicos na política cultural:

1. Cultura como a arte ou a cultura como um modo de vida 2. Democracia cultural ou democratização da cultura

3. A cultura como valor que se auto-justificativa ou a cultura como desenvolvimento 4. A arte como um bem público ou a arte como uma atividade condicional

5. Consulta ou Participação ativa

6. Controle direto ou o isolamento do processo político 7. Público ou Privado

8. Prestigio ou comunidade 9. Nacional ou internacional 10. Comunidades ou comunitário

11. A diversidade cultural ou de monocultura 12. Patrimônio ou contemporâneo

13. Visitantes ou residentes

14. Imagem externa ou realidade interna 15. Subsídio ou investimento

16. Consumo ou produção

17. Centralização ou descentralização 18. A prestação direta ou terceirização 19. A arte ou o artista

20. Infraestrutura ou atividade 21. Artistas ou gestores

Canclini (1990) também apresenta um conjunto de paradigmas com ilustrações na América Latina.

Quadro 2: Políticas culturais: paradigmas, agentes e modos de organização

Paradigmas Principais agentes Modo de organização da

relação política-cultura

Concepções e objetivos do desenvolvimento cultural Mecenato liberal Fundações industriais e

empresas privadas

Apoio à criação e à distribuição discricionária da alta cultura

Difusão do patrimônio e seu desenvolvimento através da livre criatividade individual Tradicionalismo

patrimonialista

Estado, partidos e instituições culturais tradicionais

Uso do patrimônio cultural como espaço não conflituoso para a identificação de todas as classes

Preservação do patrimônio folclórico como núcleo da identidade nacional

Estadismo populista

Estados e partidos Distribuição de bens culturais de elite e reivindicação da cultura popular sob o controle do Estado

Garantir as tendências da cultura nacional-popular que contribuem com a reprodução equilibrada do sistema Privatização Neoconservadora Empresas privadas nacionais e transnacionais; setores tecnocráticos do Estado Transferência para o mercado simbólico privado das ações públicas na cultura

Reorganizar a cultura sob as leis do mercado e buscar o consenso através da participação individual no consumo Democratização cultural Estados e instituições culturais Difusão e popularização da alta cultura

Acesso igualitário de todos os indivíduos e grupos ao desfrute dos bens culturais

Democracia participativa Partidos progressistas e movimentos culturais independentes Promoção da participação popular e organização autogestionária das atividades culturais e políticas

Desenvolvimento plural das culturas de todos os grupos em relação com suas próprias necessidades

Fonte: Adaptado de Canclini (1990, p. 27).

Gray (2009) afirma que as políticas culturais têm sido cada vez mais utilizadas pelo governo, especialmente como uma ferramenta que pode ser utilizadas nas práticas em torno da promoção do desenvolvimento. Porém, para o autor há uma série de dificuldades, além dos problemas intrínsecos à área de políticas culturais, em torno das definições, metodologias e análises associadas às políticas culturais, tais como:

 problemas de definição: além de não poder ser definida com precisão, há a

questão de que a palavra cultura apresenta conceitos essencialmente contestados e as tentativas, geralmente mecanicistas, de delimitação dos componentes centrais do conceito;

 problemas de causalidade: uma das dificuldades em torno da adoção de

modelos mecanicistas de cultura, principalmente no uso de modelos deterministas de causalidade, está em demonstrar os efeitos da cultura, já que na melhor das hipóteses seria possível identificar uma série de fatores que poderiam ser resultados de escolhas de atores políticos, com uma série de ambiguidades

 problemas de medição: há dificuldades no desenvolvimento de dispositivos claros para medir o impacto ou a contribuição da cultura para os resultados de políticas específicas, especialmente se estes forem desejados e esperados em termos instrumentais.

 problemas de atribuição: há dificuldades em torno da atribuição dos efeitos da

efetividade das políticas culturais, da atribuição de valor e também da distribuição de recursos; já que o valor atribuído à cultura pode ser de várias naturezas.

Nesse sentido, de acordo com Köster et al. (2007) é preciso responder a algumas questões para que se estabeleçam políticas culturais adequadas:

• O que é a política cultural?

• Quem são os sujeitos e objetos dessa política?

• Por que desenvolver políticas culturais, isso é o que os objetivos da política

cultural e que precisa reagir.

• Quanto?. Isso significa que como podemos estimar, medir, calibrar, as

políticas culturais através dos seus recursos, processos, resultados e impactos.

• Como e onde?. Ou seja, para analisar como as políticas culturais são espaços

concretos, atores, períodos históricos e os sectores.

Esses questionamento surgem em função de uma série de lacunas ao longo da trajetória da discussão sobre políticas culturais. Canclini (1990 p. 9) aponta algumas transformações nas análises de políticas culturais:

• de descrições burocráticas às conceitualizações críticas; • de cronologias e discursos às pesquisas empíricas; • das políticas governamentais aos movimentos sociais; • das análises nacionais às pesquisas internacionais;

• da documentação sobre o passado à pesquisa crítica e ao planejamento.

Para Köster et al. (2007), nos dias de hoje, o planejamento cultural deveria considerar: estratégia, agentes culturais, a dimensão simbólica, a promoção de práticas culturais, não apenas o consumo, a criatividade e inovação, o impacto das intervenções na cultura, os políticos e o impacto das ações culturais sobre as preferências dos eleitores, a mídia local, o princípio dos direitos à cultura, a dimensão econômica da cultura e a oportunidade na estratégia de desenvolvimento apoiada pela cultura, as Tecnologias da Informação e Comunicação como fomentadoras da criatividade, da mediação cultural, distribuição e capacidade de participar competitivamente em alguns nichos da produção cultural mundial.

McGuigan (1996), por sua vez, afirma que as questões de política cultural podem ser consideradas úteis do ponto de vista de uma racionalidade crítica e comunicativa, que estas questões não são apenas questões de ordem prática da razão instrumental. Baseado em Focault e Habermas, o autor a forma que a política cultural é uma questão de debate público urgente, de acordo com e não apenas um problema técnico de administração.

Calabre (2009) afirma que ao definirmos, sinteticamente, políticas públicas, podemos dizer que são decisões ordenadoras da ação do Estado sobre uma determinada área, normatizando procedimentos, envolvendo diferentes agentes em todo seu processo de elaboração e implementação, inclusive da sociedade civil, com alocação de recursos financeiros e humanos. Para a autora, a elaboração de políticas culturais exige a formulação das ações com metas claras, que devem ser construídas a partir da delimitação dos atores sociais envolvidos (sejam como públicos ou como agentes realizadores), das interfaces e das transversalidades de cada uma das ações que dão vida a uma política.

Para O’Toole Jr (2010, p.230) “a implementação de políticas requer que as instituições arquem com o ônus de transformar tentativas de políticas gerais em um leque de

regras, rotinas e processos sociais que possam converter intenções políticas em ação”. O autor afirma que as relações interorganizacionais são elementos cruciais para o processo de implementação de políticas públicas. O’Toole Jr (2010) explica que a implementação de políticas públicas é um processo complexo estruturalmente.

Além disso, O’Toole Jr (2010) aponta algumas razões para isso: (a) verifica-se um

crescente volume de programas públicos elaborados para atender valores múltiplos; (b) a expansão das pautas governamentais pode resultar em conflitos jurisdicionais, sobreposições e eventuais desavenças; (c) cada vez mais, crescem as demandas para que os governos abordem problemas que não podem ser claramente classificados como pertencentes a este ou àquele nicho; (d) para governos que enfrentam insuficiências orçamentárias, as respostas para

problemas novos e urgentes, em geral, adquirem a forma de ―mandatos‖, fazendo com que departamentos, governos ou mesmo terceiros obedeçam a certas ordens.

Para O’Toole Jr (2010), a criação de políticas de implementação bem-sucedidas requer

a indução à cooperação e até mesmo à coordenação entre atores interdependentes diante de possíveis impedimentos. Dessa forma, os incentivos para planejar ações, segundo o autor, são a autoridade, o interesse comum e a troca.

Meyers e Vorsanger (2010) resgatam Michel Lipsky para apresentar o conceito de

―burocratas de nível de rua‖, definindo-os como ―servidores públicos que interagem

diretamente com os cidadãos no cumprimento de suas tarefas e que têm grande discrição na

execução de seu trabalho‖ (op. cit., p.249). As autoras afirmam que esses servidores ocupam

uma posição de influência única no processo de implementação de políticas públicas, já que: Devido a sua posição na interface entre os cidadãos e o Estado, os burocratas de nível de rua têm oportunidades significativas de influenciar a execução das políticas públicas. Os trabalhadores de linha de frente são responsáveis por muitas das atividades centrais dos órgãos públicos, desde a determinação da elegibilidade do programa à alocação de benefícios, o julgamento de conformidade com as normas, a imposição de sanções e a isenção de penalidades a indivíduos e empresas. Essas atividades de linha de frente formam o núcleo técnico de muitas organizações públicas (MEYERS E VORSANGER, 2010, p.250).

Segundo Capano (2009), a partir deste ponto de vista, as políticas: (a) são arenas de poder, o que significa que eles são o contexto no qual os atores se comportam a fim de manter, ou aumentar, seu próprio poder, recursos ou benefícios; (b) são as instituições, o que