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2.4 Coleta de dados

2.4.1 Observação participante

Para May (2004) a meta de entender que a observação participante possui é reforçada concretamente pela consideração de como as pessoas, incluindo o pesquisador, são afetadas pela cena social, pelo que acontece nesses espaços e pela forma como as todos atuam e interpretam suas situações sociais. O trabalho de campo é um processo contínuo de reflexão e alteração do foco das observações tendo em vista os desenvolvimentos analíticos que permite que o pesquisador presencie as ações das pessoas em diferentes situações, refletindo assim sobre suas motivações, crenças e atos (MAY, 2004). O autor afirma que para ter acesso e participar de uma cena social o pesquisador precisa ser aceito em algum grau.

Nesse sentido, a imersão no campo e o fato de todos os eventos observados terem sido públicos foram elementos centrais para a realização das observações e para a aceitação do pesquisador. Optou-se aqui pela modalidade de observação participante, embora tenha sido mantida uma postura não intervencionista ao longo de todo o processo de observação, não foi omitido o motivo pelo qual havia a presença do pesquisador naqueles espaços. Nesse sentido, embora não fosse do interesse do pesquisador participar ativamente dos eventos, ele era visto como membro daquela esfera de participação tanto por parte dos organizadores como pelos participantes.

Ao analisar o papel do pesquisador na observação participante, May (2004) afirma que este testemunha a interpretação e a aplicação de novos conhecimentos pelas pessoas, incluindo ele mesmo, nos seus ambientes sociais. May (2004) resgata algumas idéias de Bruyn para estabelecer alguns critérios para a reflexão sobre o processo de observação participante:

a) tempo: quanto mais o tempo o pesquisador passa com um grupo, maior a adequação do processo;

b) lugar: o pesquisador deve registrar além das interações observadas, o ambiente no qual elas acontecem;

c) circunstâncias sociais: quanto maior a variação das situações em que o pesquisador estiver com o grupo, maior será seu entendimento sobre ele;

d) linguagem: quanto mais familiarizado com a linguagem de uma situação social estiver o pesquisador, maior precisão suas interpretações terão;

e) intimidade: quanto maior for o envolvimento com as pessoas, maior será a capacidade do pesquisador em entender as ações do grupo e seus significados; e, f) consenso social: é a forma como o pesquisador, por meio da continuidade do

processo de observação consegue indicar como os significados são empregados e compartilhados pelas pessoas, reforçando assim a confiabilidade do estudo.

A partir dos critérios apresentados por May (2004) acredita-se que o tempo de imersão no campo foi suficiente para contemplar todos os itens apresentados.

Ao longo do processo de observação participante os seguintes tipos de eventos foram apresentados:

 Pré-conferências de Cultura

 Conferências municipais de cultura  Conferências Interregionais de Cultura  Conferência Estadual de Cultura  Conferência Nacional de Cultura  Eventos sobre economia da cultura

 Eventos acadêmicos sobre pesquisas e práticas na área da cultura  Encontro de delegados municipais de cultura

 Encontro de conselho municipal de cultura

Nesses eventos foram realizadas anotações e também gravações das falas dos participantes. O registro dos eventos foi realizado por meio de um caderno de campo, no qual informações a respeito de organizações, atores, datas, fatos, eventos futuros, questionamentos e impressões do pesquisador foram anotadas. Já as falas foram gravadas no intuito de contribuir com a análise prévia do campo, além de corroborar ou levantar questões a serem exploradas nas demais fontes de dados. Porém é importante salientar que por questões éticas seus trechos não serão utilizados, já que nos eventos não foi realizado o pedido de gravação e utilização das falas. A tabela detalhada com os dados explicativos de cada evento e das falas gravas pode ser visualizada no anexo 1.

2.4.2 Entrevistas em profundidade

Ao longo do processo de coleta de dados optou-se pela realização de entrevistas em profundidade, semi-estruturadas. Segundo May (2004) nas entrevistas semi-estruturadas o pesquisador além de estar ciente do conteúdo a ser explorado, deve registrar a natureza da entrevista e a maneira na qual as perguntas são realizadas, sendo necessário entender o contexto no qual o processo se passa. A seleção dos sujeitos que formaram o grupo dos entrevistados para a pesquisa foi embasada em duas premissas:

 que o indivíduo respondente tivesse atuação no campo da cultura em um

período superior a cinco anos, de modo a ter vivenciado pelo menos duas gestões diferentes na secretaria estadual de cultura; e

 que a experiência e atuação do entrevistado no campo e na organização fosse

claramente comprovadas previamente pelo estudo do campo.

Também foram selecionados para entrevistas sujeitos citados pelos entrevistados como representativos do campo da cultura no estado do Rio de Janeiro. As entrevistas foram marcadas e a autorização para sua gravação aconteceu grande parte pessoalmente. Apenas alguns entrevistados encaminharam pedidos para a formalização dessa autorização. Optou-se na pesquisa por flexibilizar o estabelecimento por escrito dessas autorizações em função do perfil e do grau de responsabilidade dos entrevistados. Dessa forma, foram realizadas 19 entrevistas com duração média de 1 hora com os seguintes representantes:

 secretária de Estado de Cultura do Rio de Janeiro

 representante da coordenação do Plano Estadual de Cultura  ex-funcionário da Secretaria de Estado de Cultura

 secretários e representantes municipais dos órgãos de cultura  representante regional do Ministério da Cultura

 representante da organização responsável pela organização da preparação das

Conferências

 representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico,

Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro - SEDEIS

 representante do COMCULTURA

 delegado de cultura

Os representantes acima mencionados ocupam o cargo principal da organização ou são assessores imediatos. Os dados detalhados sobre o quadro de entrevistas realizadas podem ser obtido no anexo 7 da tese. Os roteiros das entrevistas foram construídos tendo por base a fundamentação teórica e contemplam elementos que permitiram a revisão e a interpretação das categorias de análise apresentadas. Os roteiros de entrevistas, que podem ser visualizados nos anexos 1 e 2 deste trabalho: foram realizados em duas modalidades:

 Roteiro de entrevistas ampliado: aplicado nas organizações estaduais e

municipais responsáveis pela administração pública da cultura, contemplando aspectos como a experiência do representante na área (no intuito de confirmar o critério de escolha do entrevistado), características da organização e da relação desta com outros atores e sobre a relação entre cultura e desenvolvimento

 Roteiro de entrevistas resumido: aplicado nos demais representantes de

organizações complementares ao processo de coleta de dados, contemplando aspectos como a experiência do representante na área (no intuito de confirmar o critério de escolha do entrevistado), sobre a relação entre cultura e desenvolvimento, e a respeito da relação desta com as organizações estaduais, municipais.

.A escolha do número mínimo de entrevistados foi definida conforme a matriz anteriormente apresentada. Mesmo assim, ao longo do processo de entrevistas o critério de saturação das respostas proposto por Gaskell (2002) foi contemplado, tendo em vista o volume, a qualidade e a repetição de dados coletados. Pois, de acordo com Gaskell (2002), se a avaliação do fenômeno é corroborada, isto é um sinal de que é tempo de encerrar as entrevistas, pois sua continuidade não melhora necessariamente a qualidade ou leva a uma compreensão mais detalhada do fato.

2.4.3 Pesquisa bibliográfica e documental

Segundo May (2004) os documentos possuem o potencial de informar e estruturar as decisões tomadas pelas pessoas, podendo ser lidos como a sedimentação das práticas sociais.

O autor afirma que eles podem representar aspirações e interesses, além de descrever relações sociais e lugares dos momentos históricos aos quais se referem.

Os documentos, segundo May (2004) também permitem ver questões novas que podem remeter o pesquisador a uma interrogação de aspectos do passado que estavam ocultos. Segundo o autor, são fontes de pesquisa documental: leis, relatórios, registros governamentais, debates, discursos políticos. Assim, ao longo do processo de pesquisa bibliografia foram consultados os seguintes livros e revistas:

- Livros que registram os seminários de políticas públicas do estado do Rio de Janeiro; - Livros editados pelo IPEA, IBGE, MINC e Casa Rui Barbosa

- Livros editados pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro

- Revistas que mantém o registro das políticas culturais passadas, como a Revista Brasil, por exemplo.

Além disso, foram coletados os seguintes tipos de documentos:

 Organograma da Secretaria de Estado de Cultura  Legislação estadual

 Editais de apoio, de incentivos e de premiações  Licitações

 Relatório de Atividades do PADEC  Plano Plurianual

 Relatório das Ações Finalísticas para prestação de contas junto ao Tribunal de

Contas do Estado

 Diagnóstico dos Equipamentos Culturais do Estado do Rio de Janeiro  Documento memória do estado do Rio de Janeiro- história administrativa  Cartilha Pontos de Cultura

 Caracterização dos projetos da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de

Janeiro

 Relatórios das Conferências Municipais de Cultura  Questionário aplicado pelo MINC nos Municípios  Legislação municipal

 Relatórios das Conferências Inter-regionais

 Atas e transcrições das Audiências Públicas e Seções da Comissão de Cultura

ALERJ

Por fim, foram utilizadas as estatísticas oficiais do IPEA e do IBGE como elementos complementares para caracterização do campo e para a definição de alguns critérios classificatórios necessários ao longo da pesquisa, como já foi apresentado anteriormente. O termo estatísticas oficiais, de acordo com May (2004), refere-se aos dados coletados pelo Estado e suas agências, formuladas pelas ações de indivíduos em situações organizacionais e pelas políticas governamentais, que permitem compreender a dinâmica da sociedade e embasar a tomada de decisão dos gestores públicos e privados. O autor esclarece que tanto a produção como a análise secundária desses dados são problemáticas e limitadas não devendo sua aplicação se dar de forma acrítica, sem levar em conta sua precisão e seu potencial para a manipulação política. Nesse sentido, o uso desses dados na tese foi restrito às questões ligadas a levantamentos elementares sobre os municípios e dados básicos sobre indicadores culturais. Por fim, cabe salientar que para May (2004), os documentos fazem parte de um contexto político e social mais amplo, sendo necessário analisar os fatores que caracterizam seu contexto social e seu processo de sua produção. De acordo com o autor os documentos interessar ao pesquisador pelo seu conteúdo e também pelo que deixam de fora, uma vez que os documentos não são neutros, sendo assim importante a suspeita por parte do pesquisador ao longo do processo de busca pelos significados. A partir dessa perspectiva alguns cuidados foram tomadas ao longo da coleta, conforme o resgate de May (2004) ao trabalho de Scott (1990), que propôs alguns critérios para avaliar a qualidade dos documentos como: (a) autenticidade; (b) credibilidade; (c) representatividade; e, (d) significado. A própria inserção do pesquisador no campo foi central para a utilização desses critérios.