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CAPÍTULO II. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E TRABALHO DE

5. O campo de investigação

O Projeto de Assentamento Tarumã-Mirim situa-se no município de Manaus, na gleba Cuieiras/Tarumã, tendo sido criado por meio da Resolução No 184/92 em 10/08/92 (INCRA- AM, 1999).

O Assentamento está localizado paralelamente à BR-174, que liga Manaus a Boa Vista, entre a margem oeste do Igarapé Tarumã-Açu e a leste do Igarapé Tarumã-Mirim, afluentes da margem esquerda do Rio Negro, limitando-se ao norte com as áreas do Distrito Agropecuário da SUFRAMA - Superintendência da Zona Franca de Manaus e a Reserva Biológica do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. O acesso fluvial dá-se através do Rio Negro, Igarapés Tarumã-Açu e Tarumã-Mirim e o acesso rodoviário, através do Ramal Pau Rosa situado no quilômetro 21 da Rodovia BR-174. A entrada de acesso ao Assentamento localiza-se no km 08 da Rodovia e 10 quilômetros distante da área urbana de

Manaus. Após a entrada, percorre-se aproximadamente 06 quilômetros até o Ramal do Pau Rosa onde se inicia o limite de jurisdição do Assentamento.

A área do assentamento é de 42.910,76 hectares, com um perímetro de 110,63 quilômetros abrangendo 1.042 parcelas com tamanho médio de 25 hectares para cada parceleiro, destinados à agricultura familiar e 7088,62 hectares de reservas florestais coletivas (INCRA-AM, 1999).

Segundo o RADAMBRASIL (1978), a cobertura vegetal predominante é caracterizada como floresta tropical densa, contendo ainda formações de floresta tropical aberta, floresta aluvial periodicamente inundada (igapó), campinarana e áreas de tensões ecológicas, com outras formações edáficas e área de tensão ecológica com áreas antrópicas, constituída de cultivos agrícolas, pecuária e vegetação secundária. Pela classificação do IBGE a área é constituída por floresta ombrófila densa, contato campinarana/ floresta ombrófila densa (formado pelo paleoleito do rio Cuieiras) e vegetação secundária.

O Assentamento Tarumã-Mirim está situado em quase sua totalidade dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da margem esquerda do Rio Negro, Setor Tarumã-Açu – Tarumã-Mirim, e sua porção noroeste faz parte do Parque Estadual do Rio Negro. Estas unidades de conservação de âmbito estadual foram criadas em 1995 com o intuito de preservar duas importantes bacias hidrográficas (Tarumã-Mirim e Tarumã-Açu) para o turismo ecológico e para assegurar a qualidade da água consumida em Manaus.

Apesar da relevância ecológica dessa área interfluvial, as atividades antrópicas no assentamento são bastante predatórias, sendo a queima da madeira para produção de carvão uma das principais atividades. O desmatamento é realizado intensivamente inclusive nas áreas de encosta e matas ciliares e comumente nas áreas desmatadas não há atividades agrícolas.

Até 1998, haviam sido ocupadas 856 parcelas nas quais residiam 2563 habitantes. Em julho de 2003, foram registradas 944 parcelas ocupadas. Aproximadamente 70% dos assentados são amazonenses, sendo também expressivo o número dos provenientes dos estados do Maranhão, Acre, Pará e Ceará (INCRA-AM, 1999).

A taxa de evasão é extremamente alta e aproximadamente 50% dos lotes já foram abandonados, sendo que estes são rapidamente ocupados por outras famílias. Há repasse de lotes para pessoas que não se enquadram enquanto público de reforma agrária devido à especulação imobiliária pela proximidade do assentamento com Manaus.

Mais de 50% dos lotes estão com títulos emitidos e os lotes restantes estão em processo de legalização no INCRA-AM. Apesar do bom estado da rodovia federal, BR-174, os ramais internos, que totalizam 81 km, são precários, principalmente na estação chuvosa,

dificultando o escoamento da produção e a circulação do ônibus na área. Apenas o Ramal do Pau Rosa foi contemplado com pavimentação, iniciada em setembro de 2008 e concluída em junho de 2009.

A fonte de renda de aproximadamente 921 famílias de agricultores provém principalmente da venda da produção agrícola e de carvão, além do trabalho diário em serviços agrícolas e extrativistas, da aposentadoria de alguns dos ocupantes e ainda da exploração de pequenos estabelecimentos comerciais.

No entanto, a proximidade entre o Assentamento e a cidade de Manaus, favorece a ocupação dos lotes por pessoas que os usam para atividades de fim de semana deturpando assim a utilização das terras que deveriam ser destinadas à produção de pequenos proprietários.

No Assentamento há três núcleos urbanos mais organizados com serviços comunitários como igrejas, escolas e postos médicos, mas não há água encanada em todas as casas. Os dejetos líquidos são despejados em locais inadequados pela maioria dos moradores que não possuem fossa séptica e a rede de energia elétrica está em processo de implantação através do Programa Luz Para Todos do Governo Federal. Esses núcleos se organizam no formato das agrovilas, comuns em grande parte dos assentamentos no país.

A grande incidência de malária, leishmaniose, diarréia, verminoses, gripe e picadas de animais peçonhentos são maior do que a capacidade de atendimento do único posto de saúde do Assentamento, situado no Ramal do Pau Rosa. Sete escolas municipais de ensino fundamental funcionam no Assentamento e o ensino médio está em processo de implantação desde outubro de 2008 em sistema modular, uma vez que os professores são provenientes de Manaus.

A organização comunitária dá-se através das associações representantes das diversas comunidades que residem no Assentamento e de um conselho comunitário criado em 1999, que agrega todas elas. A comunidade mais antiga foi criada em 1991, mas a maioria foi criada recentemente e são ainda inexperientes na busca da melhoria das condições de vida de seus moradores. Entretanto, alguns projetos já foram idealizados como o projeto de piscicultura de igarapé desenvolvido em conjunto com o INCRA/IDAM/INPA e o plano de manejo comunitário, desenvolvido em conjunto com a Universidade Estadual do Amazonas (UEA).

O IDAM destina assistência técnica aos assentados em um trabalho conjunto com os técnicos do INCRA, responsáveis pelo assentamento. A SEPROR (Secretaria de Estado de Produção Rural) disponibilizou, em 2007, um caminhão para escoamento da produção para a Feira do Produtor na Grande Circular, zona leste de Manaus.

A queima de madeira para produção de carvão é uma das principais fontes de renda do assentamento. O carvão produzido na área é vendido para atravessadores a preços até 400 % mais baixos do valor comercializado em Manaus e os trabalhadores desta atividade apresentam constantes problemas de saúde. As atividades agrícolas, limitadas pela falta de assistência técnica regular e pela baixa fertilidade do solo, são as roças com culturas anuais, o pomar caseiro, a criação de galinha caipira e pequeno plantel de gado e pequenas hortas.

Nas roças, em média de dois hectares, cultivam-se mandioca e pouco milho, feijão e arroz, apesar do IDAM distribuir sementes dessas culturas. A produção média de farinha de mandioca no assentamento é de 18 toneladas por ano (INCRA-AM, 1999). Nos pomares caseiros, as principais frutas são cupuaçu, coco, banana, graviola, caju, abacaxi, mamão e manga.

Próximo aos pomares caseiros é bastante comum a presença de hortas suspensas, denominadas jiraus, onde com adubo orgânico planta-se principalmente cebolinha, pimentas, chicória, couve e alfavaca. Aves são criadas soltas com média de 60 animais por família. Poucos produtores criam gado, sendo que a média é de cinco cabeças por criador. Somente no Ramal do Pau Rosa a criação de gado é mais intensa, com pastagem extensiva. Quanto à piscicultura, apenas um produtor tem produção regular de peixes em tanques controlados.

O sistema de extrativismo no assentamento é baseado na coleta de frutos das palmeiras açaí, bacaba, patauá, buriti e tucumã, na exploração madeireira. A exploração madeireira é realizada tanto para o consumo interno como para a comercialização de toras, vendidas para madeireiras,e realizada geralmente sem licenciamento do IBAMA. O produto da exploração madeireira tem mercado garantido, mas esta atividade, além de depauperar os recursos florestais da comunidade, danifica ainda mais os já precários ramais com o trânsito pesado dos caminhões das madeireiras que compram as toras diretamente nas propriedades.

A caça e a pesca de subsistência são praticadas no assentamento como mecanismo de complementar a alimentação. Todavia, grande parte da pesca e da caça predatória é realizada por caçadores de fora do Assentamento.

Até fevereiro de 1999 haviam sido abertos 81,4 quilômetros de estradas, 13,6 quilômetros de carreadores, 57,7 quilômetros de picadas no mato (caminhos estreitos abertos na vegetação para passagem de pessoas e veículos de pequeno porte como bicicletas e motos), com larguras respectivas de 30m, 5m e 3m, o que provocou um desmatamento direto de 251,5 hectares e a morte de 35 nascentes, 55 pontos de assoreamento e o represamento de igarapés em 15 pontos (INCRA-AM/LUMIAR, 1999).

Grande parte da floresta da área foi explorada por madeireiras no início do assentamento, assim que os ramais foram construídos, antes mesmo da chegada das famílias. O corte seletivo, ou corte apenas de algumas árvores pré-selecionadas de uma área, ainda é atividade comum nas propriedades. Há cinco reservas florestais descontínuas totalizando 7.088,62 hectares, 16,6% da área (INCRA-AM, 1999).