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O capital humano e os diferenciais regionais de salário

1.2. Determinantes dos diferenciais regionais de salário

1.2.1. O capital humano e os diferenciais regionais de salário

Os estudos do capital humano, iniciados há mais de três décadas, mostraram empiricamente que há ganhos nos rendimentos dos indivíduos quando há investimento em educação e treinamento por parte dos trabalhadores, mesmo levando-se em conta os custos desses investimentos. BECKER (1964) propõe em sua análise que a educação formal e o treinamento elevam a renda e a produtividade por promover avanços no conhecimento técnico-científico. Todos os países que vivenciaram crescimentos contínuos da renda também passaram por um crescimento do nível de educação e treinamento de sua força de trabalho. Além di

mas tam

e seus rendimentos. A equação proposta pelo autor é

ência forma uma parábola, com um

colaridade e experiência da força de trabalho, entre outros

bém os efeitos do treinamento efetuado no trabalho (on-the-job training). Segundo o autor, a importância de se considerar a experiência e o treinamento deve-se ao fato de que, em geral, os indivíduos continuam a desenvolver suas habilidades após o término da educação formal, o que gera impactos sobr

a seguinte:

i i i

i

i b b Educação b Experiência b Experiência u

LnW = 0 + 1 + 2 + 3 2 +

Devido às observações empíricas de que os rendimentos variam de forma não linear com a experiência3 adquirida, incluiu-se na equação de rendimentos um termo quadrático para a experiência. Assim, a relação entre rendimentos e experi

pico em determinada fase da vida.

Segundo alguns teóricos desta corrente, as diferenças na distribuição de capital humano explicariam não apenas as diferenças salariais entre as pessoas, mas seriam também o fator central na determinação dos desníveis salariais entre as regiões. Assim, diferenças regionais nos níveis de es

fatores diretamente relacionados à qualificação profissional, explicariam a quase totalidade dos diferenciais de renda entre as regiões. Portanto, nesta concepção, o espaço não seria diretamente responsável pelos diferenciais de salário.

Formalizando este argumento, assume-se que o salário de um trabalhador i é dado por wi = Asi, onde si corresponde aos atributos pessoais produtivos e A, a produtividade

do trabalho, independeria de fatores locais. Assim, a renda média de uma região (a) seria o produto da qualificação média de sua força de trabalho ( s ) vezes a produtividade do trabalho: wa = Asa (COMBES et al., 2003a).

Nesta linha, PESSÔA (2001) argumenta que o que explica a pobreza de uma região é o fato desta ser habitada por indivíduos que apresentam características pessoais que se correlacionam com a baixa renda. O autor defende esta idéia afirmando que o problema regional deve ser combatido com políticas focadas no indivíduo e não na região. Assim, as políticas públicas deveriam estimular, por exemplo, a qualificação da força de trabalho, não devendo haver estímulos diretos ao setor produtivo. A hipótese do autor é que com o

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Com a freqüente ausência de dados referentes ao nível de investimento em treinamento no trabalho ou sobre o tempo de experiência no mercado de trabalho, MINCER (1974) propõe uma medida de experiência calculada pela idade do indivíduo menos os anos de estudo menos 6.

aprimoramento do capital humano local, além de investimentos em infra-estrutura, a região tornar-se-ia mais atrativa aos investimentos industriais. O autor afirma, ainda, que as migrações atuam no sentido de eliminar os diferenciais regionais de renda per capita4.

ado, de que a persistência ou o aprofundamento das desigualdades econôm

BES et al. (2003a) afirmam que dada a mobilidade da força de trabalho, a composição local desta dependeria não apenas dos investimentos locais em educação, mas também da estrutu

distribuem homog

específicas. Assim, espera-se encontrar maiores salários médios em regiões especializadas em trab

No entanto, a fragilidade deste argumento se deve ao fato de que o investimento em capital humano em uma região deprimida, apesar de importante e com a possível geração de externalidades beneficiando a economia local, por si só não assegura a permanência dos indivíduos nessas regiões. Assim, em meio a condições econômicas locais desfavoráveis, a migração, como um fenômeno freqüentemente seletivo5, poderia privar a região de boa parte de sua população mais jovem e/ou qualificada.

Corroborando esse aspecto, KANBUR e RAPOPORT (2005) destacam o fato, empiricamente observ

icas espaciais no longo prazo pode coexistir com a migração de trabalhadores de regiões mais atrasadas para as regiões mais ricas. Desta forma, os autores afirmam estarem envolvidas neste processo forças de convergência e de divergência resultantes do processo migratório. Os autores consideram a seletividade existente no processo migratório como um fator central nesta análise, pois esta poderia gerar efeitos divergentes entre as regiões de origem e destino.

COM

ra produtiva da região. Isso ocorre, pois as atividades produtivas não se eneamente no espaço e demandam força de trabalho com qualificações

alhos mais qualificados. Somando-se a isso, como afirmam COMMANDER et al. (2003:23):

“In particular, very small economies may just not be able to generate the density of demand necessary to make the application of high levels of skill

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Os modelos neoclássicos sobre a migração da força de trabalho sugerem que a migração é induzida, primordialmente, por diferenciais de salários entre as localidades e irão, ceteris paribus, afetar os salários no sentido de reduzir esses diferenciais. Isso ocorreria, pois a escassez relativa de força de trabalho na região de maiores salários seria compensada pela migração.

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O migrante, em geral, não é similar ao indivíduo médio que permanece no local de origem, pois determinados indivíduos apresentam maior propensão a migrar que a média da população. Sabe-se que a idade média dos migrantes é inferior à do restante da população, indicando que a população adulta jovem tem maior probabilidade de migrar. Além disso, fatores como renda e escolaridade também influenciam na mobilidade dos indivíduos, sendo que as pessoas com maiores renda e escolaridade apresentariam maior mobilidade. Isso ocorre, pois esses indivíduos absorvem melhor os custos da migração, além de participar de um mercado de trabalho mais amplo que os demais (GOLGHER, 2004).

profitable. However, there are, equally clearly, differences between sectors in the extent of, and incentives for agglomeration.”

BORJAS et al. (1992), ao analisar os diferenciais regionais de remuneração à qualific

dia para suas habilidades específicas. O autor afirma que o que determina os dif

umento, afirma que o nível médio de capital human

s com características individuais semelhantes tendem

das. O autor estima os salários tanto em função das características dos indivíduos, quanto em função de

ação do trabalho, levanta a hipótese de que regiões que remuneram melhor o trabalho qualificado tendem a atrair maior número de trabalhadores qualificados do que as demais. Segundo o autor a magnitude e a composição dos fluxos migratórios que se dirigem às regiões são fortemente determinadas por esses diferenciais de rendimento. Assim, os trabalhadores tenderiam a migrar para regiões que apresentam maior remuneração mé

erenciais de remuneração para os diversos níveis de qualificação são, primordialmente, as características físicas e a estrutura econômica das regiões, como as dotações de recursos naturais e de capital físico.

No entanto, diversos trabalhos empíricos apontam a existência de significativas externalidades decorrentes do capital humano. Segundo BECKER (1964), devido à ocorrência destas externalidades, os ganhos sociais da educação superam os ganhos privados. Assim, os ganhos salariais privados advindos do investimento em educação seriam inferiores aos ganhos econômicos totais advindos da geração e transmissão do conhecimento.

RAUCH (1993), reforçando este arg

o de uma localidade constitui um bem público, isto é, os indivíduos não se apropriam de todos os benefícios advindos da aquisição de capital humano. Assim, cidades com níveis médios de capital humano mais elevados, devido às externalidades positivas, deveriam apresentar maiores salários e renda fundiária, refletindo maior produtividade dos fatores. Segundo o autor, o fundamento microeconômico das externalidades geradas pelo acúmulo de capital humano é o compartilhamento de conhecimentos e habilidades entre os trabalhadores, que pode ocorrer tanto por meio de interações formais quanto informais. Assim, com níveis médios de capital humano mais elevados em uma localidade, haveria uma difusão mais rápida do conhecimento.

RAUCH (1993) afirma, ainda, que a existência de externalidades geradas pelo capital humano faz com que trabalhadore

a receber maiores salários em regiões mais ricas neste fator. Isso estaria relacionado aos saldos migratórios positivos apresentados pelas regiões mais desenvolvidas, com a atração de trabalhadores das regiões mais atrasa

características do centro urbano, em particular o nível médio de capital humano. Como ação e experiência édias da população. Os resultados encontrados apontaram no sentido de confirmar o papel d

essas d

rimeira explicação, em geral valorizada por geógrafos e economistas teóricos do crescimento, refere-se às diferenças intrínsecas às regiões. Estas diferenças abrangeriam tanto a geografia física das regiões, incluindo as diferenças na dotação de recursos naturais, no clima e na localização geográfica, quanto as

diferen e na oferta de infra-

estrutu

cais. Em termos de política

proxy do nível médio de capital humano, utiliza indicadores de educ

m

o capital humano como um bem público, com a educação média apresentando efeitos mais relevantes que a experiência.

Assim, apesar de inconsistências no argumento de que os diferenciais regionais de salário são função apenas de diferenciais de composição da força de trabalho entre as regiões, existem evidências de externalidades geradas pela educação.