• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: NEOLIBERALISMO E EDUCAÇÃO NO BRASIL EM TEMPOS DE

2.1.3 O cenário das políticas neoliberais na América Latina e no Brasil

Na América Latina18 aconteceu a primeira experiência neoliberal no Chile com a ditadura de Pinochet na década de 70. Depois veio a Bolívia em 1985. Nos anos 90, a políticas neoliberais foram adotadas por Menem na Argentina, Perez na Venezuela e Fujimori no Peru. Salama (2000) apresenta duas conseqüências drásticas das políticas neoliberais na América Latina. A primeira é a ampliação das diferenças sociais. A segunda refere-se à quebra do aparato industrial. As saídas parecem estar na recriação de construtos éticos que se contraponham ao regime político neoliberal.

As revoluções burguesas que aconteceram na América Latina no séc. XX tinham como meta e objetivo o fortalecimento do capitalismo como doutrina econômica e não a democracia. Este capitalismo possui um rosto típico, autoritário, resquício histórico do passado colonialista.

18

A implantação das políticas neoliberal na América Latina se confunde com os regimes ditatoriais que se manifestavam sob a forma de autoritarismo político e concentração do poder executivo nas mãos de um absolutista.

87

Na América Latina, principalmente, no Brasil as classes dominantes e as políticas burocrático-autoritárias dos governos militares dos anos 60, mantinham um discurso de nacionalização patriótica de caráter desenvolvimentista. Hoje, a palavra de ordem tornou-se privatização. A diferença básica, por exemplo, entre Brasil e Argentina é que o primeiro se consolida como potência industrial, já o segundo a partir dos anos 90 com o governo de Carlos Menem abraça, literalmente, a ortodoxia neoliberal.

Os ajustes neoliberais praticados a partir da democracia minimalista19 foram: a implantação de capitalismos neoliberais, sociedades fragmentárias, marginalização das massas, ruptura do tecido social, desagregação dos mecanismos de integração, capitulação da soberania nacional e a degradação da política. Este neoliberalismo assumido tem conseqüências visíveis que representam a acumulação de contradições e antagonismos da sociedade, bem como, a ingovernabilidade do regime democrático neoliberal que deslegitima o Estado a partir de uma efetivação processual, metodológica e pedagógica de desestatização. Assim, temos como realidade o...

(...) aumento da violência e da criminalidade, decomposição social, anomia, crise e fragmentação dos partidos políticos, a prepotência burocrática do Executivo, capitulação do Congresso, passividade da Justiça, corrupção do aparato estatal e da sociedade civil, ineficácia do Estado, isolamento da classe política, impunidade para criminosos grandes e mão-dura para os pequenos delinqüentes e, por fim, ressentimento e frustração das massas. (BÓRON, 2000: 110).

Dentre os países latino-americanos, o Brasil foi o último, isso no início dos anos 90, a adotar o receituário neoliberal. De fato, o Brasil, devido a sua significante dívida externa, capitulou e se sujeitou às políticas de liberalização financeira e comercial e de desregulamentação cambial, sendo o principal objetivo a atração de recursos externos. Desta forma, a sua inserção no novo quadro financeiro se dá de forma subordinada.

A formação histórico-social brasileira, considerando particularmente o período republicano, é extremamente singular e, nesse sentido, pode-se afirmar que o desenvolvimento e a exclusão caminham lado a lado no Brasil. Para se compreender melhor a relação existente entre

19

desenvolvimento e exclusão nas décadas de 80 e 90 no Brasil, cumpre salientar que historicamente na sociedade brasileira, com exceção de breves e esporádicos momentos, as políticas de desenvolvimento adotadas implicaram numa enorme dependência face ao capital estrangeiro. Isto fundamentalmente a partir de 1945, período da “redemocratização” do país e marcado pelo contexto da Guerra-Fria. Com exceção do período do governo de Getúlio Vargas (1950-1954) cuja peculiaridade foi a tentativa de fortalecer o desenvolvimento nacional com a criação de empresas como a Petrobrás e a Siderúrgica Nacional observa-se que a partir de 1955 até o golpe militar de 1964, ressalvando o breve governo de João Goulart, anos 1962-1964, houve um atrelamento muito intenso ao capital estrangeiro e o desenvolvimentismo configurou-se enquanto dependente de um modelo internacional.

O resultado desse modelo implementado ao longo dos anos 70 e 80 pelos governos militares, no que concerne as políticas de desenvolvimento para a Amazônia foi, em linhas gerais, um aumento considerável dos problemas sociais. Neste sentido, em conseqüência dos intensos fluxos migratórios, várias cidades daquela região apresentam problemas nas áreas de educação e saúde e uma inadequada infra-estrutura urbana, ou seja, os sistemas de tratamento de água, esgoto e coleta de lixo atendem apenas a uma parcela da população.

A partir de 1984, fim da ditadura militar até os dias atuais, os sucessivos governos civis, de José Sarney (1985-1989) a Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) tiveram, embora com algumas diferenças, a marca emblemática da política neoliberal. Na verdade, a implementação do receituário neoliberal no país intensifica-se no começo da década de 90 com o governo de Fernando Collor e se consagra hegemonicamente a partir do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Em outras palavras, tais governos adotaram no Brasil a terapia liberal conservadora que consiste nas seguintes medidas, entre outras: privatizar, desregular, abrir a economia, cortar o gasto público, etc.

A cultura brasileira é carregada de características comunitárias e familiares o que demonstra duas faces: a face pública e a face privada.

Na face pública da sociedade, o ethos comunitário impede a explicitação das diferenças, que são tomadas como imorais ou ilegítimas. É isso, por exemplo, que fazem as ideologias, ou os aspectos das ideologias, ligados às idéias de conciliação ou de compromisso. E é isso também que pode ser ilustrado através das permanentes referências a categorias abrangentes do tipo povo,

89

nação, etc, sempre usados como um elemento de homogeneização social. Na face privada, as lealdades e identificações são pensadas e praticadas segundo uma fórmula que se poderia sintetizar como amigo/inimigo, a qual carrego a idéia de que as práticas sociais se constituem, ao fim e ao cabo, num jogo de soma zero, em que quando um ganha o outro tem que perder. (MAIDANIK, 2000: 134-135).

Na cultura brasileira formou-se um sistema integrado de lealdade entre as camadas dominantes da oligarquia. E, além do mais, passou-se de um ethos comunitário/familístico para um ethos pluralista a partir de um processo selvagem de individualização promovido pelo capitalismo. O liberalismo brasileiro traz em si simbolismos de um autoritarismo ditatorial.