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O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS)

No documento liviamendesvianamorais (páginas 103-111)

CAPÍTULO III – A EXPERIÊNCIA DOS SUJEITOS: OS USUÁRIOS DA

3.1 O Centro de Referência em Assistência Social (CRAS)

Os CRASs constituem a porta de entrada da Política de Assistência Social. Segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004:33/34) são unidades de base territorial que devem se situar em áreas de vulnerabilidade social e executar os serviços da proteção social básica, organizar e coordenar a rede de serviços socioassistenciais municipais. Os objetivos da proteção social básica são “prevenir situação de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários”, e prevê que sejam desenvolvidos “serviços, programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada” (Idem).

No município de Juiz de Fora, como relatado no capítulo anterior, a maior parte da política de assistência social é desenvolvida pela Associação Municipal de Apoio

Comunitário (AMAC). Seguindo as informações disponibilizadas no site33 da instituição “os serviços sociais prestados pela AMAC acontecem por meio de convênios com a Prefeitura de Juiz de Fora, por intermédio da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) e Secretaria de Educação. A instituição também desenvolve serviços em parceria com a iniciativa privada. Atualmente, executa atendimento a mais de 12 mil pessoas por mês”. Em relação a natureza jurídica da instituição, consta no site que “trata-se de uma associação civil de fins beneficentes e não lucrativos, com personalidade jurídica distinta e Estatuto próprio aprovado em Assembleia Geral” e sua missão é “proteger e promover o cidadão pela execução da política de Assistência Social, articulando os setores público e privado com controle social”. Abaixo estão relacionados a rede de serviços executados pela instituição.

Fonte: http://www.amac.org.br/images/stories/imagens/rede_servicos.jpg, acessado em

05/07/2014

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Os serviços prestados34 pela AMAC são divididos entre a atenção a infância e adolescência; ao idoso; e ao adulto que, como indicamos no capítulo anterior, não efetiva a lógica de proteção social do SUAS, ou seja, os serviços não são orientados pelas suas particularidades e necessidades sociais e sim pelo corte etário e de gênero.

Em relação a criança e ao adolescente os serviços ofertados e parceiros são: banco de leite, creches municipais, Curumins, Casa do Pequeno Artista, Associação Atlética do Banco do Brasil (ABB Comunidade), Agente do Amanhã, Casa do Pequeno Jardineiro, Casa da Menina Artesã, PROMAD, Família Acolhedora, Lar de Laura, Estância Juvenil, Vivendas do Futuro, Serviço de Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, Liberdade Assistida, Prestação de Serviço à Comunidade – PSC, Serviço de abordagem. Os serviços voltados para o idoso são o Centro de Convivência do Idoso e o Centro de Proteção e Defesa de Direitos do Idoso (CEDDI), já para os adultos os serviços disponibilizados são: Novo Passo, Casa da Cidadania, Núcleo do Cidadão de Rua, Serviço de Abordagem, Serviço de Atendimento ao Migrante e o Programa de Atenção à Situações Emergenciais (PASE).

Para nossa pesquisa elencamos os CRAS por constituírem a porta de entrada do sujeito na política de assistência social. A escolha dos centros foi realizada juntamente ao Departamento de Proteção Básica da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) municipal, não foi possível elencar aquelas que possuíam maior índice de vulnerabilidade familiar, apontados pelo Mapa Social organizado pela Secretaria de Vigilância Social no ano de 2012, contudo acreditamos que não houve prejuízos a realização da pesquisa.

É importante destacar, a nossa incorporação crítica da categoria vulnerabilidade social. Entendemos que o termo vulnerabilidade descontextualiza a condição de classe dos sujeitos uma vez que o risco é colocado de uma forma pessoal, ou seja, provém de uma situação individual, ou como no caso do Mapa Social, familiar. Segundo Arregui & Wanderley (2009:157/160), a vulnerabilidade entendida como risco pessoal, gera situações preocupantes, entre elas destacam duas. Primeiro, a associação da pobreza com desvantagem, debilidade e risco o que pode “derivar na retomada de estigmas que associavam e associam pobres com classes perigosas, e, portanto, reforçar intervenções repressivas e tutelares”. Em seguida apontam a identificação de recursos dos próprios setores considerados em situação de pobreza e suas estratégias de administração da

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situação vivida, para sair da condição de vulnerável. O problema aqui não desconsidera o protagonismo dos sujeitos enquanto competentes e aptos para fazer escolhas que os provenha melhores condições de vida, a questão é a ausência do Estado em garantir um Sistema de Proteção Social eficaz, que proporcione à população condições de se estruturar para fazer escolhas adequadas, contando com o investimento em políticas sociais de qualidade e gratuitas.

Para Arregui & Wanderley (2009), o problema dessa abordagem consiste na identificação da vulnerabilidade social com a pobreza, desprezando as questões relativas às desigualdades sociais e da distribuição da riqueza, ou seja, o problema central é a tendência a descontextualizar o debate da questão social, como se ela não estivesse vinculada a uma estrutura específica, inerente às relações sociais capitalistas, vigente na sociedade, tendendo a haver a culpabilização do sujeito pela sua situação, individualizando os problemas sociais e legitimando a desresponsabilização do Estado frente as políticas sociais.

No caso do Mapa Social de Juiz de Fora (2012:16), a vulnerabilidade refere-se ao “volume adicional de recursos que ela [a família] requer para satisfazer suas necessidades básicas, em relação ao que seria requerido por uma família padrão” [grifos nossos], ou seja, o risco de não ter acesso a esses recursos aumenta ou diminui pela forma como esta família está composta. A noção de “família padrão” adotada por esse documento não fica clara, contudo, pelos critérios adotados como fatores que aumentam a vulnerabilidade de uma família, observamos que a concebe de forma limitada e irreal. Considera, por exemplo, a presença de crianças, adolescentes e jovens; a presença de criança em idade de amamentação; portadores de deficiência e idosos; além da dependência econômica (referindo-se a situações em que o número de dependentes é maior do que pessoas economicamente ativas); como componentes que aumentam o grau de vulnerabilidade familiar. Dessa forma, consideramos que a dimensão da vulnerabilidade adotada gera uma situação, no mínimo irreal, pois a maioria das famílias possui a presença de uma ou mais das pessoas descritas como um “agregador de vulnerabilidade”, ou seja, todas as famílias poderiam ser caracterizadas como vulneráveis.

Entretanto, a própria Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004) utiliza a vulnerabilidade como critério para definir o público usuário da política de assistência social, neste sentido, elencamos este indicador entendendo que é um conceito utilizado de forma padrão em todos os níveis de intervenção da política.

Abaixo, selecionamos os mapas que representam as áreas de abrangência dos CRASs que nos serviram de referência para realização da pesquisa.

Mapa 2 – Território socioassistencial do CRAS 2.

No documento liviamendesvianamorais (páginas 103-111)

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