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O Centro Educacional de Porto Nacional: a voz dos sujeitos

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O PROJETO SESC LER NO CENTRO EDUCACIONAL DE PORTO NACIONAL – TOCANTINS

3.3 O Centro Educacional de Porto Nacional: a voz dos sujeitos

O número total de alunos matriculados na EJA do Centro Educacional do Projeto SESC LER em Porto Nacional corresponde a 62 alunos, sendo 28 homens e 34 mulheres. A faixa etária varia entre 20 e 70 anos. Entre esses, existem dois alunos que possuem necessidades educacionais especiais (surdez-mudez). Em observação às aulas, pode ser percebido que a interação entre surdos e ouvintes acontece de maneira efetiva, visto que são moradores da comunidade, e, portanto, conhecidos por todos. Embora a grande maioria dos educandos não conheça a Língua Brasileira de Sinas (LIBRAS), conseguem compreender os sinais básicos ou caseiros que tais alunos surdos mudos fazem. No entanto, quando o quesito envolve o aprendizado de conteúdos, pode ser claramente percebida a dificuldade encontrada pelo professor em traduzir o que está ensinando. Para cada turma há um professor regente, e este, não possui curso de Libras, o que acarreta limitação no processo ensino aprendizagem, visto que não conhece sinais que simbolizem certos conteúdos. Há nesse caso uma limitação da própria formação profissional. Na falta de um intérprete, a orientadora e professoras procuraram apoio da APAE da cidade de Porto Nacional no sentido de fazer adaptações curriculares necessárias quanto aos conteúdos, metodologias e avaliação, a fim de promover um melhor atendimento aos alunos. No entanto, sem a formação e atendimento específico não há como fazer inclusão de qualidade. Não há professor de apoio nas salas. A EJA pode possibilitar ao aluno com NEE ampliar seu espaço de aprendizagem, afinal, no convívio escolar eles podem participar de diversas atividades, inclusive, culturais (teatro, coral, artes) que estimulam o desenvolvimento e contribuem para a construção de novos conhecimentos (BINS, 2009).

Compartilhando com o entendimento de autores como Libâneo (2000), Brandão (2001), Veiga (1995), Vasconcellos (1994, 2004), Kramer (1997), que discutem sobre o ensino e sua organização, acredita-se que o espaço da sala de aula, assim como o planejamento pedagógico e curricular precisam considerar os educandos que ali frequentam, as histórias que os compõem, os direitos que podem ter lhes sido negados e os conhecimentos que foram adquiridos ao longo desse tempo. O poema de Chico Buarque, “A bordo do Rui Barbosa”, retrata o que esses jovens e adultos, não escolarizados, enfrentam em uma sociedade em que a leitura e escrita são parâmetros.

A bordo do Rui Barbosa O marinheiro João

Chamou seu colega Cartola E pediu:

Escreve pra mim uma linha Que é pra Conceição Tu é anarfa? disse o amigo E sorriu com simpatia Mas logo depois amoitou Porque era anarfa também Mas chamou Chiquinho Que chamou Batista Que chamou Geraldo Que chamou Tião Que decidiu

Tomou copo de coragem Copo e meio

E foi pedir uma mãozinha Para o capitão

Que apesar de ranzinza É homem bem letrado É homem de cultura E de fina educação Pois não

Assim fez o velhinho Por acaso bem disposto Bem humorado Bem remoçado

Às custas de uma velhinha Que deixara lá no cais E João encabulado Hesitou em ir dizendo Abertamente assim O que ia fechado Bem guardadinho No seu coração Mas ditou...

E o capitão boa gente Copiou com muito jeito Num pedaço de papel "Conceição... No barraco Boa Vista Chegou carta verde Procurando "Conceição" A mulata riu

E riu muito

Porque era a primeira vez Mas logo amoitou Conceição não sabia ler Chamou a vizinha Bastiana E pediu

"Qué dá uma olhada Que eu tô sem ócros Num xergo bem” [...]

Assim como no poema, os sujeitos atendidos no Projeto geralmente apresentam características similares nos seguintes aspectos: possuem uma experiência anterior curta e não sistematizada pela escola, filhos de trabalhadores rurais, vivências sociais e profissionais diversas não qualificadas, geralmente são moradores da circunvizinhança. (OLIVEIRA, 1999) Esses sujeitos sociais foram culturalmente marginalizados e privados do acesso a bens culturais e sociais, assim como também, da cultura letrada. Fatores esses que contribuíram para que sua participação no mundo do trabalho, da política e da cultura fosse restrita.

Durante o período de observação e conversas informais no horário de intervalo, foi lhes perguntado sobre o motivo de terem escolhido o Projeto SESC LER para estudar, visto que a rede municipal também oferta a EJA. As respostas foram diversas, no entanto, as com maior incidência foram: horários de aulas e a “forma como as professora ensinavam”. (Caderno de campo),

No momento, o Projeto SESC LER de Porto Nacional não possui, segundo a orientadora pedagógica, turma de alfabetização, visto que não conseguiram um número suficiente de alunos em virtude da localização do Centro Escolar. Segundo ela, o público analfabeto existente nas proximidades já foi alfabetizado, ou no SESC LER ou nas salas que o município oferta a EJA. Ressaltou ainda que provavelmente no próximo ano terão mais turmas já que nos últimos dois meses tem havido considerável aumento de procura por vagas para o I e II ciclos.

Nas turmas existentes os educandos podem ser caracterizados como os que leem e escrevem com dificuldade, os que apresentam leitura e escrita compreensível, porém, apresentam dificuldade na compreensão da linguagem matemática e há ainda aqueles que precisam avançar para uma produção que ultrapasse o encontrado em escolas tradicionais: memorização, textos cópias, resolução de atividades tradicionais etc.31

3.3.1 Da Proposta Pedagógica do Projeto SESC LER a realidade concreta no Centro Educacional de Porto Nacional – Tocantins

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Para informações adicionais sobre estratégias de leitura, ler “Para Ensinar a Ler”, de Rosaura Soligo, Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/2600312/programa-de-formacao-de-professores-alfabetizadores- coletanea-de-textos> Acesso em 20/10/2011. Emília Ferreiro identificou quatro fases de hipóteses sobre a escrita: Pré-silábica, Silábica, Silábico-alfabética, Alfabética. (FERREIRO, 1985).

Essa pesquisa teve como objetivo analisar como o Centro Educacional do Projeto

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